O sistema público de saúde do Reino Unido, o NHS, acaba de apresentar um plano ambicioso com duração de dez anos, visando uma transformação completa. Intitulado “Fit for the Future,” o projeto responde à crise atual do NHS e propõe um novo modelo de cuidado: mais próximo, inteligente e focado na prevenção.
O plano britânico oferece lições importantes para o Brasil, que enfrenta desafios semelhantes, como o envelhecimento da população, a sobrecarga dos hospitais, ineficiências sistêmicas e desigualdade no acesso à saúde.
A estratégia se baseia em três pilares principais. O primeiro é a transição do cuidado hospitalar para a comunidade, criando “Serviços de Saúde de Bairro” com equipes multidisciplinares, centros integrados e atendimento domiciliar. O objetivo é priorizar um cuidado contínuo, personalizado e preventivo.
Em segundo lugar, busca-se a digitalização do NHS, transformando-o no sistema mais acessível digitalmente do mundo. O aplicativo do NHS se tornará a principal plataforma de acesso, permitindo agendamentos, teleconsultas, autogerenciamento e acesso a prontuários unificados.
Por fim, o plano enfatiza a prevenção de doenças através de políticas públicas e inovações tecnológicas, abordando desde hábitos alimentares e tabagismo até genômica populacional e inteligência artificial para prever riscos.
O plano inglês propõe uma descentralização com autonomia para gestores locais e contratos de desempenho, um modelo que poderia fortalecer a colaboração entre os entes federativos no SUS e aprimorar os contratos com operadoras na saúde suplementar. Hospitais passariam a atuar como Organizações Integradas de Saúde, responsáveis pela saúde da população e não apenas pela realização de procedimentos.
A iniciativa também propõe o fortalecimento de orçamentos pessoais e planos individualizados de cuidado, principalmente para pessoas com condições crônicas e complexas. O uso estratégico de tecnologias como IA, wearables, genômica e aplicativos, com foco em prevenção e personalização, também é um ponto central. O plano britânico demonstra ainda um compromisso com dados abertos, comparativos de desempenho, feedback de pacientes e incentivos por qualidade.
O plano britânico convida a repensar a saúde como um motor de desenvolvimento. É fundamental ter uma visão de longo prazo que enfrente os problemas da saúde com coragem, inovação e foco na igualdade. Assim como o NHS passou por uma revolução em 1948 e agora precisa se reinventar, o mesmo se aplica ao SUS e ao sistema de saúde suplementar brasileiro. Diante do envelhecimento da população, da transição epidemiológica e da revolução tecnológica, a reforma se torna essencial.