O futuro da medicina está sendo moldado agora, na formação dos profissionais que atuarão nas próximas décadas. A preparação de um médico hoje significa projetá-lo para um mercado de trabalho que estará profundamente transformado em dez anos – tempo médio entre a graduação e a residência.
Novas tecnologias, como inteligência artificial (IA), big data e machine learning, estão revolucionando o diagnóstico e o tratamento de doenças. Paralelamente, o envelhecimento populacional, o aumento das doenças crônicas e os altos custos da saúde impõem desafios globais. Nesse contexto, a excelência clínica não é suficiente; é preciso adaptabilidade.
Dados recentes indicam que apenas um terço dos médicos possui vínculo empregatício único. Aumenta o número de profissionais com múltiplos vínculos, com cerca de 30% dedicados à gestão, educação, pesquisa e inovação, em vez da assistência direta ao paciente. Essa tendência sugere que o médico do futuro terá um papel mais amplo, influenciando soluções, políticas públicas e inovações tecnológicas.
A relação com a inteligência artificial é crucial. Sistemas de prontuários já sugerem condutas baseadas em protocolos, e algoritmos auxiliam na identificação de doenças em exames de imagem. No entanto, é fundamental compreender a lógica por trás desses algoritmos – seus vieses, limitações e processos de treinamento – para utilizá-los com discernimento, mantendo a responsabilidade humana na decisão final.
O potencial da IA para substituir o médico é um tema em debate. Em alguns países, como a China, consultas inteiras já são mediadas por IA. Embora as máquinas possam auxiliar em diagnósticos e atendimentos pontuais, a conexão humana, a escuta atenta e a percepção subjetiva permanecem essenciais na prática clínica. Em sociedades altamente tecnológicas, a demanda por interações humanas está crescendo, o que pode indicar uma tendência também no Ocidente.
Diante do avanço tecnológico e dos crescentes custos, a busca por valor em saúde – melhores resultados com menor custo e maior eficiência – ganha importância. Isso exige que o médico do futuro desenvolva competências em gestão e sustentabilidade do sistema.
Espera-se que os médicos do futuro sejam líderes éticos, inovadores e socialmente responsáveis, capazes de equilibrar ciência e humanização, tecnologia e propósito, eficiência e equidade. O desafio é formar profissionais preparados para transformar a vida dos pacientes e o sistema de saúde como um todo.