Robeyoncé foi a primeira transexual aprovada em exame da OAB em Pernambuco (Foto: Agência Megaeventus/Arquivo Pessoal)
Em viagem a Salvador, onde participa de um encontro de estudantes de Direito de todo o país, a universitária Robeyoncé Lima, de 27 anos, tem todos os motivos para ter orgulho da própria história, sem perder de vista os desafios que deve enfrentar no futuro. Após se tornar a primeira transexual aprovada em um exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, em fevereiro deste ano, ela dará nome a uma turma de formandos da instituição, outro fato inédito no estado.
A jovem vai se formar com os colegas da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que elegeram seu nome para identificar todo o grupo. Para ela, trata-se de uma conquista não só pessoal como de toda a comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Intersexuais). “Quero ajudar meus amigos e minhas amigas, fazer valer nosso direito que está sendo violado. Isso (a eleição do nome dela) mostra que a turma está tomando um posicionamento”, afirma.
Além do próprio prestígio, a futura advogada ainda comemora a presença de outra trans no meio político-jurídico. Nesta semana, Fabianna Mello, de 36 anos, começou a trabalhar na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Ela também a primeira transexual na Casa e tem como missão destravar os projetos LGBTI na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos.
“A gente tem no poder legislativo uma bancada muito conservadora. Nossas pautas têm andado devagar. O Brasil é o país que mais mata LGBT no mundo. O que aconteceu em Orlando foi muito triste, mas aqui é Orlando todo dia”, declara, em referência ao atentado a uma boate LGBTI nos Estados Unidos, onde 50 pessoas morreram a tiros.
Nascida no Recife, Robeyoncé cresceu em uma rua localizada entre os bairros de Água Fria e Alto Santa Terezinha, na Zona Norte da cidade. A família é de Garanhuns, no Agreste do estado. Desde pequena, sabia que era mulher, mas só assumiu a identidade depois que entrou na universidade. A universitária acredita que as discussões sobre o tema no meio acadêmico a ajudaram no processo de autoafirmação.
“O ambiente foi favorável. Eu digo que é um privilégio, porque nem todo mundo tem oportunidade de estar em um ambiente desses. Quando você está em um ambiente negativo, você tem dificuldade de se aceitar. Na minha infância e adolescência, foi assim. Você é constantemente julgada. Se você não tem uma personalidade forte, você entrega os pontos, e isso pode te levar até a um suicídio”, ressalta.
No ano passado, conseguiu mudar de nome em todos os registros da instituição onde estuda e da Justiça Federal, onde estagia. Agora aguarda a autorização judicial para corrigir os documentos pessoais. “Na carteira de estudante, já está certo. Eu sempre tento usar ela para não ter que apresentar a identidade. Eu fico envergonhada”, diz.
A espera é só no papel para formalizar a verdadeira identidade diante do mundo. Mas, na vida real, Robeyoncé avisa: quem insistir em chamá-la pelo nome antigo será ignorado. “Na comunidade onde eu moro, muita gente me conhece desde a infância. Algumas pessoas esquecem, e eu corrijo. Também encontro pessoas que dizem que vão me chamar do outro jeito, e eu digo que não vou responder porque aquela pessoa não existe”, reverbera.
(Do G1 PE)