‘If Beale Street Could Talk’ é uma adaptação do romance homônimo de Baldwin sobre um casal que enfrenta o racismo no Harlem (NY), no início dos anos 1970
Beale Street é o nome da rua de Nova Orleans em que nasceu o jazz e em que nasceu o pai do escritor James Baldwin, a voz literária do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Na obra do autor, a via ganha status de epítome da identidade afro-americana.
“Há uma Beale Street em cada cidade da América”, disse o cineasta Barry Jenkins, vencedor do Oscar por “Moonlight”, antes de apresentar seu novo longa em Toronto, aplaudidíssimo por uma plateia em grande parte negra que lotou o teatro Princess of Wales.
“If Beale Street Could Talk” (se a rua Beale pudesse falar) é uma adaptação do romance homônimo de Baldwin sobre um casal que enfrenta o racismo na região do Harlem, em Nova York, no início dos anos 1970.
O novo filme completa com “Moonlight” e “Remédio para a Melancolia” uma espécie de tríptico racial na obra de Jenkins, atento à sub-representação negra na tela.
À aridez da vida nos guetos de Miami do oscarizado filme anterior ele substitui pelos tons coloridos do início do romance entre a virginal Tish (Kiki Layne) e seu amigo de infância agora crescido Fonny (Stephan James), imersos nos códigos que regem a vida afro-americana daquele lugar e daquela época.
A edição não cronológica logo entrega que o amor do jovem casal vai enfrentar um péssimo agouro. “Espero que ninguém tenha de olhar para seu amado através de um vidro”, diz a narração de Tish. É que Fonny foi preso, acusado de estuprar uma mulher na rua, ao que tudo indica por influência de um policial racista.
E é por meio do vidro que separa os encarcerados de seus parentes que ela vai comunicar ao parceiro que está grávida. Pobre, negra, com o pai de seu filho na cadeia, ela precisa provar a inocência de Fonny em cenas que são intercaladas com as do passado, quando ambos ainda caminhavam juntos pelo Harlem.
Apesar de acompanhar uma empreitada nobre, como a de Tish, “If Beale Street Could Talk” não envereda pelo território manjado do filme de redenção. Mais do que isso, é um retrato da permanência das injustiças e de como elas se impõem com uma força muito superior à dignidade das lutas individuais.
Por Folhapress.
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