Uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) aponta que o crime organizado manipulava e financiava movimentos sociais para blindar a Favela do Moinho, no centro de São Paulo, contra a presença de forças policiais.
Lideranças da comunidade foram alvos de uma operação na manhã desta segunda-feira (8/9), deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e as polícias Civil e Militar. Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão.
Protesto na entrada da Favela do Moinho
Jessica Bernardo / Metrópoles
Alessandra Moja, irmã de Leonardo Moja, conhecido como Leo do Moinho
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Leo do Moinho
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Favela do Moinho tem forte presença do PCC e moradores extorquidos ao se mudarem para casas da CDHU
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Ruas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do Moinho
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Lixo em barraco onde vivia acumulador na Favela do Moinho
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Entulhos se acumulam em pontos onde houve descaracterização de casas
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Casa vazia após antigos moradores se mudarem
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Moradores que permanecem no local dividem ruas com casas descaracterizadas. Na imagem, imóvel ainda ocupado tem santuário à frente
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PMs na Favela do Moinho
Valentina Moreira/Metrópoles
Crianças na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
PMs usaram escudo para avançar contra protesto na linha 8-Diamante
Valentina Moreira/Metrópoles
De acordo com a investigação, Alessandra Moja, irmã de Leo do Moinho, apontado como líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) na favela, organizava manifestações públicas por meio da Associação dos Moradores da Favela do Moinho que “blindavam a comunidade de intervenções policiais”. Ela foi presa durante a operação desta segunda.
“O crime organizado mantém em prática a estratégia de blindar o local contra a presença dos órgãos de segurança pública, por meio da manipulação e financiamento de movimentos sociais legítimos, que utilizam estratégias como instigação por criminosos infiltrados no meio dos manifestantes/moradores e registro de incidentes relacionados ao uso da força por parte dos agentes públicos”, dizem os promotores.
O Gaeco também indica que Alessandra auxiliava nas “empreitadas criminosas” do irmão, que foi preso no ano passado. Ela seria responsável pelo grupo que cobrava propina das famílias beneficiadas pelo acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), esquema revelado pelo Metrópoles.
Ameaças e cobranças
Reportagem do Metrópoles mostrou que moradores da Favela do Moinho relataram cobranças de até R$ 100 mil de proprietários de dezenas de casas na região caso aceitassem se mudar para apartamentos da CDHU.
Os moradores estariam sendo coagidos a pagar uma “multa” ou vender, após alguns anos, seus apartamentos, e dividir o valor com os criminosos. Entre os donos dos imóveis, está Leo do Moinho.
O caso virou inquérito na Polícia Civil e também chegou ao conhecimento do Grupo de Combate ao Crime Organizado do MPSP, que já ofereceu seis denúncias por tráfico e organização criminosa contra líderes e outros integrantes do PCC na Favela do Moinho.
Disputa política
O governo federal anunciou, em maio, o financiamento conjunto com o Governo do Estado de São Paulo, um programa de moradias gratuitas para moradores da Favela do Moinho.
O acordo entre as duas gestões prevê a destinação de R$ 250 mil por família em subsídio. O montante virá do governo federal para a compra das casas. Ao todo, serão investidos R$ 220 milhões: R$ 160 milhões por parte do governo federal e R$ 60 milhões pelo estado.
Mesmo com a parceria para transferir as famílias à habitação social, os governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) têm travado uma disputa política em torno da questão da favela.