“Tristeza e orgulho”. Foi assim, com os olhos marejados, que Jéssica Michele Araújo (foto em destaque), de 34 anos, definiu seus sentimentos após a missa de sétimo dia em homenagem aos policiais mortos durante confrontos na megaoperação realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro (RJ).
Ela é viúva do 3º sargento do Bope da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, uma das vítimas da ação policial mais letal da história do estado.
Heber estava na PMERJ há 17 anos e não escondia o orgulho de pertencer à corporação. Era conhecido pela frase que sempre gritava antes de qualquer missão: “Ninguém vai nos parar”, e costumava dizer à esposa que, se morresse no exercício da função, partiria fazendo aquilo que mais amava.
Em entrevista à coluna, Jéssica desabafou que ela e os filhos vivem um dia de cada vez, aprendendo a lidar com a dor do luto e a ausência física de Heber.
“Um cara do bem”
Cercado de amigos e amplamente conhecido na corporação, Heber era querido por todos. Segundo Jéssica, que ainda tenta assimilar o título de “viúva”, ele era “um cara do bem”.
“Ele deixou um legado para os filhos, para os amigos, para todos, para o Brasil. Hoje, o Brasil está assistindo tudo que ele fez, tudo que lutou pela sociedade”, declarou.
“A gente está vivendo um dia de cada vez. Tem altos e baixos. O que me conforta, o que me dá força para continuar, é o legado que ele deixou, pelo fato de ter morrido defendendo a sociedade, trabalhando honestamente”, lembrou, tentando conter a emoção.
Jéssica vive agora com os dois filhos. Ela contou que a família sempre foi extremamente unida, e que a perda só fortaleceu os laços. “Agora sou eu por eles, seguindo em frente e sentindo a presença do Heber perto de nós, ajudando a dar continuidade ao legado dele.”
Questionada acerca da busca por justiça, Jéssica respondeu, demonstrando serenidade, que acredita que, ao plantar o bem, se colhe o bem. “Eu não preciso de justiça. Quem está plantando mal, certamente vai colher o mal”, pontuou.
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3º sargento Heber Carvalho da Fonseca, 39 anos – Bope
Reprodução/Redes sociais
“Herói do Bope”
Heber foi velado e enterrado no dia 30 de outubro. A coluna esteve presente na cerimônia fúnebre, que foi marcada pela emoção de mais de 100 pessoas, entre familiares, amigos e irmãos de farda.
Durante as últimas homenagens, o comandante-geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Marcelo de Menezes, se ajoelhou diante dos filhos do militar e lhes entregou, cuidadosamente, uma bandeira do Brasil dobrada.
“Vocês têm um pai que é um exemplo. Um herói não só para vocês, mas para todo o Brasil. Eu prometo, ele jamais será esquecido.”
O vídeo viralizou nas redes sociais e causou comoção nos internautas.
“Jamais será esquecido”: coronel se emociona com filhos de PM morto
Reprodução/Instagram
Mais de 100 pessoas estiveram na cerimônia
Tercio Teixeira / Metrópoles
Heber foi enterrado no Cemitério Jardim da Saudade
Tercio Teixeira / Metrópoles
A megaoperação deixou outros três policiais mortos
Tercio Teixeira / Metrópoles
“Continue orando”
Ainda no dia da operação, a viúva compartilhou nas redes sociais a última troca de mensagens que teve com o marido. No print publicado nos stories do Instagram, Jéssica revelou que trocou mensagens com Heber enquanto ele ainda participava da ação.
Era exatamente 10h10 do dia 28 de outubro quando Jéssica enviou uma mensagem questionando se o marido estava bem e afirmando que estava orando por ele. Cerca de 40 minutos depois, ele respondeu: “Estou bem. Continua orando.” Aquela foi a última vez que o PM respondeu às mensagens.
As mensagens que Jéssica enviou posteriormente demonstram preocupação, e as mais de cinco ligações perdidas expuseram o desespero de quem já pressentia o pior.
Jéssica revelou a última mensagem enviada por Heber
Reprodução/Instagram

