O pretexto foi a Transposição. Mas na verdade, o que se viu, ontem, em Monteiro, cidade paraibana que virou um mar de gente vermelha, a cor do PT, foi o reencontro do povo nordestino com o ex- presidente Lula. As manifestações, desde a mais simples com uma foto dele na camisa, traduziram um único objetivo: ver Lula. “A saudade estava grande”, resumiu dona Maria Madalena Freitas, para quem Lula é o patrono nordestino.
E para vê-lo valeu todo tipo de sacrifício, desde levar sol escaldante na cara numa espera de mais de seis horas, que parecia não ter fim, até mesmo arriscar tocá-lo enfrentando o cordão de isolamento feito pela Polícia. Homens e mulheres de todas as idades, crianças no colo e desidratadas pelo sol forte encheram às margens do canal da Transposição, num primeiro momento, e a praça, depois, para ouvir o ídolo.
Não dá para fazer prognósticos quantitativos. Para não errar ou ser acusado de chute, prefiro falar num formigueiro de gente. Uma massa humana compacta, que foi ao delírio quando Lula botou seus pés em Monteiro. “Nem Frei Damião seria capaz de juntar tanta gente”, resumiu o agricultor Antônio Oliveira, da longínqua Serrita, em Pernambuco, falando ao celular.
O ato foi convocado em nome da Transposição, que tinha quer ser entregue por Lula e não por Michel Temer, atual presidente. O que se viu na pequena Monteiro, no entanto, foi um verdadeiro desagravo. Os lulistas de carteirinha deixaram transparecer isso nas ruas, com gestos e palavras. No palanque, o desagravo ficou mais latente ainda por parte dos aliados de Lula.
A começar pelo padre da cidade, que chamou Lula de “predestinado”. O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, pediu para a elite bater mais nele. “Quanto mais batem, mas Lula cresce”, afirmou. Entre os artistas, o cantor paraibano Chico César fez uma música especial para a ocasião, levando Lula às lágrimas.
Em toda parte, o sentimento de agradecimento pela água transportada do rio São Francisco estava presente. Em algumas faixas, o Governo da Paraíba deixou claro que o pai da Transposição era Lula e também Dilma. Muitas frases emocionantes traduziram a alegria do povo. “Velho Chico, um rio que agora passa em minha vida”, dizia uma delas, carregadas com muito orgulho por um grupo de jovens.
CARA DE PAU– A ex-presidente Dilma fez um duro discurso em Monteiro classificando seus adversários, especialmente o presidente Temer, de cara de pau por tentarem vender a ideia de que são os verdadeiros responsáveis pela obra da Transposição. “Lula iniciou e eu deixei praticamente pronta, porque este era o nosso compromisso com o Nordeste”, disse. Dilma criticou ainda a proposta da reforma da Previdência encaminhada pelo Governo e disse que estão tentando um segundo golpe, que traduziu pelo esforço de impedir que Lula seja candidato a presidente.
Socialista de coração vermelho – Filiado ao PSB, partido que rompeu com o PT, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, foi tratado como aliado de coração vermelho por Lula, Dilma e os petistas de medalhões presentes ao ato da Transposição. Coutinho afagou o ego de Lula. Depois de chamá-lo de querido companheiro, Coutinho afirmou que quanto mais batem nele mais crescem as suas chances de ser eleito presidente da República. Coutinho chamou o Governo Temer de cínico e afirmou que é voltado para atender aos interesses da elite.
(Da coluna do Blog do Magno)
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