Maurício Silveira Zambaldi, vulgo Dragão, foi preso em 29 de agosto acusado de articular um plano para assassinar o promotor de Justiça Amauri Silveira Filho, além de um policial, em Campinas, no interior de São Paulo. A investigação do caso mostrou a motivação do empresário, dono de uma loja automotiva e ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em arquitetar o crime.
Maurício é dono de uma loja de motocicletas
Reprodução/Instagram
No Instagram, ele acumula mais de 2,8 milhões de seguidores
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Além dele, um segundo empresário foi preso
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De amigo de faccionado a alvo da facção
Dragão cresceu em Campinas e, desde a juventude, é amigo de Sérgio Luiz de Freitas Filho, conhecido como Mijão ou Xixi, e apontado como membro da cúpula do PCC. O faccionado está foragido há ao menos uma década.
Na vida adulta, Dragão entrou no ramo dos negócios, e se lançou em esquemas de lavagem de dinheiro, principalmente com imóveis e empresas de fachada. Mijão rapidamente passou a utilizar as engrenagens criadas pelo amigo para branquear as quantias volumosas que arrecadava de atividades criminosas.
Com o envolvimento do líder do PCC, logo a facção também passou a utilizar Dragão para lavar dinheiro. O que os criminosos não esperavam, no entanto, é que o empresário entraria na mira do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Nas redes, o empresário acumulava milhões de seguidores. Ele promovia aplicativos de apostas e compartilhava imagens de carros e motos luxuosas. O MPSP argumentou que Dragão e Vanessa não possuem renda lícita conhecida que justifique o “grandioso patrimônio”.
Então, em fevereiro deste ano, Dragão foi alvo da Operação Linha Vermelha, e de mandados de busca e apreensão em sua residência e empresa.
As investigações levaram ao requerimento de medidas cautelares de caráter patrimonial, como o bloqueio/sequestro de bens e contas bancárias dele e da esposa, Vanessa Janizelo Zambaldi.
As cautelares teriam ocorrido em um momento delicado para Dragão, atrapalhando o branqueamento de uma quantia volumosa de dinheiro para o PCC. Ele logo ficou desmoralizado no mundo do crime, apontou o Gaeco.
Eduardo Magrini, o Diabo Loiro, membro da facção preso durante a Operação Off White, em 30 de outubro, em Campinas, ameaçou Dragão de colocá-lo no “prazo”.
“O que significa, nos termos do Primeiro Comando da Capital, que se ele não cumprir o que é dele exigido no período de tempo fornecido pela organização criminosa, ele responderá nos termos da facção, podendo ser, inclusive, assassinado”, diz trecho de representação enviada pelo MPSP à Justiça.
Por que empresário planejou matar promotor
Desesperado, o empresário procurou o amigo de juventude, Mijão, implorando por ajuda. O faccionado suportou as perdas econômicas sofridas por Dragão. Ainda assim, ele foi cobrado a dar uma “resposta” sobre o ocorrido, a fim de recuperar o prestígio que um dia gozou junto à facção criminosa.
Vanessa, esposa de Dragão, também pediu a Mijão para que ajudasse o marido, que estava sob a mira de intimidações do PCC após causar desfalque à facção
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Dragão implorou por ajuda a Mijão, membro da cúpula do PCC foragido há ao menos 10 anos e escondido na Bolívia
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Mijão e Dragão são amigos desde a juventude, quando moravam no mesmo bairro em Campinas (SP)
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Então, surgiu o plano de assassinar o promotor Amauri Silveira Filho, um dos articuladores da Operação Linha Vermelha. Investigado por participação em organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, Dragão teria justificado o atentado como retaliação à “desmoralização” e aos “notáveis prejuízos patrimoniais”
Para isso, junto de Mijão, Dragão cooptou o também empresário José Ricardo Ramos, que comprou de Zambaldi um Porsche 911 Carrera, vermelho, em 21 de julho deste ano, por quase R$ 1 milhão. Dez dias depois, ele revendeu o carro de luxo para financiar o assassinato do promotor.
O plano
Ramos ficou encarregado de acompanhar a rotina do promotor, indicando pontos frequentados pelo alvo. O criminoso também ficou encarregado de obter carros blindados, que seriam usados na execução, além de contratar assassinos.
Para vigiar o promotor, Ramos teria utilizado um veículo cedido por Thiago Salvador, proprietário de um estacionamento e lava-rápido, que também forneceu informações sobre a rotina do membro do MPSP, incluindo a academia que ele frequentava.
Ramos chegou a viajar para Goiás, onde, segundo denúncia recebida pelo Gaeco, receberia uma Hilux SW4 blindada, cor branco pérola, que seria preparada para o crime.
Os preparativos incluíam a troca das placas e a retirada do banco traseiro para acoplar uma metralhadora .50, com poder de tiro suficiente para derrubar aeronaves de pequeno porte. Além disso, Ramos estaria trabalhando ativamente para contratar pistoleiros, incluindo no Rio de Janeiro.
O plano foi frustrado, após ser descoberto por agentes do Gaeco. Ramos e Dragão foram presos em 29 de agosto, em mais uma etapa do combate do MPSP ao PCC em Campinas.

