A resistência bacteriana, um desafio constante nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) hospitalares, ganha um novo aliado. Um protocolo inovador promete acelerar a identificação de bactérias multirresistentes, permitindo decisões clínicas mais rápidas e potencialmente evitando a disseminação de infecções. O método, testado em pacientes de UTI, demonstrou a capacidade de reduzir o tempo de identificação dessas bactérias de 66 horas para aproximadamente 6,5 horas.
O protocolo adapta o teste imunocromatográfico (ICT), usualmente empregado na vigilância da resistência bacteriana em isolados bacterianos, para ser utilizado diretamente em amostras enriquecidas em meio líquido. A técnica inovadora detecta a presença de enzimas produzidas pelas bactérias que inativam a ação de antibióticos, evitando a necessidade de cultivo bacteriano prévio.
O experimento, desenvolvido em colaboração com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), avaliou inicialmente a capacidade do protocolo ICT em identificar enzimas de bactérias capazes de inativar carbapenêmicos, um tipo de antibiótico, diretamente em amostras. Em seguida, o protocolo foi avaliado em uma amostra de 100 pacientes e 178 amostras. Os testes alcançaram 82% de sensibilidade e seus resultados foram publicados na científica “Microbiology Spectrum”.
Segundo um dos coautores do estudo, a técnica possibilita identificar de forma mais rápida se uma bactéria produz a enzima que destrói o antibiótico, tornando-a resistente. Essa identificação substitui o método convencional, que exige incubar o material, cultivar a bactéria e, somente depois, testar sua resistência.
Durante os testes, foram avaliadas cinco enzimas do grupo dos carbapenemases, comuns em casos de resistência bacteriana. A escolha destas enzimas se deve à sua relevância clínica, sendo responsáveis por grande parte das infecções causadas por esse grupo. A identificação rápida dessas bactérias resistentes pode aprimorar a segurança clínica, permitindo o isolamento imediato do paciente para evitar a transmissão e otimizando as estratégias de cuidados da equipe médica.
Embora o estudo tenha se concentrado em pacientes de UTI, o protocolo pode ser aplicado em outros casos, como pacientes internados aguardando transplantes ou em longa permanência hospitalar.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o número de mortes ligadas diretamente à resistência bacteriana pode atingir 10 milhões até 2050.