Paulo Almeida, 64, se lembra de sua juventude, quando tomava o “vinho da garrafa azul” em festas com os amigos, misturando todos os tipos de bebidas ao longo da noite. “Tem uma idade em que é divertido ter ressaca, é emocionante. Mas depois fica bem sofrido, eu percebo isso. Ficou muito pior”, diz ele, que é dono do Empório Alto Pinheiros, bar especializado em cervejas artesanais.
Hoje ele diz que pensa duas vezes antes de beber muito e tenta não esquecer os “truques” para amenizar os sintomas da ressaca, como beber bastante água. Se ele vai sair com os amigos à noite, come bem no almoço e escolhe um chope mais leve. “A gente começa a fazer essa conta.”
A percepção de que a ressaca piora com o tempo é comum, mas por que isso acontece? Compreender como o álcool é processado pelo organismo ajuda a entender seus efeitos e o mal-estar que provoca.
A ressaca é um conjunto de sintomas desagradáveis que ocorrem após o consumo excessivo de álcool, entre eles dor de cabeça, fadiga, tontura, desidratação e mal-estar geral, decorrentes do acúmulo de substâncias tóxicas no corpo.
Na juventude, esses sintomas parecem mais toleráveis, mas, com o passar dos anos, tornam-se mais intensos e duradouros. Isso ocorre devido a uma série de fatores biológicos.
Quando ingerimos álcool, o etanol é metabolizado principalmente pelo fígado. A enzima álcool desidrogenase converte o etanol em acetaldeído, uma substância tóxica. Em seguida, outra enzima, a aldeído desidrogenase, transforma o acetaldeído em acetato, que é eliminado do corpo como ácido acético.
“O acetaldeído é um dos vilões da ressaca e contribui para sintomas como dor de cabeça, enjoo e sensação de mal-estar”, afirma Rosana Camarini, professora do departamento de farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP).
Outro fator relevante é a presença de metanol, um subproduto da fermentação encontrado principalmente em destilados e vinhos de frutas.
“O problema é que, assim como o etanol, ele é metabolizado pela aldeído desidrogenase, mas gera formaldeído, uma substância altamente tóxica”, diz Camarini. Para evitar essa intoxicação, ela recomenda escolher produtos de fontes confiáveis, pois a qualidade da bebida faz diferença no grau da ressaca.
O empresário Paulo Almeida conta que costuma beber bebidas baratas na época em que era universitário. “Então ao mesmo tempo em que a ressaca piorou por causa da idade, melhorou porque eu comecei a beber coisa melhor”, diz.
O sommelier Manoel Beato, 60, do Fasano, afirma que aprendeu a dosar a quantidade de bebida ao longo da vida. “Um bom bebedor é aquele que bebe até um ponto em que não tem ressaca”, afirma. Ele conta que reduziu o consumo de álcool porque o dia seguinte acabou se tornando insustentável.
Conheça alguns dos fatores contribuem para o agravamento da ressaca com o avanço da idade.
Metabolismo mais lento
Com o passar dos anos, o fígado perde eficiência na função de metabolizar o álcool.
“O corpo vai perdendo sua capacidade de processar o álcool, o que resulta em ressacas mais intensas e prolongadas”, afirma Olívia Pozzolo, psiquiatra e médica pesquisadora do CISA (Centro de Informação sobre Saúde e Álcool).
Além disso, o organismo se torna menos eficaz na neutralização de substâncias tóxicas, dificultando a recuperação celular.
DESIDRATAÇÃO
O envelhecimento reduz a capacidade do corpo de reter líquidos, tornando mais acentuada a desidratação causada pelo consumo de bebida alcoólica. O álcool tem efeito diurético, ou seja, aumenta a eliminação de líquidos. Com menor retenção hídrica, sintomas da ressaca como dor de cabeça, fadiga e tontura tornam-se mais severos.
DOENÇAS CRÔNICAS
Condições como diabetes e hipertensão podem agravar os efeitos do álcool no corpo, bem como o uso de medicamentos.
“O organismo também se torna menos eficiente na recuperação de impactos externos, incluindo o consumo de álcool, pois o sistema imunológico e o fígado já lidam com um nível maior de inflamação”, afirma Camarini.
Existem ainda diferenças de gênero. O organismo da mulher possui menos água e menos enzimas que metabolizam o álcool, que acaba processado de forma diferente para elas. “Se um homem beber a mesma quantidade que uma mulher, a mulher terá mais efeitos colaterais e mais níveis de álcool no sangue”, afirma Pozzolo.
A oscilação hormonal também pode aumentar a sensibilidade das mulheres ao álcool, tornando os efeitos mais intensos em determinados períodos, conforme pesquisa desenvolvida na Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA). “As mulheres têm uma vulnerabilidade maior aos danos hepáticos e cerebrais que o álcool pode causar”, acrescenta a médica.
O álcool pode agir de forma diferente em cada indivíduo, assim como a ressaca tem suas particularidades. Há quem diga ficar cada vez menos embriagado e com menos ressaca conforme os anos passam. É o caso da Jardelina Maria, 64, embaladora. Ela afirma que tem ressaca com sintomas como enjoo e dor de cabeça, mas que não sente esse mal-estar com muita frequência, como ocorria quando era mais jovem. Para ela, isso pode ser consequência da tolerância ao álcool.
Segundo Camarini, também para isso há uma explicação possível. “Como a sensação de embriaguez influencia a gravidade da ressaca, [isso] pode explicar porque algumas pessoas idosas relatam menos ressacas e menos intensas”, diz Camarini, ressaltando que a percepção de que o mal-estar é mais brando não significa que o álcool consumido não cause danos.
SAIBA COMO MINIMIZAR OU EVITAR A RESSACA
– Beba devagar e com moderação
– O corpo tem um limite para metabolizar o álcool, então ingerir a bebida lentamente reduz a sobrecarga no fígado;
– Procure intercalar a bebida com água – Isso ajuda a minimizar a desidratação e alivia os sintomas;
– Coma antes e durante o consumo de álcool – Alimentos retardam a absorção do álcool pelo organismo;
– Prefira bebidas de qualidade – Produtos de origem duvidosa podem conter impurezas que agravam a ressaca;
– Descanse – O sono adequado auxilia o corpo a se recuperar.
Foto Shutterstock
Por Folhapress
Seja sempre o primeiro a saber. Baixe os nossos aplicativos gratuito.
Siga-nos em nossas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram. Você também pode ajudar a fazer o nosso Blog, nos enviando sugestão de pauta, fotos e vídeos para nossa a redação do Blog do Silva Lima por e-mail blogdosilvalima@gmail.com ou WhatsApp (87) 9 9937-6606 ou 9 9155-5555.