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Se, por um lado, é conservador em relação a direitos civis, o eleito defende a refundação do Estado e do modelo econômico do país
Pedro Castillo, 51, presidente eleito do Peru, era conhecido no país até a eleição por dois episódios. O primeiro foi a liderança de uma greve nacional de professores, em 2017, à frente do Conare (Comitê Nacional de Reorientação), principal sindicato de professores rurais do Peru.
Pedro Castillo, 51, presidente eleito do Peru, era conhecido no país até a eleição por dois episódios. O primeiro foi a liderança de uma greve nacional de professores, em 2017, à frente do Conare (Comitê Nacional de Reorientação), principal sindicato de professores rurais do Peru.
Na campanha, Keiko tentou tachar Castillo como o “chavismo no Peru”, mas, apesar dos apoios de Nicolás Maduro –ditador da Venezuela e herdeiro de Chávez– e de Evo Morales –ex-presidente da Bolívia–, o eleito buscou evitar tanto as comparações quanto os acenos de ambos os esquerdistas.
Castillo e seu partido mantêm vínculos com o Movadef, braço político da guerrilha Sendero Luminoso, e muitos de seus membros militam ou militaram pela organização. Tanto o Sendero como o Movadef têm forte atuação no departamento de Cajamarca, onde o novo presidente nasceu.
Se um dos pontos fracos de Keiko são as acusações de corrupção, os de Castillo estão relacionados ao líder de sua legenda, Vladimir Cerrón, condenado por desvio de verbas e criticado pelo elo com o Sendero.
Castillo sempre negou vínculos com os senderistas e sustenta ter feito parte das “rondas campesinas”, grupos paramilitares que ajudaram o Exército peruano a derrotar o Sendero, num conflito que deixou mais de 70 mil mortos entre 1980 e 1993. Mesmo fora da lei, os “ronderos” foram tolerados por todos os governos até hoje porque atendem a necessidades de comunidades distantes do centro do Peru.
Em muitos locais do país, há a presença apenas das “rondas campesinas”, sem que a polícia ou assistentes sociais atuem nas áreas, numa demonstração de falência do Estado peruano. Em algumas regiões, são fortemente armados e confrontam as forças de segurança do Exército.
De discurso com grande apelo a regiões rurais, Castillo diz que os políticos da capital, Lima, não sabem como a vida se desenvolve no interior e recorre com frequência ao período em que, diz ele, recolhia lenha, cozinhava e não parava de trabalhar, salvo nos horários de ir ao colégio ou de dormir.
Essa retórica, porém, é combatida pelos próprios fujimoristas do interior, que ainda são muito numerosos.
Foi apenas com o passar do tempo que o fujimorismo virou um movimento relacionado às grandes cidades. No interior e nas áreas onde o Sendero atuava, Alberto Fujimori era muito admirado, justamente porque, em sua gestão, os senderistas foram derrotados. Na eleição de 1990, ele foi o único candidato a visitar os rincões do país aonde políticos de Lima não iam e, durante seu governo, houve subsídios à população do campo, algo que, hoje, Castillo –e não a filha do autocrata– promete fazer.
A vitória mudará a vida de Castillo, que nunca morou numa cidade grande e ainda vive num povoado, em Chugur, num sítio com uma casa simples de vários cômodos, em que a comida continua a ser feita no fogão a lenha.
Por Folhapress