O Bolsa Família foi associado a quedas expressivas nos casos e mortes por aids entre mulheres no Brasil. Segundo análise publicada na revista Nature Human Behavior, nesta segunda-feira (11/8), o programa social reduziu a incidência da síndrome causada pelo HIV em 47% e a mortalidade associada à ela em 55%.
O efeito foi mais intenso entre mulheres pardas e pretas, de baixa renda e baixa escolaridade. A conclusão vem de um estudo do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), da Espanha, em parceria com instituições dos Estados Unidos e do Brasil.
O que é o HIV e sua diferença para a aids?
- O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um microrganismo que ataca o sistema imunológico. Quando não é tratado, ele pode evoluir para a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), que representa o estágio mais avançado da infecção pelo HIV.
- Embora não exista a cura para a aids, o tratamento antirretroviral pode controlar a infecção, permitindo que pessoas vivendo com HIV tenham uma vida longa e saudável.
- O tratamento correto pode fazer com que o paciente atinja a carga viral indetectável para o HIV, ou seja, tão baixa que não pode ser detectada por testes padrão. Nesse caso, a pessoa também não transmite o vírus.
- O HIV é transmitido principalmente através de fluidos corporais específicos, durante o sexo sem proteção, compartilhamento de seringas e de mãe para filho durante o parto, quando não for bem assistido.
- Beijos, suor, ou qualquer outra forma de contato íntimo, incluindo o sexo feito com preservativo, não transmite o HIV.
- O SUS disponibiliza testes rápidos para o HIV e também o tratamento preventivo com a profilaxia pré-exposição (PrEP), com o uso de um remédio diário. Procure um serviço de saúde e informe-se para saber se você tem indicação para PrEP.
A pesquisa indica que condicionalidades do programa, como cuidados de saúde frequentes e adesão à educação pública, reforçaram o impacto positivo da redução da aids. Mulheres em extrema pobreza, mas com mais anos de estudo, tiveram reduções ainda maiores, chegando a 56% em alguns casos.
“Nossas descobertas mostram que esses programas não apenas reduzem os riscos de HIV e as mortes relacionadas à aids, mas também apoiam o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável. No atual contexto global de aumento das desigualdades e das taxas de pobreza, os programas de transferência de renda têm o potencial de reduzir significativamente a morbidade e a mortalidade por aids, especialmente entre populações com múltiplas vulnerabilidades”, afirma Davide Rasella, pesquisador do ISGlobal e coordenador do estudo.
Combatendo a aids com distribuição de renda
O levantamento avaliou informações de saúde de 2007 a 2015, cobrindo 12,3 milhões de mulheres beneficiárias. Entre as filhas de mulheres beneficiadas, houve queda de 47% na incidência e 55% na mortalidade por aids. Entre as mães, foram reduções de 42% e 43%, respectivamente.
Para chegar aos resultados, a equipe cruzou dados socioeconômicos e de saúde. Essa abordagem permitiu identificar efeitos específicos em subgrupos vulneráveis, frequentemente sub-representados em estudos clínicos.
A pesquisa sugere que políticas integradas de assistência social e saúde podem explicar parte da redução nacional da aids. No total, entre 2007 e 2021, a incidência caiu quase 30% no país e mais de 40% apenas entre as mulheres.
HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida
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A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids
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Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico
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O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas
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O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais
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Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
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A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos
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O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus
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Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus
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O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses
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O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais
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Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV
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É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo
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Prevenção além do tratamento
As condicionalidades do Bolsa Família incluem frequência escolar, exames de rotina e participação em ações de educação em saúde. Atividades sobre prevenção sexual e reprodutiva podem ter desempenhado papel decisivo nos resultados, indicam os pesquisadores.
Além de apoiar o acesso à escola e aos serviços de saúde, o benefício ajuda a melhorar a alimentação e reduzir a insegurança alimentar. Isso fortalece o sistema imunológico e incentiva a busca por tratamento precoce no caso de aparecimento de sintomas.
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