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Medusa e a tradição do feminicídio

Desde a mitologia grega, a figura de Medusa espelha a normalização da cultura machista, um desafio ancestral que clama por uma transição civilizacional urgente através do feminismo.

A história de Medusa na mitologia grega revela a persistência da cultura machista, destacando a urgência do feminismo para combater a violência e privilégios.

A trágica história de Medusa, da mitologia grega, ecoa como um poderoso alerta sobre a inversão da culpa e a perpetuação da violência contra a mulher. Violentada por Poseidon, a górgona foi castigada por Atena, que a transformou em um monstro temido, com serpentes na cabeça e o poder de petrificar quem a olhasse.

Como se não bastasse a monstruosidade imposta, Medusa foi decapitada por Perseu, um herói, e sua cabeça entregue a Atena como amuleto. Transformada em símbolo do desejo proibido, Medusa foi culpabilizada pelos deuses, mesmo sendo a vítima, em um ciclo de demonização do feminino que ainda ressoa em nossos dias.

Este feminino teratológico da Grécia Antiga não é estranho à realidade contemporânea. Milhares de anos depois, observamos no Brasil uma curva crescente de feminicídios, que são apenas a ponta do iceberg da misoginia e da brutalidade contra as mulheres.

A cultura machista é um caldo grosso de privilégios, preconceitos e injustiças normalizadas ao longo da história, transformadas em tradição. Homens nascem em um lugar diferenciado, usufruem de um poder inato que se manifesta em salários mais altos, acúmulo de patrimônio e benefícios em todas as esferas da vida, desde as relações afetivas e familiares até o trabalho e a liderança política e empresarial.

Em contrapartida, as mulheres pagam um preço alto, sendo silenciadas, impedidas, subjugadas, violentadas e mortas. Além disso, recai sobre elas a responsabilidade pelo cuidado da casa, dos filhos, dos doentes e dos idosos, e até mesmo dos homens, que frequentemente se aproveitam dessa dedicação sem reconhecer o cuidado como um trabalho. Essa dinâmica não é fruto da ignorância, mas de um conhecimento acumulado ao longo de milênios, de um comportamento reproduzido de geração em geração, que naturaliza o desequilíbrio e a opressão.

A Urgência do Feminismo para a Transição Civilizacional

Para superar o que está posto, a civilização patriarcal terá que alterar profundamente a percepção de sua própria história e, acima de tudo, parar de repetir o comportamento abusivo, assediador, cerceador e agressivo contra as mulheres. Para deixar de ser machista, a civilização terá que ser feminista.

Isso implica que nós, homens, teremos que abrir mão de privilégios arraigados e de uma estrutura que nos beneficia historicamente.

O feminismo, ao contrário do que muitos pensam, não é excludente; ele é, sobretudo, para homens. Contudo, não deixaremos de ser machistas automaticamente.

O machismo não é um hábito fácil de abandonar; está introjetado na mente masculina desde antes do mito da Medusa. Precisamos estar atentos à reprodução do machismo em atitudes e omissões cotidianas, pois é a naturalização do mal que o permite perpetuar-se.

Enfrentar o que vem de tanto tempo – de sempre – não é simples nem prazeroso. Que o digam as mulheres, cansadas de se defender e de se explicar aos homens, por uma tradição monstruosa e dolorosa que as aflige e afeta toda a humanidade.

Como bem disse bell hooks, “o feminismo é para todo mundo”. Essa necessidade é cada vez mais urgente.

Ou superamos o machismo e sua violência, ou a mistificação continuará criando Medusas, apontando culpadas e cortando cabeças, até não sobrar ninguém.

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