Um programa nacional de combate ao câncer poderia reduzir os custos.
A imunoterapia representa um grande avanço no combate ao câncer. Porém, a disseminação desse tipo de tratamento ainda esbarra em um problema: seu custo.
O assunto foi discutido no debate sobre novidades no tratamento da doença no Fórum A Jornada do Paciente com Câncer, promovido pela Folha de S.Paulo e patrocinado pelo laboratório Bristol-Myers Squibb.
“A terapia tem que focar no paciente como um todo: a doença, o controle de sintomas, efeitos colaterais e manutenção de qualidade de vida. Isso inclui a questão financeira” afirma Riad Younes, diretor do centro de oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Younes participou da terceira mesa do seminário nesta segunda (24), realizada no teatro Unibes Cultural, em São Paulo, ao lado do diretor médico da Bristol, Roger Miyake, e do coordenador de pesquisa médica do A.C Carmargo Cancer Center, Helano Freitas. A mediação foi feita pela jornalista Sabine Righetti.
A imunoterapia é nova no país -as primeiras drogas foram aprovadas pela Anvisa há cinco anos, mas seu uso passou a ser mais comum a partir de 2014. O medicamento age fazendo com que as células de defesa do paciente consigam detectar e combater o tumor.
A vantagem é a menor toxicidade, que aumenta a qualidade de vida do paciente, e maior sucesso no tratamento de tumores já disseminados. Mas os remédios chegam a custar R$ 35 mil reais por mês. As drogas ainda não são acessíveis pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
JUDICIALIZAÇÃO
Para Freitas, para contornar o alto custo do remédio, é necessário criar protocolos específicos para cada tipo de uso, buscando a otimização dos recursos disponíveis.”Na prática o que temos são inúmeros sistemas de saúde diferentes. Um deles acaba fornecendo um medicamento em um Estado, outro não. Como o acesso é muito diferente, o resultado é a judicialização”, afirma.
Para Younes, a prática acaba sendo um ônus desnecessário para todo o sistema público e planos de saúde.
“O juiz vai dar muito medicamento para uma pessoa que não precisa, ela está recebendo algo que não vai ajudar. A sociedade precisa ver o que tem de recursos para beneficiar o maior número de pessoas”, diz. “As pessoas mais vulneráveis não têm advogados.”
“Para obter maior benefício para a maioria dos pacientes, é necessária uma avaliação médica para definir quais deles possuem maior chance de se beneficiar”, diz Freitas.
Os remédios disponíveis hoje no país tratam três tipos de tumores: o câncer de pulmão, melanoma e alguns tipo de câncer de rim.
Nos Estados Unidos e na Europa, a imunoterapia já é usada para pacientes com linfoma não-Hodgkin, tumores de cabeça, pescoço e de bexiga. “Há um potencial gigantesco para essa modalidade de terapia”, diz Miyake.
PROGRAMA NACIONAL
Para ele, a evolução da medicina precisa ser discutida por toda a sociedade. “Tudo precisa ser revisto, desde o financiamento de pesquisas e novas drogas até os modelos de reembolso. Pode parecer utópico, mas já aconteceu com a evolução do tratamento da hepatite C no sistema público”, diz.
Um programa nacional de combate ao câncer poderia reduzir os custos, ampliar a eficácia e acesso aos novos tratamentos, diz Freitas. Como exemplo, ele cita o programa de combate ao HIV.
“Um indivíduo com um vírus é tratado da mesma maneira em todos Estados da federação, de São Paulo ao Ceará. Na oncologia não existe essa uniformidade.”, afirma. “Não vejo muita perspectiva para o acesso a novos tratamentos no curto prazo. A terapia-alvo, por exemplo, demorou muitos anos para ser incorporada ao sistema público, e hoje é feito por conta gotas: em alguns Estados, algumas cidades.”
(Folhapress)
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