O influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira, conhecido por exibir carros de luxo e uma vida de ostentação nas redes sociais, foi alvo de uma investigação policial que descobriu um rastro financeiro milionário e suspeito. Segundo relatório detalhado do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), ele movimentou um total de R$ 14.608.741,35 entre contas bancárias no período de janeiro de 2020 a junho de 2023.
Buzeira foi preso no último dia 14, durante aa Operação Narco Bet, com o objetivo de desarticular um esquema de lavagem de dinheiro vinculado ao tráfico internacional de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Conforme o relatório do LAB-LD, obtido pelo Metrópoles, o influenciador usou nada menos que 23 contas bancárias diferentes para pulverizar o dinheiro com milhares de transações, algumas delas de apenas R$ 30.
O esquema da pulverização
Em um período de três anos e meio, Buzeira realizou cerca de 70.800 transações, o que equivale a uma média de aproximadamente 55 por dia.
A análise dos depósitos — tanto Pix como TED — mostrou que a maior parte do volume de entradas foi feita por meio de valores pequenos.
Os depósitos variavam desde R$ 30 (409 vezes) a R$ 50 (1.680 vezes). No entanto, em contraste com a pulverização, o influenciador também recebeu valores vultosos. O depósito individual mais alto identificado em uma única operação foi de R$ 148.800.
O uso de múltiplas contas, incluindo bancos tradicionais e digitais, além da fragmentação dos valores, são táticas que a polícia associa a esquemas para dissimular a origem real dos recursos.
Incompatibilidade que incrimina
O valor total bruto de movimentações, de R$ 14,6 milhões, foi analisado, porém, o que sustenta a acusação é o montante líquido de recursos efetivamente recebidos pelo influenciador, que totalizou R 7.796.905,92.
A investigação aponta que a movimentação de Buzeira é totalmente incompatível com o que ele declarou à Receita Federal em 2020 e 2021. Nesse período, a diferença entre o que ele recebeu nas contas (créditos efetivos) e o que ele declarou como rendimento ultrapassou R$ 1.355.440,69.
Ou seja, de acordo com o levantamento policial, mais de R$ 1,3 milhão movimentado não tinha respaldo na renda oficial do influenciador, o que é um forte indício de crimes de lavagem de dinheiro ou sonegação.
Além da renda, a polícia também destacou outras contradições patrimoniais:
- Imóveis fantasmas: O influenciador usou as redes sociais para ostentar a compra de imóveis, mencionando cifras de até R$ 10 milhões. No entanto, após buscas nos registros oficiais, nenhum imóvel foi encontrado em no nome dele. Isso sugere a hipótese de que ele estaria usando terceiros, popularmente conhecidos como “laranjas”, para ocultar bens.
- Renda x patrimônio: Em 2021, ele teve um aumento patrimonial de mais de R$ 1 milhão, mas declarou rendimentos de R$ 20.999,09, contribuindo para chamar a atenção das autoridades.
A investigação também destacou o fato de que Buzeira enviou pelo menos R$ 563.387,00 para empresas do ramo de carnes, sem ter qualquer ligação societária com elas.
O caso segue em apuração, com a Polícia Civil analisando a ausência de identificação da origem ou destino de mais de 15 mil transações.
Prisão de Buzeira
Segundo a PF, Buzeira recebeu R$ 19,7 milhões de Rodrigo Morgado, que é investigado por enviar três toneladas de cocaína para a Europa e apontado como liderança do PCC. O dinheiro foi depositado em uma conta da empresa do influenciador, a Buzeira Digital.
O influenciador é considerado um dos rostos “legítimos” usados para lavar o dinheiro da facção em apostas e rifas on-line, disfarçadas de promoções e sorteios.
Na audiência de custódia após sua prisão, Buzeira afirmou que fatura entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões por mês com publicidade em suas redes sociais (veja abaixo).
Durante buscas na casa de Buzeira, localizada em um condomínio de alto padrão em Igaratá, os agentes encontraram o que classificaram como um “arsenal de guerra”. Entre o material apreendido, havia fuzis, pistolas, revólveres, munições, carregadores, radiocomunicadores e roupas de uso tático, todos armazenados de forma organizada em compartimentos da residência.
A PF também encontrou duas pedras brutas. A suspeita é a de que elas sejam esmeraldas, avaliadas em R$ 1,7 bilhão, compradas pelo influencer para ocultar crimes.

