Um estudo pioneiro, realizado a partir de dados de vida real, lança luz sobre a Lipoproteína (a), ou Lp(a), um fator de risco cardiovascular subestimado no Brasil. A Lp(a) tem sido associada a doenças graves, incluindo a estenose aórtica e a doença cardiovascular aterosclerótica, impulsionando sociedades médicas internacionais a emitir diretrizes sobre a importância da sua análise clínica.
A pesquisa surgiu da colaboração entre uma empresa de medicina diagnóstica e uma farmacêutica, motivadas pela necessidade de dados sobre a prevalência, o perfil dos pacientes e os valores médios da Lp(a) na população brasileira. A busca por informações precisas visa direcionar o desenvolvimento de medicamentos eficazes e otimizar as práticas clínicas no país. A baixa disponibilidade de testes de Lp(a) tanto no sistema público quanto na saúde suplementar representava um obstáculo significativo.
A análise de um extenso banco de dados nacional, contendo informações de mais de 115 mil indivíduos submetidos a exames laboratoriais entre 2016 e 2019, revelou que 18% dos avaliados apresentavam níveis de Lp(a) superiores a 50 mg/dL, limite que indica um elevado risco cardiovascular, de acordo com padrões internacionais. Embora não represente a totalidade da população brasileira, o estudo oferece insights valiosos sobre a ocorrência da condição no país, devido à abrangência da rede de coleta de dados.
A tendência crescente no setor de saúde é o uso de grandes volumes de dados, provenientes de diversas fontes, como prescrições, prontuários, exames, consultas e dispositivos vestíveis. Essa vasta gama de informações permite uma compreensão mais completa da jornada do paciente e possibilita a realização de estudos em ambiente real, que complementam os estudos clínicos tradicionais, fornecendo evidências sobre o impacto de medicamentos e terapias no dia a dia dos pacientes.
A digitalização e o avanço da inteligência artificial têm impulsionado a coleta e análise desses dados, agilizando o processo de transformação da informação em conhecimento aplicável à prática médica. Essa realidade abre portas para parcerias estratégicas entre instituições interessadas em explorar o potencial das evidências de mundo real.
Os resultados do estudo sobre a Lp(a) no Brasil têm implicações significativas para a prática clínica. A conscientização sobre os níveis desse marcador e sua associação com o risco cardiovascular pode levar os médicos a solicitar exames complementares para identificar precocemente a aterosclerose em pacientes com Lp(a) elevada. A pesquisa também pode estimular a realização de outros estudos clínicos no país, aproveitando a diversidade e o grande número de pacientes brasileiros.