A criação da Carteira Nacional Docente (CNDB), anunciada recentemente pelo governo federal como medida de valorização dos professores, tem provocado uma onda de críticas entre educadores de todo o país. Para boa parte da categoria, o documento — apresentado como um símbolo de reconhecimento profissional — não atende às reais necessidades da educação pública brasileira.
Medida é vista como simbólica e insuficiente
Segundo o Ministério da Educação, a carteira funcionará como um documento de identificação profissional e dará acesso a benefícios como descontos em eventos culturais e hospedagens. O governo afirma que a iniciativa busca fortalecer a identidade docente e reconhecer a importância social da profissão.
Mas, nas redes sociais e em declarações à imprensa, muitos professores reagiram com indignação. A professora Jocélia Teles, com mais de 16 anos de experiência, classificou a proposta como “paliativa e desrespeitosa”.
“Quando falam em valorização docente, espero reajuste salarial, estrutura nas escolas e respeito. Não preciso de uma carteira que não muda nada na minha vida.”
“Carteira não paga conta nem melhora sala de aula”
Em vários grupos de professores, a percepção é a mesma: a CNDB é vista como uma ação de marketing político que ignora os principais problemas enfrentados pela categoria.
“Oferecer 15% de desconto em cinema não é valorização. A gente precisa de salário digno, segurança e estrutura”, afirmou o professor André Barbosa, da rede pública de Pernambuco.
Representantes de sindicatos também criticaram o fato de a carteira não contemplar funcionários de apoio escolar, como bibliotecários e técnicos administrativos, e cobraram medidas concretas para toda a comunidade educacional.
“Sem valorização salarial e sem políticas de melhoria das condições de trabalho, a carteira perde sentido”, destacou uma nota publicada por entidades da área.
Realidade da categoria: baixos salários e insegurança
Além dos baixos salários, os professores enfrentam violência crescente nas escolas, falta de recursos básicos e sobrecarga de trabalho. Muitos afirmam que benefícios como descontos comerciais não se aplicam à rotina de quem precisa se desdobrar entre várias turmas para complementar a renda.
A professora Heloísa do Rosário, de São Paulo, resumiu o sentimento de frustração:
“Carteira eu aceito, mas valorização de verdade é respeito, estrutura e salário no fim do mês. Isso sim muda nossa realidade.”
Governo defende iniciativa
O Ministério da Educação defende que a CNDB é um passo dentro de uma política mais ampla de valorização e que o documento também terá função de identificação e certificação profissional, podendo futuramente integrar programas de formação e incentivos.
Apesar disso, a proposta não apresenta medidas de impacto financeiro direto para a categoria, como reajuste do piso salarial ou ações concretas de segurança escolar — pontos centrais nas reivindicações dos educadores.
Valorização segue como principal pauta
Enquanto o governo celebra o lançamento da nova carteira, sindicatos e movimentos docentes reforçam que a verdadeira valorização passa por condições dignas de trabalho, salários compatíveis e políticas que garantam segurança e respeito dentro das escolas.
Para os professores, a CNDB pode até ser um documento oficial, mas, como muitos afirmam, “não paga conta, não protege e não valoriza”.