Para eles, o desafio é conciliar o trabalho com os estudos.
As provas podem garantir uma vaga na universidade.
Em novembro, mais de seis milhões de estudantes vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio. Pode ser o primeiro passo para entrar na universidade, mas para alguns candidatos, o desafio começou bem antes das provas.
Maria Nazaré lembra que o mundo terminava na parede em frente à máquina de costura. “Antigamente eu vivia, tipo assim, em uma caverna. Em um lugar que eu não via, eu não sabia nada, o mundo podia virar ao meu redor. Eu não sabia nada o que estava acontecendo, eu não me ligava nada disso”, disse.
A vida parecia tão pequena, porque ela não sabia ler nem fazer contas. “Eu queria estudar. Nasceu minha filha, minha filha foi para o colégio. Ela chegava e queria que eu ensinasse ela, eu não sabia nada e aquilo me entristecia, por eu não saber”, contou.
Aos 50 anos, Nazaré entrou na escola. “Muitas vezes eu repeti. Muitas vezes por causa do trabalho não tinha tempo de estudar. Mas eu não largava, eu queria ir à frente. Quantas vezes eu não saí dali chorando, porque eu não conseguia, mas eu voltava. Eu voltava”, afirmou.
Sete anos depois, a costureira vai fazer o Enem. “Depois quando eu terminei o ensino médio, que eu vi que eu podia fazer qualquer faculdade, você não tem ideia a alegria dentro do meu coração”.
A faculdade de moda espera por quem já cria a própria moda. A história da Nazaré é um exemplo para muitos adultos que decidiram dar um passo adiante. Um a cada sete inscritos no Enem tem mais de 30 anos. Para eles, o desafio é conciliar o trabalho com os estudos e a montanha de livros, que parecia um obstáculo, é o que mostra o caminho a seguir.
Eduardo Vicente da Silva segue de bicicleta. Todos os dias são oito quilômetros e muitas paisagens até a escola. Pedalar é uma alegria para quem no início do ano, durante três meses, fez esse caminho a pé. O zelador de 40 anos já tentou cinco vezes o Enem.
“Deu vontade de parar, porque eu não sou de ferro, mas estou aí. E se eu não conseguir passar esse ano, com certeza eu vou continuar, porque eu só vou desistir mesmo quando eu terminar, concluir aquilo que eu quero”, explicou o zelador Eduardo.
Em um curso comunitário, ele senta ao lado da Maria Nazaré. A dedicação deles é uma lição até para os professores que são voluntários na escola.
“É tão rica essa troca entre professores e alunos, esses alunos com maturidade, que fortalece o caminhar, porque esse caminhar é um caminhar junto, né?”, afirmou o coordenador e professor do Curso Invest, Getúlio Fidelis.
Em outro curso, na favela da Maré, Rita de Cássia completa uma jornada tripla: estudante, vendedora e mãe de um menino e de três Marias: a Maria Clara, Maria Júlia e Maria Beatriz.
“Acho que o tempo não é perdido nunca. E o tempo vai passar de qualquer jeito, né? Então a gente tem que despertar para ele”, disse Rita de Cássia.
No vai vem do balanço, a mãe estuda com o olhar balançando entre os cadernos e as Marias. Toda essa turma que voltou a estudar espera o Enem com a calma que só o tempo traz. Eles já venceram quando decidiram sair da caverna e começar de novo.
“Entrei naquele colégio, não sou mais aquela. Iluminou, clareou assim: tchá! tchá! E eu comecei a me sentir outra pessoa. Não sou mais aquela Nazaré lá atrás. Não sou”, contou a costureira. (Do JN)
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