Após megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, um ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) analisou a situação e apontou uma mudança crucial na forma como as facções criminosas se sustentam. Segundo ele, a principal fonte de renda não é mais o tráfico de drogas, mas sim a exploração econômica dos territórios que controlam.
“Essas facções não sobrevivem mais de maconha e cocaína; elas sobrevivem da exploração do território. Aí você inclui o cigarro paraguaio, o sinal de e internet, o botijão de gás hiperfaturado, a extorsão à padaria, ao açougue e ao vendedor de churrasco”, explicou o ex-capitão.
O modelo de crime, segundo ele, transforma comunidades em áreas de controle paralelo, com facções impondo taxas e administrando serviços. Ele citou o caso de um vendedor de churrasco assassinado por não pagar uma taxa a uma facção.
A operação policial, que envolveu 2,5 mil agentes, resultou em 121 mortos, sendo 117 suspeitos e quatro policiais, de acordo com dados oficiais. Há investigações em andamento sobre possíveis execuções e irregularidades.
O especialista destacou que as barricadas nas favelas servem para delimitar o domínio das facções e controlar a circulação de pessoas. “Só o Bope retira por semana 90 toneladas de barricadas. No Rio de Janeiro são cerca de 5 mil, e cada uma delas estabelece o feudo”, afirmou. Ele ressaltou que, nessas áreas, moradores perdem acesso a serviços básicos.
O ex-capitão do Bope classificou a situação como próxima a um conflito armado não internacional, com o Estado incapaz de exercer soberania em áreas dominadas. “Deixar esses territórios eternamente na mão das facções é ceder soberania. E acreditar que apenas a operação militar resolve é ignorar a complexidade do problema”, avaliou.
Familiares buscam informações sobre desaparecidos no Instituto Médico-Legal (IML), enquanto técnicos do Ministério Público do Rio (MPRJ) realizam perícias independentes. O acesso às imagens das câmeras dos agentes é considerado essencial para a investigação, que apura se parte dos registros foi perdida devido à duração limitada das baterias.
O ex-capitão do Bope reforçou que o foco das facções é ocupar territórios e controlar populações, transformando áreas em “governos” armados.

