Trump representa para grupos anti-capitalismo a exclusão social e a desigualdade econômica que não serão resolvidas em Davos
A visita do presidente americano, Donald Trump, à Suíça foi tomada por um grande número de manifestantes como um símbolo daquilo que lhes desagrada no Fórum Econômico Mundial, realizado nesta semana no resort alpino de Davos. Eles o receberam nesta terça-feira (23) com protestos em diversas cidades do país bradando o mote de “você não é bem-vindo”.
Trump representa para grupos anti-capitalismo a exclusão social e a desigualdade econômica que não serão resolvidas em Davos, mas ele não é o único alvo de protestos. Há também desgosto pela passagem da primeira-ministra britânica, Theresa May, e do presidente francês, Emmanuel Macron.
“O fórum serve só para que os mais ricos se reúnam e se organizem entre si”, diz à reportagem Michael Zahn.Zahn, do grupo Sozialismus, organizou um protesto no centro de Zurique. Não há estimativa oficial do número de participantes.
“Os líderes mundiais reunidos em Davos não vão conseguir encontrar as melhores soluções para a crise financeira”, diz. Pelo contrário: “Trump representa a própria exploração econômica”.Por essa mesma razão Andreas Freimüller promoveu nos últimos dias um abaixo-assinado contra o presidente americano, já com 70 mil inscritos.
“Somos muito críticos ao governo de Trump e nos surpreende que, um ano depois da posse, as coisas ainda continuem a piorar”, ele afirma. “Quando soubemos que ele vinha à Suíça, pareceu ser uma oportunidade para dizermos que os suíços não concordam com o que ele está fazendo.”
O americano-suíço Edward McCreight também aproveitou o momento para demonstrar o que diz ser sua “vergonha” diante do presidente que lhe representa no exterior. Dias antes, seus conterrâneos marcharam na Suíça com placas de “desculpem-me”. “O estado do meu país hoje me deprime”, afirma.
Os protestos desta terça-feira (23) foram menores do que aqueles registrados em Hamburgo em 2017, quando dezenas de milhares bloquearam ruas na cúpula do G20. Outras edições do próprio fórum também atraíram mais manifestantes.
“Temos testemunhado uma marginalização das forças de esquerda, o que explica essa diminuição”, diz Zahn.
Segundo a Oxfam, o 1% mais rico do mundo concentra desde 2015 mais riqueza do que o restante do planeta. O cálculo feito naquele ano era de que 62 indivíduos tinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas.
Para os manifestantes, essa é a elite reunida em Davos, um resort nos Alpes cuja população de 10 mil pessoas triplica durante o fórum. As reservas nos hotéis são feitas com meses de antecedência, e comitivas presidenciais são obrigadas a se hospedar em Zurique, como a de Michel Temer. A viagem dessa cidade até Davos dura pouco mais de duas horas.
BOBO
Em Davos, o presidente americano era aguardado com um misto de excitação e angústia. Seu discurso, marcado para a tarde de sexta-feira (26), às 11h de Brasília, era aguardado por empresários, executivos e governantes estrangeiros como uma sinalização de que o republicano sabe o que está fazendo com a economia de seu país.
Também havia interesse para entender se, apesar dos atritos em outras áreas, o crescimento registrado nos últimos meses e o corte de impostos no curto prazo para estimular investimento e consumo serão sustentável.
Na avaliação de economistas do Fundo Monetário Internacional, o avanço da economia – e da demanda – americana são o principal motor da recuperação econômica global, que ganha tração. Mas entre os americanos a sensação era de uma gafe iminente.
“Acho que ele vai fazer papel de bobo”, disse Tracy, empresária do Vale do Silício, antes de completar: “Ainda bem que na sexta-feira muita gente já vai ter ido embora”.
O temor de Tracy, ecoado nos corredores, era respaldado pelos recentes comentários pejorativos de Trump sobre países que enviam imigrantes aos EUA e por sua insistência em vender a ideia de “EUA em primeiro lugar” em um fórum no qual estão mais de 70 governantes -incluindo o presidente Michel Temer- e mais de mil executivos e empresários. Há sessões no fórum sobre como lidar com o novo imperativo americano.
Trump é o segundo presidente dos Estados Unidos no cargo e o primeiro desde o democrata Bill Clinton, em 2000, a participar em pessoa do evento -no passado, Ronald Reagan participou por meio de um telão.
Sua presença atraiu a atenção dos americanos para um evento que sempre foi essencialmente europeu, e a delegação dos convidados americanos, neste ano, alcançou a casa das centenas de integrantes.
Por Folhapress.
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