Em Carnaubeira da Penha, a 510 km do Recife, no Alto Sertão pernambucano, a população fez vista grossa à Lei da Ficha Limpa. Elegeu o ex-prefeito Manoel José da Silva, do PR, que governou o município por duas gestões – pleitos de 2008 e 2012 – e não conseguiu passar no teste das contas sadias no Tribunal de Contas do Estado em 2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Mas não virou ficha suja porque manobrou, impedindo que a Câmara de Vereadores julgasse todos os processos enviados pelo TCE antes da eleição.
O que as urnas falaram, para desespero da população, está envolto num grande mistério, a começar pelo impressionante índice de abstenção: 16,26%, o maior já visto na história do município. Na prática, 1.703 dos 9.231 eleitores aptos a votar não apareceram para exercitar a cidadania, o que gerou um rastro de desconfiança de que o prefeito eleito montou um esquema poderoso para evitar a ida de muita gente até a sua secção eleitoral.
E grande parte desse eleitorado teria alinhamento ao atual prefeito Simão Lopes Gonçalves, o Doutor Neto, do PSB, que perdeu por uma diferença de 1.004 votos. Em 37 sessões, votaram 8.598 eleitores, dos quais 4.801 em Manoel (55,84%) e 3.797 (44,66%) em Neto. Brancos totalizaram 111 votos e nulos 522 votos. O que mais chamou a atenção da população é que as contas mal assombradas do prefeito eleito estavam na pauta de julgamento da Câmara na semana que antecedeu o pleito, mas um parecer do juiz de Floresta acabou favorecendo o republicano.
Há um inconformismo geral no município com a manobra, pelo fato de ter permitido que o candidato do PR não viesse a ter sua candidatura impugnada. Agora eleito, as chances de Manoel ter suas contas julgadas antes da posse são mínimas. Restou para os que não queriam a sua volta choro e inconformismo, até porque suas duas passagens pela Prefeitura só trazem péssimas recordações.
“Durante o tempo em que ele foi prefeito, a água que chegava às nossas casas vinha contaminada de fezes. Não tínhamos merenda de qualidade na única escola municipal que temos na zona urbana. Já chegou a morrer pacientes no único hospital que funcionava por falta de oxigênio”, relata uma leitora indignada pelo fato de o juiz de Floresta não ter permitido a votação das contas do ex-prefeito.
(Da coluna do Magno Martins)