Pyongyang reage a declarações de membro do governo japonês, enquanto Tóquio reafirma política antinuclear.
Coreia do Norte critica o Japão por supostas ambições nucleares após declarações de um oficial japonês. Tóquio reafirma seus princípios antinucleares.
A Coreia do Norte emitiu um alerta severo contra o que descreve como as “ambições nucleares” do Japão, exigindo que sejam impedidas “a todo o custo”. A condenação, divulgada pela agência oficial KCNA e pelo Ministério das Relações Exteriores, surge em resposta a declarações polêmicas de um membro da equipe da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que contradizem a doutrina oficial de Tóquio de renúncia às armas nucleares.
O membro do gabinete de Takaichi, não identificado, mas descrito como envolvido na formulação de políticas de segurança, afirmou que “deveríamos possuir armas nucleares”, destacando que “só podemos contar conosco mesmos”. Para Pyongyang, essas declarações não são um “lapso”, mas um reflexo claro da “ambição de longa data do Japão pela nuclearização”.
O regime norte-coreano advertiu que, caso o Japão adquira armamento nuclear, “os países asiáticos sofreriam uma terrível catástrofe nuclear e a humanidade enfrentaria um desastre de grandes proporções”.
Curiosamente, o comunicado norte-coreano omite qualquer menção ao seu próprio programa nuclear, que desafia resoluções da ONU e é justificado por Pyongyang como uma dissuasão necessária contra ameaças dos EUA e seus aliados. O Japão, por sua vez, carrega o peso histórico de ser o único país a ter sofrido ataques nucleares, com as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Diante da repercussão, o governo japonês rapidamente reafirmou sua postura antinuclear. O ministro das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, declarou que a missão de Tóquio é “liderar os esforços da comunidade internacional para alcançar um mundo livre de armas nucleares”. O porta-voz do governo, Minoru Kihara, reiterou os “três princípios não nucleares” do país: não produzir, não possuir e não permitir armas nucleares em seu território, estabelecidos em 1967 e ratificados pelo Parlamento.
Cenário de Segurança em Evolução
Apesar das garantias oficiais, o cenário de segurança na região tem levado a discussões internas no Japão. Kihara havia admitido em novembro que o Partido Liberal Democrático (PLD) planeja debater em 2026 uma possível revisão dos princípios nucleares, impulsionado por um ambiente de segurança em rápida mudança. Tóquio percebe uma complexidade crescente, agravada pela aproximação entre Rússia e Coreia do Norte, esta última vista como a principal ameaça regional. A polêmica também coincide com o aumento dos gastos com defesa e tensões com a China, com Takaichi sugerindo uma possível intervenção japonesa em caso de ataque chinês a Taiwan.