A indústria farmacêutica brasileira, impulsionada pela regulação e pela criação da Anvisa nas últimas cinco décadas, enfrenta um momento de evolução, debatendo temas como a regulação de preços, o desenvolvimento da pesquisa clínica e a necessidade de promover a inovação, enquanto garante o acesso a medicamentos. No entanto, desafios persistem para que o país alcance maior autonomia e amplie o acesso à saúde, exigindo um profundo conhecimento do setor.
Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma, traçou este cenário, destacando a importância de entender as particularidades da indústria farmacêutica nas decisões, inclusive em processos de judicialização. “Quando fazemos as coisas sem conhecer, sem saber que fábricas não produzem medicamentos como pão, que têm prazos de produção, não funciona. As coisas não acontecem num estalar de dedos. Na indústria farmacêutica, tudo demora”, explica. Segundo ele, a indústria tem se envolvido em fóruns de discussão de saúde, buscando um diálogo mais aberto.
Mussolini abordou o desafio dos custos elevados de terapias avançadas, que impactam gestores e pacientes, defendendo o compartilhamento de risco como um mecanismo fundamental para o setor público, já que o financiamento é limitado e as necessidades da população aumentam diariamente. Ele ressaltou que o papel da indústria deve crescer, com o setor privado atuando em parcerias com o setor público para ampliar o acesso e a qualidade dos serviços.
O executivo também criticou aspectos do Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) e a revisão das políticas de precificação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Sobre o CEIS, apontou que a regulamentação por portarias e decretos gera falta de previsibilidade para o setor. Considera problemática a estipulação de uma cesta de países e a regulação pelo menor preço, proposta pela CMED.
Mussolini defende que a regulamentação forte é essencial para o setor farmacêutico, que lida com produtos que impactam diretamente a saúde. Ele enfatiza que, embora a indústria farmacêutica vise o lucro, este é fundamental para investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação, que resultam em melhorias na qualidade de vida da população.
O presidente do Sindusfarma destacou a importância da inovação incremental e defendeu preços livres para esses produtos, desde que haja concorrência e o sistema público continue a oferecer tratamentos alternativos. Ele também expressou preocupação com a atuação de farmácias de manipulação e clínicas que oferecem tratamentos sem a devida regulamentação, alertando para os riscos sanitários envolvidos.