Com a maior mobilização de tropas na América Latina em 30 anos, o governo de Donald Trump gera um alerta regional, entre potências e na ONU, sobre uma eventual operação militar na Venezuela. Dados obtidos pelo UOL a partir de documentos que embasaram declarações das Nações Unidas nos últimos dias revelam a preocupação de que uma intervenção esteja prestes a ocorrer, e demonstram o risco de uma desestabilização regional. O cenário é descrito por embaixadores como o de um “estado de alerta máximo”.
A crise ainda chega em um momento de especial fragilidade política na América Latina e a constatação por parte de membros do governo Lula de um colapso dos projetos de integração regional que possam frear ofensivas estrangeiras.
Sob o pretexto de estar lutando contra organizações criminosas e o narcotráfico, o governo americano destacou para o Caribe pelo menos 10 mil soldados, muitos deles em Porto Rico e em Trinidad e Tobago. Ainda que o volume seja insuficiente para uma invasão por terra, ele poderia ser a base de ataques aéreos contra a Venezuela e já é a maior mobilização de tropas americanas na região desde a crise no Panamá.
O jornal The New York Times revelou ontem que o governo Trump autorizou que a CIA realize operações secretas contra Nicolás Maduro. No mesmo dia, o presidente norte-americano disse “considerar” ataques em terra contra cartéis venezuelanos. Na sequência, líder da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu respeito à soberania nacional, ao direito internacional, e fez um apelo por paz: “não queremos guerra no Caribe e América Latina.”.
Crise desembarca em uma América Latina rachada
O UOL apurou que o governo brasileiro vê a crise com “enorme preocupação” e que presidente Lula vem acompanhando de perto a questão. Mas outra preocupação se refere ao racha que existe hoje na América Latina em relação ao tema. Em setembro, o Itamaraty e outras chancelarias da região tentaram fechar uma declaração conjunta de repúdio à mobilização de tropas americanas. A ideia era de que a Comunidade de Estados Latino-Americanos emitisse uma posição conjunta. Mas apenas 21 deles aderiram.
Os governos da Argentina, Bahamas, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guiana, Haiti, Jamaica, Panamá, Peru, Paraguai, República Dominicana e Trinidad e Tobago se recusaram a assinar a declaração.
Para fontes em Brasília, o racha da Celac mostrou que a operação americana também envolve uma ofensiva diplomática, com o apoio de governos aliados na região. Desde janeiro, o secretário de Estado Marco Rubio tem ampliado suas viagens e de seus assistentes para a região, na esperança de selar compromissos, barganhar troca de favores e pressionar.
Ainda em setembro, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, usou seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, para fazer eco à narrativa de Donald Trump. “Infelizmente, a situação na Venezuela se tornou verdadeiramente alarmante”, disse Peña, um dos principais aliados hoje do governo norte-americano hoje na região.
Na semana passada, representantes de Javier Milei pediram a inclusão de um item na agenda da OEA (Organização dos Estados Americanos) para cobrar que a Venezuela autorize a entrada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para investigar o país.
Enquanto isso, a líder da oposição, Maria Corina Machado, foi escolhida como prêmio Nobel da Paz. O gesto foi interpretado como uma espécie de chancela para que, no caso de uma queda de Maduro, ela surja como alternativa “natural” para ocupar a presidência. Em entrevista à rede CNN nesta quarta-feira, ela defendeu a postura dos EUA. “[Maduro] iniciou essa guerra e precisamos da ajuda do presidente dos Estados Unidos para parar essa guerra, porque isso envolve vidas humanas”, disse.
Fonte: UOL

