A participação de estudantes em olimpíadas de conhecimento, sejam de Matemática, Química, História, Língua Portuguesa, Astronomia ou Robótica, pode contribuir de forma positiva para aqueles que vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesta edição, que registrou mais de 5 milhões de candidatos inscritos, as provas serão aplicadas nos dias 3 e 10 de novembro.
Uma pesquisa conduzida pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), organização que se dedica a estudos em educação, divulgada em maio deste ano, mostrou que os alunos de escolas com altas taxas de participação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), por exemplo, têm obtido melhores resultados no Enem.
“Alguns pontos importantes que impactam positivamente no Enem são o desenvolvimento de habilidades cognitivas, pois as olimpíadas estimulam o raciocínio lógico, além da resolução de problemas e do estímulo ao pensamento crítico. Essas competições também trabalham a motivação e a confiança, porque acabam incentivando os estudantes a se dedicarem mais aos estudos”, afirmou o professor de Matemática e coordenador do Ensino Médio do Colégio Saber Viver, Ricardo Berardo.
Lidar com a pressão, o trabalho em equipe e a gestão do tempo são algumas das habilidades que servem não apenas para o Enem, mas para qualquer fase da vida desses estudantes. Para o professor de História da Escola de Aplicação do Recife, vinculada à Universidade de Pernambuco (UPE), Dayvison Freitas, as olimpíadas servem como mais um instrumento pedagógico no qual os alunos assumem, de certa forma, um protagonismo ao longo do processo.
“No caso das olimpíadas de História, especificamente, eles entram em contato com registros que chamamos de ‘fontes históricas’, então eles percebem como funciona o processo de produção historiográfica e quais são os métodos que usamos para analisar as fontes. E nisso, eles acabam desenvolvendo competências durante a realização das olimpíadas, então, além de trabalhar conhecimentos de história, a atuação deles na competição também está focada na compreensão dentro da sociedade”, afirmou o docente em entrevista à coluna Enem e Educação.
“Por exemplo, nas redações, temos relatos de alunos que já participaram de edições anteriores da olimpíada de História, principalmente, onde isso acaba refletindo em uma maior habilidade ao trabalhar certos temas dentro da redação do Enem. Os alunos pegam os textos de apoio e, ao fazerem a interpretação desses textos, conseguem perceber elementos estruturais para fazer a análise e desenvolvimento do tema”, destacou Freitas.
ROTINA DE ESTUDOS
As provas do Enem exigem uma visão mais ampla e interdisciplinar dos conteúdos, diferente do que é exigido nessas competições de conhecimento. No entanto, a participação dos estudantes acaba estimulando-os a conectar os conteúdos de diferentes áreas.
A aluna da Escola de Aplicação do Recife, Maria Luiza, tem 15 anos e ainda não decidiu sobre qual curso pretende fazer, mas sabe que será na área de tecnologia. Neste ano, ela fará o Enem como treineira e acredita que terá certa facilidade devido às experiências vivenciadas nessas competições científicas.
Entre as nove olimpíadas das quais já participou, a jovem conquistou medalhas de prata e bronze na etapa nacional da Obmep, em 2021, e, no mesmo ano, conquistou a prata na Olimpíada Brasileira de Informática (OBI). Maria Luiza também participou, em 2023, da Olimpíada de Matemática da Unicamp, ficando com o bronze nesta competição.
“As olimpíadas são uma oportunidade de ampliar os conhecimentos, e você acaba aprendendo a lidar com problemas maiores e mais difíceis. Isso gera uma certa facilidade quando você vai fazer, por exemplo, uma prova como o Enem, mesmo que as questões tratem de conceitos que não estão em um nível olímpico. E essa preparação ajuda muito porque você acaba se acostumando com o ambiente de prova, com o tempo e com as pressões”, afirmou a aluna.
Cauan Felipe, de 18 anos, está no 3º ano do ensino médio e quer cursar Ciência da Computação. Aluno da Escola de Aplicação do Recife, ele conquistou o bronze na Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB), em 2023, e o bronze na Olimpíada Titãs em Matemática, no mesmo ano.
Com uma rotina de estudos intensa, iniciando os estudos pela manhã e terminando só à noite, Cauan também falou que as competições auxiliam na hora de entender a prioridade das questões a serem respondidas, trabalhando as estratégias.
“Na olimpíada de História, as questões focam no senso crítico e na problematização do que está sendo pedido. O Enem dá muito esse enfoque de usarmos a história para fazer analogias e conseguir problematizar coisas do presente. Já nas olimpíadas de Matemática, as questões são diferentes daquelas que caem no Enem, mas elas ajudam no raciocínio, porque sendo mais complexas que as do exame nacional, nós podemos usufruir desse exercício”, destacou o jovem.
Ele participou e ganhou prata na Olimpíada Pernambucana de Química (OPEQ), o que garantiu a participação na Olimpíada Brasileira de Química (OBQ)
Para Thiago Dias, aluno do Colégio Saber Viver, de 16 anos e com a intenção de cursar Medicina, é importante contar com o incentivo da escola nas competições. “São provas que nos ajudam não só para o Enem, mas também para o SSA (Sistema Seriado de Avaliação). Participar das olimpíadas é benéfico, pois você enfrenta uma prova em um ambiente diferente, com um nível mais alto e várias fases que precisamos superar. Isso contribui para a nossa preparação”, comentou Thiago, que está no 2º ano do ensino médio e fará o Enem este ano como treineiro.
Fonte: JC
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