A festa de São José em Belmonte, ou o 19 de março como se proclama por ser data marcante, constitui o maior evento festivo da cidade. Tornou-se oficialmente feriado municipal o que já era considerado de fato, pelos paroquianos desde o período do povoado do Belmonte por ser o dia consagrado ao glorioso Patriarca São José, padroeiro da freguesia. Antigamente, as comemorações eram realizadas como hoje, com muita satisfação e orgulho. As divergências familiares, pessoais, políticas, ou mesmo, religiosas, eram diluídas face à alegria contagiante do festejo. O fundador da cidade, o major José Pires Ribeiro, filho de português da freguesia de Belmonte em Portugal, teve a felicidade de obter uma graça do Carpinteiro de Nazaré, ante o infortúnio causado pela epidemia da cólera-mórbus, infestada na região no longínquo ano de 1856 do século XIX. O padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros, vigário Colado da freguesia de Nossa Senhora da Penha de Vila Bela da qual Belmonte pertencia, por força de seu poder de liderança, consagrou o dia 19 de março , a festa máxima do povoado de Belmonte, ocasião em que todos se congraçaram diante do seu querido padroeiro, registrando-se assim, nesse dia, grande número de casamentos e batizados, recebendo algumas crianças o nome de José e depois conhecidos por apelidos de Zé, Zezinho, Zé Pequeno, Zeca, Cazuza e outros acompanhados dos nomes de família ou dos pais.
Os festejos antigamente tinham início no dia 9 de março com o hasteamento solene da bandeira à noite. O encarregado e patrono da bandeira por longos anos foi o Sr. João Batista Frutuoso de Pádua. Com antecedência, o vigário lia e afixava na entrada da Igreja Matriz, a programação do novenário que tinha início no dia 10 de março, dia a dia, relacionando o nome dos noiteiros ou classes, a patrocinarem cada noite. Às 5 da matina, a cidade acordava ao repique dos sinos da Igreja, do som da orquestra de pífanos e barulho de fogos. À noite, a novena era oficializada pelo pároco. Em seguida, o povo se aglomerava no amplo patamar para apreciar o espetáculo pirotécnico e os balões coloridos, ganhando altura.
O largo da Matriz, bem ornamentado, ficava cheio de barracas comerciais e o povo num vai e vem, originando um clima festivo, alegre de parentes, amigos que se encontravam ou se reencontravam num congraçamento agradável, independente de problemas pessoais, políticos, religiosos ou econômicos.
Na última noite do novenário ocorria o leilão. Nesse dia eram organizados bailes, ocasião em que a sociedade local se reunia numa grande comemoração ao padroeiro São José.
No dia 19 de março, sempre às 10 horas da manhã, era celebrada na Igreja Matriz a missa solene do excelso padroeiro; pelas 4 horas da tarde, saia à procissão partindo da Igreja Matriz e percorrendo várias ruas da cidade, conduzindo o andor com a imagem de São José, caprichosamente ornamentada e o povo entoando o hino “Rendamos ó belmontenses” de autoria do padre Joaquim de Alencar Peixoto, composto para a festa do padroeiro de Belmonte do ano de 1918.
Anualmente a história se repete sempre em maior dimensão, é o presente projetado pelo passado que tem a felicidade de conservar uma salutar tradição secular.
Por Valdir José Nogueira de Moura
Colunista de Cultura do Blog do Silva Lima