Tatuadoras Suliee Pepeer e Bárbara Alt em evento no Recife (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Em sua segunda edição, a convenção de tatuadores ‘Recife Tattoo Arte’ traz a constatação de uma realidade cada vez mais expressiva no mercado. O boom de mulheres tatuadoras. Em 2014, apenas cinco meninas estiveram no evento mostrando seu trabalho. Neste ano, o número quadruplicou e subiu para 20. Lindas e com um portfólio de dar inveja a qualquer marmanjo, as mulheres estão quebrando tabus e mostrando que vieram para ficar.
De cabelos coloridos e olhos pintados, as cariocas do estúdio Le Grand Burlesque dão um show de simpatia e profissionalismo. Com decoração temática digna dos grandes cabarés parisienses, exibem no estande os traços da sua arte. “É uma batalha que não começou agora e não pode terminar. A gente tem que continuar mostrando que somos tão boas ou melhores que os homens, que não há diferença nenhuma dos nossos trabalhos”, pontua Suliee Pepper.
Além de Suliee e Bárbara Alt, o estúdio com referências burlescas e toque feminino conta ainda com mais três tatuadoras fixas e uma aprendiz. Porém, Suliee adianta que o local de trabalho é feito coração de mãe, sempre cabe mais um e sem distinção.
“Ainda temos Scarlath Louyse e costumamos receber amigos tatuadores. A gente não exclui, queremos que eles se sintam tão bem no nosso estúdio como queremos nos sentir bem nos deles”, diz ao citar que ter, em sua maioria, tatuadoras no estúdio foi mera coincidência. “É uma questão de igualdade e não de exclusão. A gente quer que todo mundo se sinta bem”, reforça Bárbara.
A tatuadora paraibana Jade Carneiro foi incentivada a entrar no mundo da tattoo pelo pai já profissional da área. Aos 23 anos, transforma telas vazias – como chamam o local onde irão tatuar o cliente – em verdadeiras obras de arte há cinco anos. Pequenas, singelas ou grandes, Jade confessa não se importar. Ela gosta mesmo é do que faz. E faz com paixão.
“Eu acho importante [o aumento de mulheres no mercado] porque essa é uma profissão onde há mais homens representando os tatuadores. A gente vem percebendo na convenção um número maior de mulheres e isso é muito bom, porque quebra o preconceito que ainda existe. Fora que mostra que as mulheres são capazes de tatuar tão bem quanto os homens”, acrescenta Jade.
Estuadante Kamilla Pedrosa sorri satisfeita com sua nova tatto (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Todo orgulhoso, hoje Sóstenes Lopes divide o ambiente de trabalho com a filha. Primeira tela de Jade, ele lamenta que a figura da mulher como tatuadora ainda seja tão pouco percebida pela sociedade. “A mulher como tatuadora é um hábito antigo. Principalmente nas culturas primitivas. Já na tatuagem elétrica, que começou no século 20, temos mulheres tatuando desde o princípio. Uma pena que a sociedade não perceba o papel importante que elas têm”, conclui ao mencionar a felicidade que sente em incentivar a filha e fazer parte dessa tradição de transmitir a arte de geração para geração.
Com 27 anos, a estudante Kamilla Pedrosa confiou a segunda tattoo em homenagem ao filho de 10 meses nas mãos de Jade. Para Kamilla, tudo se tornou mais especial ao ver essa experiência com uma ligação maternal. “É uma frase bonita, da cantora Céu. A tatuagem teve um significado ainda maior para mim porque acredito que a mulher sente mais essa relação que temos com os filhos. Essa foi a primeira de várias que ainda farei com ela”, confessa.
Responsável pela organização do evento, Henrique Brandão acredita que, realmente, não há diferença de trabalho entre homens e mulheres. Entretanto, deixa escapar que suas colegas tendem a ter um jeitinho especial na hora de lidar com a clientela. “Elas são ótimas profissionais como os homens, não há diferença nenhuma, mas, geralmente, rola delas serem mais carinhosas e mais atenciosas com os clientes. O bom é que elas floreiam o mercado”, brinca.
O auxiliar de tatuadora, Pedro Veras concorda com Henrique. Entusiasta das mulheres no mercado, ele foi a primeira tela de Karine Andrade. O jovem gostou tanto do resultado que continua confiando seu corpo ao talento da tatuadora. “Eu acho ótimo porque as mulheres tem uma pegada excelente para as tatuagens. Elas são delicadíssimas, atenciosas e pacientes. Acho que elas têm tudo para dominar o mercado”, acredita.
O evento, que reúne 200 tatuadores nacionais e internacionais, além de body piercers, teve início neste sábado (3) e segue até a noite do domingo (4). O horário é das 10h às 21h. Os ingressos custam R$ 20, R$ 10 (meia) e R$ 10 + 1kg de alimento não perecível (social).
“Para o tatuador ele vai ver aquele cara que ele é fã, vai ver um grande artista tatuando. Já o visitante tem a oportunidade de ver como é feita uma tatuagem segura com profissionais, além de poder escolher um profissional para tatuá-lo”, encerra Henrique Brandão.
Guinness
Preste a entrar no livro dos recordes como a pessoa com os maiores implantes corporais do mundo – 25 ml –, Freak Urea é o profissionalismo em pessoa. A prova de que ele leva o trabalho tão a sério é que costuma fazer o procedimento primeiro nele antes de realizar nos clientes. “Eu sou autodidata em tudo que eu faço. Antes de fazer no cliente, geralmente, faço em mim para mostrar o resultado”, diz.
Preparação é a palavra que define Urea. Conhecido como o primeiro brasileiro a realizar a técnica de pintura permanente dos olhos (eyeball) nele mesmo, ressalta que levou oito anos estudando antes de fazer. Assim como os cinco anos que levou para, finalmente, colocar os próprios implantes corporais.
“O procedimento é restrito a profissionais da área. Eu só faço em profissionais da área. É algo complicado, eu passei oito anos estudando. Porém, hoje o procedimento já é realizado sem nenhum risco a saúde ou risco de perder a visão”, explica ao citar a técnica do eyeball.
Sobre a conquista de entrar no Guinness Book, ele comenta que é uma satisfação ter o reconhecimento por um procedimento que fez sozinho, nele próprio. “É um sonho realizado. São anos de preparação até você chegar e realizar aquilo, ser convicto naquilo e ter o sucesso”, conclui.
Serviço
Recife Tattoo Arte
Local: Centro de Convenções
Horário: 10h às 21h
Ingressos: R$ 20, R$ 10 (meia) e R$ 10 + 1kg de alimento não perecível (social).
(Do G1 PE)