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Ação aconteceu durante o I Fórum Intermunicipal de Cultura de Paz realizado nesta terça-feira no bairro da Madalena
Bullying, termo anglicano utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo, dentro de uma relação desigual de poder, causando dor e angústia. De acordo com pesquisa realizada pela ONU com 100 mil crianças e jovens de 18 países, no ano de 2017, cerca de metade deles já sofreu deste problema por razões como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem. No Brasil, esse percentual é de 43%. Estudos ainda mais recentes, de 2018, mostram que nosso país tem o segundo maior índice de pais e mães que afirmam ter filhos vítimas de bullying na internet. Apesar dos números preocupantes, algumas instituições de ensino, no Recife, participaram, nesta terça-feira (20), do I Fórum Intermunicipal de Cultura de Paz, apresentando experiências exitosas de prevenção à violência.
O evento, capitaneado pela Secretaria de Educação do Recife, reuniu aproximadamente 500 pessoas durante todo o dia na Escola de Formação de Educadores do Recife Professor Paulo Freire, bairro da Madalena. O objetivo foi promover o diálogo sobre ações e boas práticas que possibilitem uma cultura de paz dentro das comunidades escolares, sobretudo nos Anos Finais (de 6º a 9º anos), quando se intensifica o bullying e outras formas de conflito e violência. Estiveram presentes representantes dos municípios de Abreu e Lima, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda e Paulista, além da Secretaria de Educação do Estado.
Parceiros do Núcleo de Enfrentamento à Violência Escolar (NEVE) expuseram para as redes boas práticas que têm surtido efeito na cidade.Um exemplo foi a escola em tempo integral Dom Bosco, do bairro de Jardim São Paulo, que trabalha com crianças dos 11 a 16 anos. Os representantes da instituição relataram sua bem-sucedida atuação com o projeto Todos Contra o Bullying que prevê o combate à prática e a assistência a vítima e agressores.
Anselma Patrícia e Silva, uma das coordenadoras do projeto, conta que tudo teve início quando foi procurada por alunos que se diziam vítimas de bullying. A partir daí, foram traçadas ações como entrevistas, roda de conversa, debates. A escola, entretanto, sentiu que precisaria de algo mais concreto para combater o problema e que precisaria do apoio de todos: alunos, professores, coordenação, gestão e funcionários. Foi quando surgiu o estatuto, cujo objetivo não era punir, mas prevenir a prática. O material, de aproximadamente 16 páginas, traz informações sobre a prática e os prejuízos que ela pode causar como baixa autoestima, dificuldades com os estudos e depressão. “Queremos formar estudantes saudáveis e que, no futuro, tenham responsabilidade social e uma profissão definida no mercado”, afirma Anselma. O material fica disponível na Ouvidoria sobre o Bullying, também implementada pela escola. Além disso, em todo o início do ano letivo, há uma leitura conjunta dos seus termos nas salas de aula e reuniões de pais e mestres.
A Ouvidoria, composta por oito profissionais, funciona da seguinte forma: todos os alunos têm fichas a sua disposição, que podem preencher caso sintam necessidade de serem ouvidos. Todas as quartas-feiras, profissionais fazem um plantão, durante todo o dia, para fazer esta escuta. A partir dela, vão sendo dados os encaminhamentos: os apontados por praticar o bullying e as supostas vítimas são chamados e orientados a modificar suas atitudes. Durante um mês, os profissionais avaliam a situação. Caso não haja mudanças, os pais são chamados. Se a situação persistir, a ficha do estudante é encaminhada ao Conselho Tutelar e este, caso julgue necessário, encaminha para instâncias maiores. Ainda segundo Anselma, passo a que nunca precisaram chegar. Ela conta que quando o projeto teve início, em 2016, 72% das crianças pesquisadas na escola afirmaram sofrer ou já ter sofrido bullying. Atualmente, este percentual chega, no máximo, a 20%. Além disso, a professora comemora o aumento nos índices de aprovação e no conceito do IDEB. “Não chegávamos nem aos 10 primeiros do ranking e, atualmente, estamos em primeiro lugar, juntamente com outras três escolas da rede. E acredito que isto é, sim, reflexo de todo este trabalho”, afirma.
Desde 2016, a escola também realiza, anualmente, uma caminhada educativa com faixas e carro de som pelas ruas de Jardim São Paulo com todos os alunos da escola, membros da comunidade e familiares. Este ano, a data já está definida: próximo dia 30 de novembro.
Outro exemplo bem exitoso é o da Escola Mundo Esperança, em Sítio dos Pintos, que trabalha com estudantes da educação infantil ao ensino fundamental, crianças e adolescentes dos 4 aos12 anos. Promove três projetos intitulados Gentileza, Identidade e Mais Justiça. O objetivo é que questões raciais, estéticas, características e até deficiências sejam abordados de forma a promover a cultura da valorização da individualidade para reconhecimento dos direitos e do fortalecimento da escola enquanto unidade de integração e engajamento social.
Janaína Pedrosa, coordenadora dos projetos, conta que tudo começou também em 2016, a partir do diagnóstico que tinham de manifestações de violência. Inspirados no falecido poeta carioca Gentileza, mostraram as atitudes do artista que pregava o bom tratamento entre todos. “Por meio de debates, apresentações em vídeo e culturais, dissemos que era isso que queríamos na Escola, essa mudança de atitude. Os alunos foram intitulados multiplicadores de gentileza e demos a eles a responsabilidade de tornar a escola ambiente receptivo, acolhedor. As respostas começaram a vir de forma efetiva pois se colocaram na posição de exemplo. Eles descobriram outras opções que não a reação de forma violenta para resolver conflitos ou manifestar ideias”, conta. Janaína explica que, antes, as interrupções ao recreio por problemas acontecia diariamente. Durante o ano inteiro, em 2018, isto não aconteceu por mais de três vezes.
Em 2017, surgiu o projeto Identidade, com o objetivo de reafirmar a aceitação e sensação de pertencimento e acolhimento dos estudantes. Segundo Janaína, o objetivo era fazer com que o aluno se reconheça, que entenda que faz parte de uma comunidade e, após isso, reconhecer o outro, dentro das suas diferenças e características. “Quando você se descobre, se aceita, fica mais fácil aceitar e reconhecer o outro. Que o direito que tenho de ter minha ideologia é o mesmo do outro. Se preciso ser quem sou, porque não posso permitir que o outro também seja?”, questiona. Para isso, a Escola trabalhou questões como empoderamento por meio de exibição de exemplos entre celebridades e pessoas da comunidade, além de trabalhos em datas específicas como a desta terça, o Dia da Consciência Negra. Investiram, também, na criação de situações como um dia em que todos pudessem ir à escola com um penteado que valorizasse seu cabelo. “A resposta foi muito legal. Quem tinha vergonha começou a pensar que outras pessoas também gostavam das mesmas coisas que elas. E entender que todos têm direito de ser quem são. Assim, as diminuições de conflito deste gênero foram muito grandes”, explica.
Em 2018, a escola implementou o Mais Justiça, em parceria com a ONG Novo Jeito, voltado para os alunos dos dois últimos anos. O objetivo do projeto-piloto foi levar para a sala de aula questão dos direitos e deveres das crianças e adolescentes e temas como Estatuto da Criança e do Adolescente. Foram 10 temas ao longo do ano como bullying, violência conta crianças, abuso, direitos e deveres, além de como funciona a justiça com seus patamares. “Oferecemos discussões, trouxemos os pais e fizemos atividades de reciclagem, criamos horta, pintamos os muros. Toda uma nova dimensão para a inclusão”, afirma.
O I Fórum Intermunicipal de Cultura de Paz ainda contou com depoimentos de seis líderes de turma duas escolas de tempo integral: Nadir Colaço, na Macaxeira, e Escola Nilo Pereira, na Tamarineira, que contaram suas experiências quanto ao trabalho de protagonismo juvenil e trabalho pela cultura de paz.
Alguns alunos do sétimo ano da Escola Pedro Augusto, na Boa Vista, apresentaram vídeos e fizeram apresentações teatrais sobre o tema. “Acredito que seja um tema importante por conta da gravidade do problema. Muitas pessoas julgam quem é mais fora do padrão sem pensar nas consequências futuras que elas podem sofrer como depressão, anorexia, bulimia, afirma Maria Alice Cavalcanti.
Outra estudante da mesma turma, Adrielly Maria, contou uma experiência pessoal. “Aconteceu comigo e doeu muito. Então, acredito que o que não quero que façam comigo, também não faço aos outros. Até porque, quanto mais bullying, menos amigos e mais a pessoa se sente excluída, sem vida social”, concluiu.
Há três leis sobre o assunto: 13.185, de 2015, 13.277, de 2016 e 13.663, de 2018. A primeira especifica o que é bullying e cyberbullying no Brasil. Ela instituiu o programa de combate à intimidação sistemática, mas não prevê punições (cíveis ou criminais) pela sua prática e nem metas e prazos para ser implantada. Já a de 2016 estabeleceu o dia 07 de abril como o Dia Nacional de Combate ao Bullying no país. A lei de 2018 altera a LDB (Lei de Diretrizes de Bases e Educação) para acrescentar em seu artigo 12 que os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência no âmbito das escolas e estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nesses ambientes.
Foto: Brenda Alcantara/Arquivo DP
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