O câncer de mama, o mais comum entre mulheres e o segundo no Brasil com cerca de 74 mil novos casos estimados anualmente (2023-2025), enfrenta uma nova arma: a crioablação percutânea. Esta técnica não cirúrgica surge como uma alternativa promissora no tratamento da doença em estágio inicial, alinhada com a tendência da medicina por intervenções menos invasivas.
Historicamente, o tratamento envolvia a remoção total da mama. Mas, com os avanços nas técnicas ablativas e tratamentos sistêmicos, as cirurgias tornaram-se menores. Agora, em certos casos, é possível evitar a cirurgia sem comprometer a cura.
O estudo ICE3, acompanhando quase 200 pacientes por cinco anos, demonstrou a eficácia da crioablação com uma taxa de 96,7% de pacientes sem recidiva local. Esse resultado impulsionou novos estudos e a introdução do tratamento no Brasil.
A crioablação visa destruir o tecido tumoral através do frio extremo. Uma agulha oca é inserida no tumor, liberando gases a temperaturas entre -150 ºC e -170 ºC. A variação drástica de temperatura causa a destruição das células cancerígenas. Não é o congelamento em si, mas a rápida mudança de temperatura que rompe as células tumorais.
Embora usada em tumores de rim, fígado e pulmão, sua aplicação no câncer de mama é recente. Atualmente, o tratamento é indicado para pacientes acima de 70 anos com tumores pequenos (menores que 1,5 cm), únicos e com receptores hormonais positivos. A cirurgia permanece a primeira opção, mas a crioablação, seguindo critérios rigorosos, é uma alternativa promissora a ser discutida entre paciente e médico.
A técnica também tem o potencial de melhorar a qualidade de vida das pacientes. Ao contrário da cirurgia, a crioablação preserva a mama, reduzindo o impacto na autoimagem corporal e sintomas de depressão e ansiedade. O procedimento, realizado com anestesia local em menos de uma hora, permite um rápido retorno às atividades cotidianas. Os riscos são semelhantes aos da biópsia, como dor local e hematoma, e queimaduras na pele são controladas com treinamento adequado.
Além dos benefícios para a paciente, a crioablação pode impactar positivamente o sistema de saúde, reduzindo a necessidade de salas cirúrgicas e internações. O estudo brasileiro CRYSTAL – SIX avalia a relação custo-benefício da crioablação comparada a outros tratamentos. Apesar do custo inicial do equipamento e treinamento, a redução nos custos de internação e riscos de infecção podem tornar a técnica uma alternativa acessível a longo prazo.
A expansão do acesso ao rastreamento e diagnóstico precoce, combinada com a disponibilidade da tecnologia, poderia levar à incorporação da crioablação no sistema de saúde, proporcionando economia de recursos e tratamento eficaz para um número maior de mulheres.