Depois de ampliar uma imagem do bicho na máquina de xerox, eles usaram cartolina e cola quente para construir a carapaça gigante, que incluiu até um rabo que se move e simula uma picada.
“Eu o ajudei em partes de risco, como usar a tesoura. Ele até levou partes para casa, fez as patas, e fomos colando com cola quente”, conta o professor.
Carliene Cunha e Silva Ferreira, 44 anos e mãe de André, conta que a experiência levou o filho a superar a timidez. Ele apresentou o trabalho na mostra cultural da escola para todos os alunos, respondendo a perguntas e tirando dúvidas sobre o projeto, como havia ensaiado também em casa com os pais.
“Isso de ele fazer com os demais colegas fez diferença para ele, os professores têm elogiado bastante. Aqui na escola todo mundo conhece ele depois da mostra cultural.”
Para o professor Edson, a flexibilidade maior da sala de recursos foi um ativo poderoso na tarefa de incluir os alunos.
Nas salas de aulas tradicionais, que são realidade para a maioria dos professores, é mais difícil para o professor se adaptar à necessidade de muitos alunos, opina Edson, que vê o risco de que muitos alunos percam a conexão com o aprendizado — e não só os que têm necessidades especiais.
“Na sala de aula tradicional, é mais difícil se desprender do currículo para ter uma visão singular. Eu me realizei como professor porque aqui eu tenho uma estrutura voltada para isso, mas na sala é o grande desafio”, diz. “O professor se apega muito que tem que dar determinada matéria em determinado período. Colocar a matéria na lousa e o aluno não entender nada, você só está enganando a si mesmo.”
“A proposta é recuperar essa conexão do aluno com a sala de aula. Se o aluno tem qualquer tipo de defasagem, vamos tirar essa defasagem, vamos criar uma comunidade de aprendizagem”, opina.
Outro diferencial, pondera o professor, foi a formação que ele procurou nos últimos anos, buscando cursos oferecidos na rede pública que o ajudaram a pensar novos caminhos para lidar com desafios antigos de aprendizagem nas escolas, como a inclusão e retenção de alunos.
Nos últimos anos, com o avanço também da legislação, Edson diz que os professores têm se mostrado menos intimidados diante de alunos com deficiência ou algum tipo de necessidade especial, como ele diz que era comum ocorrer há alguns anos.
“Nas universidades os cursos de graduação têm que incluir disciplina inclusiva no seu currículo, e isso está criando uma consciência. Não chega mais ninguém falando aqui na escola falando ‘ah, eu não estou preparado, não estudei para dar aula para esses alunos’.”
Para professor, qualquer aluno com dificuldade de acompanhar a turma precisa estar no radar do professor para não se perder pelo caminho e desistir da escola, como fazem milhares de jovens todos os anos.
Em 2017, em razão da falta de engajamento juvenil nas atividades escolares, 1,3 milhão dos jovens de 15 a 17 anos não estavam na escola, o que representa uma perda para o Brasil de cerca de R$ 124 bilhões, segundo estudo do Insper.
“É preciso tirar essa cruz dos ombros, ter o rigor metodológico, mas respeitar a condição da criança. Numa sala de aula você tem muitas pessoas com características diferentes, e você tem que entender essas diferentes características. O professor não pode deixar ninguém para trás”, afirma Edson.
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Por BBC — São Paulo
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