Uma intensa disputa entre a atual e a antiga administração da Unimed Cuiabá, operadora de planos de saúde que atende 206 mil pessoas em Mato Grosso, escalou para um conflito público repleto de acusações, prisões, quebras de sigilo e até uma denúncia criminal. A controvérsia, iniciada em 2023, também levanta suspeitas sobre negócios privados envolvendo delegados da Polícia Federal.
A nova direção da Unimed Cuiabá, liderada por Carlos Bouret, assumiu o comando em março de 2023, sucedendo o grupo de Rubens Junior, que esteve à frente da cooperativa por oito anos. Pouco tempo depois, em julho, a nova gestão apresentou uma denúncia à Polícia Federal contra a administração anterior, alegando “fraudes fiscais” de aproximadamente R$ 400 milhões no balanço de 2022, além de outras irregularidades.
Em agosto de 2024, o Ministério Público Federal (MPF) formalizou uma denúncia contra a antiga diretoria, acusando-a de falsidade ideológica, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo o MPF, os ex-dirigentes teriam omitido passivos e incluído ativos indevidamente, distorcendo as demonstrações contábeis para inflar artificialmente o resultado econômico da empresa, além de obstruir a fiscalização da Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A denúncia foi aceita pela Justiça Federal em Mato Grosso, dando início a um processo criminal. A Operação Bilanz foi deflagrada no final de outubro de 2024, resultando em mandados de prisão temporária contra seis ex-diretores e ex-funcionários da Unimed Cuiabá, incluindo o ex-diretor-presidente Rubens Junior e a ex-diretora administrativo-financeira Suzana Aparecida Rodrigues. A Polícia Federal também cumpriu mandados de busca e apreensão, quebra de sigilos e sequestro de bens dos investigados, que foram liberados no mesmo dia.
Rubens Junior nega as acusações e alega que as fraudes contábeis foram “fabricadas” pela atual direção. Paralelamente, Mauricio Coelho, ex-marqueteiro de Junior, acusa a atual gestão de criar uma trama com a ajuda de dois delegados da Polícia Federal, Rodrigo Piovesano Bartolamei e Carlos Eduardo Fistarol, proprietários da consultoria Trinity Consultoria Ltda. Segundo Coelho, a Trinity recebeu R$ 3 milhões da Unimed Cuiabá entre 2023 e 2025 para atuar em investigações que foram usadas em processos criminais de forma irregular.
A Unimed Cuiabá confirma a contratação da Trinity, alegando que a consultoria ajudou a levantar dados que resultaram na denúncia contra a antiga direção, além de aprimorar os processos de compliance da empresa. A atual gestão afirma que o trabalho da consultoria resultou em uma “economia anual de mais de R$ 4,5 milhões”.
O MPF declarou que não tinha conhecimento sobre a autoria dos relatórios entregues pela Unimed Cuiabá, mas que a responsabilidade sobre a “boa fé” dos prestadores de serviço é da cooperativa. O órgão afirma que as provas que sustentam a denúncia foram produzidas pelo próprio MPF. A Justiça Federal solicitou uma nova perícia para revisar os números apresentados pela Unimed Cuiabá.
Em junho de 2025, a Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou a Operação Shortcode, investigando disparos de mensagens com conteúdo difamatório contra a atual direção da Unimed Cuiabá. A cooperativa afirma ser alvo de uma “campanha difamatória” liderada pelo ex-marqueteiro da gestão de Rubens de Oliveira.