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Política

Como a França preserva e explora seu pedaço da Amazônia na Guiana Francesa

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Do outro lado do Atlântico, falando desde a cidade de Biarritz sobre a necessidade de conter incêndios e desmatamentos na maior floresta tropical do mundo, o presidente francês, Emmanuel Macron, lembrou: “Somos da Amazônia”.

“Estamos todos preocupados. A França sem dúvida está ainda mais que outros atores à mesa, já que somos amazônicos”, disse Macron em vídeo gravado na véspera da reunião do G7 (grupo que reúne as sete maiores economias do mundo), onde o presidente francês protagonizou a inclusão na agenda da situação das queimadas na floresta, sobretudo na parte brasileira.

Como é possível que o país europeu tenha uma parte desta floresta sul-americana? A resposta está na Guiana Francesa, área a nordeste do nosso continente oficializada como uma colônia francesa e escravagista no século 17 e hoje considerada um departamento ultramarino da França – ou seja, como uma província do país europeu, portanto tendo como chefe de Estado o presidente governando em Paris, a 7 mil quilômetros de distância.

E o titular atual do Palácio do Eliseu, Macron, chacoalhou os críticos à gestão francesa da natureza na Guiana ao falar do Brasil, motivando a publicação recente de manifestos por representantes de povos nativos e ambientalistas.

Essas manifestações têm expressado, sobretudo, preocupações com o impacto da mineração – a ilegal é combatida como uma agenda de governo, já a concessão oficial de autorizações para pesquisa e exploração por empresas é alvo de controvérsia.

Fato é, porém, que as pressões sofridas pela natureza da Guiana Francesa são relativamente recentes.

Região amazônica na Guiana Francesa, com casas em palafitas em meio a árvores e na beira do rio

O território, com um tamanho um pouco menor do que o Estado brasileiro de Santa Catarina, tem mais de 90% de sua área coberta por florestas – também na quase totalidade, por florestas primárias, aquelas com pouca ou nenhuma intervenção humana. Os números têm como referência dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) para 2010.

A título de comparação, no Brasil, o valor da cobertura florestal era naquele ano de 60%; no mundo, de 30%.

Boa parte (cerca de um terço) dessa cobertura florestal na Guiana está no Parc Amazonien de Guyane (PAG), criado em 2007 na categoria “parque nacional” – um tipo de área protegida com restrições à intervenção humana e à exploração econômica, apesar de haver exceções para populações originárias, como indígenas que ali vivem e podem por exemplo caçar e pescar para subsistência.

Como indica o nome, é aí, no sul da Guiana, limitada pela divisa com o Amapá, que está o pedaço francês na Amazônia. Na verdade, trata-se da maior área protegida não só da França, mas da União Europeia. Considerando-se toda a área da Amazônia, entretanto, cerca de 1,4% fica na Guiana Francesa, enquanto o Brasil lidera com aproximadamente 58%.

Segundo um relatório da União Europeia, um hectare da floresta da Guiana Francesa abriga mais espécies de árvores do que toda a Europa continental. Com uma área seis vezes menor que a França, a Guiana Francesa tem três vezes mais vertebrados, oito vezes mais peixes de água doce e cinco vezes mais répteis.

Mas muito antes da criação do Parc Amazonien de Guyane, contribuiu também o histórico de ocupação do território da Guiana Francesa.

Fontes consultadas pela BBC News Brasil indicam que, por uma série de motivos (entenda mais abaixo), como dificuldades de chegada e assentamento pelos europeus, historicamente a exploração de riquezas naturais pela França na Guiana existiu ao longo da ocupação mas foi muito mais limitada do que outras experiências coloniais nas Américas e na África.

A ocupação europeia também se concentrou na costa atlântica, onde fica inclusive a capital da Guiana, Caiena. Isso acabou por preservar as florestas ao Sul – como justamente a parcela que faz parte da Amazônia.

Esta história de ocupação tímida também se reflete na população do território – hoje em cerca de 290 mil pessoas, diferente dos países vizinhos Suriname (cerca de 560 mil) e mais ainda do Brasil (209 milhões).

Mas a população vem crescendo rápido, com estimativas de que possa chegar a 400 mil em 2030, contra 220 mil em 2008. Há também um clamor por maior pujança econômica ali, onde o desemprego atinge cerca de 20% da população – mais do que o dobro da porcentagem na França metropolitana. Essas pressões têm preocupado por seu impacto ambiental.

Mapa mostra território da Guiana Francesa com destaque ao Parque Amazônico da Guiana

‘Montanha de Ouro’

O estímulo à economia e a criação de empregos sustentaram os argumentos de Macron no período em que seu governo demonstrou apoio ao projeto de extração mineral industrial Montagne D’Or (“Montanha de Ouro”, em tradução livre), possivelmente seu maior calcanhar de Aquiles na agenda ambiental da Guiana.

Um consórcio russo-canadense fez análises de viabilidade ali, em um ponto a noroeste do território e com interseção com a zona amazônica. Segundo as empresas envolvidas, há na área um potencial de extração de 85 toneladas de ouro e geração de 750 empregos diretos e 3.000 indiretos. O plano do consórcio era entre 2018 e 2019 apresentar o pedido de autorização para exploração às autoridades e que o projeto fosse colocado em consulta pública; a exploração se iniciaria efetivamente em 2022.

“É um projeto que, em minha opinião, pode ser bom para a Guiana”, disse Macron em uma entrevista aos canais televisivos France Télévisions Guayane e ATV em outubro de 2017. “Espero que a Guiana possa ter sucesso com suas riquezas, e não estou em posição de colocá-la (o território) em risco.”

Mas o presidente francês expressou que isso deveria vir com deveres, como uma conformidade a “critérios ambientais de excelência”, a criação de empregos locais, um “retorno justo à Guiana” e respostas ao escrutínio público – que certamente viriam, ele destacou.

E de fato o barulho previsto veio, primeiro sob a forma do movimento Or de question – um trocadilho com a palavra “Or”, que pode significar “ouro” e “fora” – portanto, “Fora de questão”. Com bases na Guiana e na França metropolitana, o movimento influenciou campanha de grandes ONGs mundiais, como WWF e Greenpeace. As preocupações apontadas diziam respeito, entre outros, ao uso de combustíveis fósseis, caminhões, explosivos e ao desmatamento decorrentes da empreitada.

Frequentemente, os rompimentos de barragens no Brasil em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) foram apontados como um possível futuro temido para a Montanha de Ouro.

Macron no parlatório, com bandeiras da França e da União Europeia ao fundo

Após a mobilização e campanhas online, Macron anunciou em maio deste ano que o projeto está suspenso por indicar ser “incompatível” com a política ambiental francesa, mas ressaltou que uma decisão definitiva ainda seria tomada após análise de conselheiros.

“Em todo o caso, há centenas de milhares de hectares ameaçados pela indústria mineradora, seja em projetos com autorização já concedida ou em curso na Guiana”, afirmou à BBC News Brasil por telefone Marine Calmet, porta-voz do movimento Or de Question na França metropolitana.

“O que é claro é que este governo (de Emmanuel Macron) não desacelerou o número de autorizações liberadas. Na realidade, há um número bastante considerável de permissões que foram concedidas depois que Macron assumiu (em 2017)”.

“Penso que Macron cumpriu seu papel como líder no G7 ao alertar sobre a situação da Amazônia, e isso faz parte da diplomacia. Por outro lado, já que o assunto veio à mesa, esperamos avidamente que a gestão do meio ambiente nos territórios (ultramarinos) seja refletida.”

“A mineração industrial ambientalmente responsável é um mito.”

Fez eco a esta crítica uma organização dedicada a representar os povos indígenas e tradicionais da Guiana Francesa, o Grand Conseil Coutumier des Peuples Amérindien et Bushinengé. Em artigo publicado no último domingo 25 no portal France Info, o grupo apoiou que um eventual fundo internacional para gestão da Amazônia fosse gerido por povos nativos e criticou a mineração industrial na Guiana: “Estamos surpresos com a posição do presidente Emmanuel Macron em denunciar a destruição da Amazônia brasileira ou boliviana, mas ao mesmo tempo dá 360.000 hectares de floresta para empresas multinacionais de mineração na Guiana.”

Garimpeiros ilegais vindos do Brasil

Por ser um parque nacional, o Parc Amazonien de Guyane tem, em sua zona principal (diferente da chamada área de adesão, uma interseção entre áreas protegidas e não protegidas), exploração restrita em sua quase totalidade – portanto, não é uma preocupação ali a mineração industrial. Mas o garimpo ilegal, sim – na verdade, segundo relatórios do parque, esta é a principal ameaça à unidade e alvo de fiscalização prioritário.

Dados mostram picos de pontos de garimpo ilegal detectados no parque em meses recentes, com destaques para agosto de 2017 (177) e janeiro de 2018 (171).

Em 2017, foram feitas no parque 112 operações de combate ao garimpo ilegal, 50 delas com parcerias entre a Gendarmerie (força policial subordinada ao Ministério da Defesa) e as Forças Armadas da Guiana Francesa, além da Legião Estrangeira Francesa. No parque e além, as Forças Armadas e órgãos do governo têm uma operação especificamente dedicada ao combate a esta atividade no território, a Harpie.

Por séculos, garimpeiros foram atraídos para essas florestas na busca pelo tesouro. Mas, há pouco mais de uma década, quando o colapso econômico de 2008 fez o preço do ouro disparar, uma corrida pelo material começou por toda a floresta amazônica. Desde então, o preço do ouro continuou a subir e a extração ilegal destruiu florestas do Equador, passando pelo Peru, Colômbia e Venezuela, até o Brasil.

Uma equipe inglesa da BBC acompanhou em maio uma operação conduzida pela Legião Estrangeira (leia a reportagem original em inglês aqui). Os agentes tentam conter os danos gerados por essa atividade altamente predatória, que deixa para trás rastros de desmatamento e do uso de mercúrio no processo de extração, o que intoxica as águas, animais e o ambiente à volta.

“Na maioria as vezes, os garimpeiros são rapazes pobres do Brasil procurando dinheiro fácil. Eles vivem na floresta por meses e meses”, afirmou à reportagem da equipe internacional o capitão Vianney. “Em casa, eles faziam R$ 800 reais por mês para fazer pequenos trabalhos. Na floresta, eles podem ganhar isso em alguns dias.”

Capitão Vianney, fardado, fala no celular no meio da floresta

Clarão aberto da floresta decorrente do garimpo ilegal

É frequente dizer que há na área amazônica da Guiana Francesa entre 8 mil e 10 mil garimpeiros clandestinos atuando, em boa parte brasileiros. A BBC News Brasil pediu a dois ministérios franceses (de la Transition écologique et solidaire e des Outre-mer) e à embaixada da França no Brasil na última segunda-feira (26) dados comprovando a nacionalidade de pessoas detidas, mas não houve resposta – nem a essa nem a todas outras questões sobre a gestão ambiental na Guiana enviadas pela reportagem.

No último dia 27, saiu de Caiena uma carta escrita por Gauthier Horth, membro do Conselho de Administração do Parc Amazonien de Guyane, tendo como destinatário o presidente Emmanuel Macron em Paris.

Na carta, divulgada por veículos da imprensa francesa e à qual a BBC News teve acesso, Horth lembrou da proposta viabilizada e anunciada por Macron de doação, pelo G7, de US$ 22 milhões (cerca de R$ 91 milhões) ao Brasil no combate a incêndios florestais – rejeitada pelo governo brasileiro.

“A mineração ilegal de ouro devasta uma média de 500 hectares de área florestal a cada ano e o Estado francês nunca trouxe uma solução real para esse flagelo que dura mais de três décadas”, diz um trecho.

“Nos últimos três anos em que estamos no Conselho de Administração deste parque, exigimos constantemente que essas áreas degradadas sejam reabilitadas. A administração pública ainda recusa a idéia sob o pretexto de que ‘garimpeiros ilegais voltarão a devastar novamente’.”

“Senhor presidente, não podemos aceitar mais esta situação de injustiça. O contexto em que vivemos exige que vejamos o que podemos fazer em casa. Seria útil enviar para a floresta da Guiana o envelope financeiro que o Brasil não aceitou.”

A quase totalidade das receitas do parque nacional na Guiana vêm de cofres do Estado francês – em 2017, o orçamento destinado a ele foi de 7,9 milhões de euros (cerca de R$ 36 milhões)

Dependência da metrópole

Foguete sendo lançado durante a noite no Centro Espacial de Kourou

A dependência do dinheiro vindo de Paris não se restringe ao parque – na verdade, é um dos principais sintomas dos problemas econômicos da Guiana Francesa, tanto em subsídios quanto em trocas comerciais.

Como outros territórios ultramarinos, esta parte sul-americana da França tem uma balança comercial estruturalmente deficitária. Em 2017, enquanto o território exportou cerca de 133 milhões de euros em produtos, as importações corresponderam a 1,3 bilhão de euros. Na mão e contramão, o principal parceiro comercial é a França metropolitana. Os dados são do órgão governamental Institut d’émission des départements d’outre-mer.

Mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) da Guiana Francesa vem do setor de serviços, mas tem se destacado recentemente a contribuição crescente do Centro Espacial de Kourou, um centro de lançamentos da Agência Espacial Europeia, na região costeira do território.

“Por que a Guiana Francesa é importante para a França e para a Europa? Não tem a ver com a mineração, com a madeira… Essas são referências do passado. A importância geoestratégica da Guiana Francesa é a base de Kourou. É um lugar ideal para lançamentos, pois é bem embaixo da Linha do Equador”, explicou à BBC News Brasil uma fonte próxima ao governo francês na América do Sul que pediu para não ser identificado.

Destaca-se também na Guiana Francesa uma produção em boa parte voltada à subsistência, à diferença do seu gigantesco vizinho.

“A Amazônia brasileira, especialmente no sul, é um terreno usado para a agropecuária, e para a exportação. Não tem quase nenhum gado na Guiana Francesa, não faz parte do modelo econômico”, diz a fonte.

Com isso, explica-se em parte a menor dimensão das ameaças às florestas na Guiana. Um exemplo disso é o número de queimadas, que motivou a repercussão internacional da situação atual da Amazônia no Brasil. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram, por exemplo, que a Guiana Francesa toda registrou 11 focos de incêndio detectados de janeiro a agosto de 2019 (em 2018, foram sete).

O Amapá, Estado brasileiro vizinho com área quase duas vezes maior, teve 7.843 focos de incêndio no mesmo período – uma alta de 108% em relação ao mesmo intervalo de 2018.

Wemerson Costa dos Santos, ativista pela agroecologia no Amapá e membro do Fórum Social Panamazônico, que reúne várias representações da sociedade civil de países amazônicos, lembra também que a capacidade de fiscalização francesa não deve ser subestimada.

“A gente percebe no controle da fronteira, na hora de cruzar para a Guiana Francesa. Eles têm um sistema de sobrevoo muito bom, inclusive com drones, e de monitoramento por satélites também.”

“Aqui no Brasil, o pasto, o agronegócio, as madeireiras, é monstruoso (a pressão exercida sobre o meio ambiente). Se comparar, é residual (a Guiana Francesa comparada ao Brasil).”

Um pouco de história

Mapa antigo mostra parte superior da América do Sul

Desde que os primeiros europeus começaram a pisar no que é hoje a Guiana Francesa, no século 16, a França até desenhou planos ambiciosos para explorar aquelas terras, mas uma combinação de fatores e episódios fizeram com que essa interferência fosse mais tímida se comparada a outros territórios que acabaram sendo mais prioritários para a colônia, como Martinica e Guadalupe, no Caribe.

Já de início, mostrou-se difícil atracar nesse pedaço de terra sob clima equatorial e rodeado por águas turbulentas e barrentas que chegavam dos rios no mar.

O século 17 viu uma sequência de tentativas frustradas de fixação de grupos de algumas dezenas de pessoas, algo agravado por conflitos com as populações nativas e outros europeus que disputavam ferrenhamente o continente sul-americano naquela época – franceses haviam sido expulsos, por exemplo, do Rio de Janeiro e do Maranhão.

Eram poucos milhares os habitantes do território quando, ao longo do século 18, escravos africanos foram forçados a atravessar para a Guiana – também em uma dimensão menor na comparação com outras colônias.

No final do século 18, o plano mais ambicioso para aquele território, visando sua ocupação, defesa militar e produção de bens, se mostraria também um de seus episódios mais catastróficos. Entre 1764 e 1765, cerca de 12 mil colonos desembarcaram na Guiana Francesa, das quais 7 mil já estavam mortas por doenças em outubro de 1765, outras 3 mil retornaram à Europa e apenas 1,8 mil de fato fizeram vida ali.

A maioria dos sobreviventes foi resgata nas ilhas que, por isso, ficariam conhecidas como ilhas da Salvação. O episódio ficou conhecido como “expedição de Kourou”, nome do destino principal dos colonos. Também foi batizada a “síndrome de Kourou”, ou seja, a consolidação do destino terrível que seria habitar a Guiana.

A partir da Revolução Francesa, a Guiana Francesa se torna oficialmente um local para desterrados – prisioneiros.

Ao longo destes séculos, houve experiências de exploração madeireira e plantio de açúcar e madeira – mais uma vez, modestas.

(Fonte: “Em torno das origens da Guiana Francesa: dos primórdios ao século XIX”, artigo do historiador Iuri Cavlak)

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Política

Zanin atende a pedido de Lula e suspende desoneração da folha de empresas e prefeituras

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O ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), atendeu a pedido do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e suspendeu nesta quinta-feira (25) trechos da lei que prorrogou a desoneração da folha de empresas e prefeituras.

A ação foi apresentada ao Supremo nesta quarta (24). A petição foi é assinada pelo próprio presidente e pelo chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), ministro Jorge Messias.

O principal argumento é que a desoneração foi aprovada pelo Congresso “sem a adequada demonstração do impacto financeiro”. O governo diz que há violação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e da Constituição.

Na decisão liminar -ou seja, provisória-, Zanin considerou que, sem indicação do impacto orçamentário, poderá ocorrer “um desajuste significativo nas contas públicas e um esvaziamento do regime fiscal constitucionalizado”.

A suspensão tem efeito imediato. Zanin, porém, submeteu a decisão aos colegas. Os demais ministros vão analisá-la em sessão virtual que se inicia na madrugada desta sexta-feira (26) e termina no dia 6 de maio.

A liminar levou a reações de congressistas e de setores produtivos. Para o presidente do Senado e também do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), trata-se de um “terceiro turno”.

Ao fundamentar a decisão, o ministro que foi advogado de Lula nos casos da Lava Jato afirmou que, em 2000, “o país passou a buscar a responsabilidade fiscal com a valiosa participação do Congresso Nacional”, citando a lei que trata do tema.

Ele acrescentou que, no entanto, “as regras fiscais aprovadas naquela oportunidade passaram por um processo de flexibilização ao mesmo tempo que houve um aumento desordenado de despesas públicas nos últimos anos”.

Zanin menciona, então, a regra do teto de gastos, aprovada pelo Congresso em 2016, durante a gestão Michel Temer (MDB), que limitava o crescimento das despesas do governo federal.

“[A emenda à Constituição do teto foi] aprovada em prazo exíguo e num momento político conturbado do país, tudo para reforçar a intenção das Casas Legislativas de promover o efetivo controle das contas públicas.”

Segundo o ministro, “a diretriz da sustentabilidade orçamentária foi, portanto, eleita pelo legislador como um imperativo para a edição de outras normas, sobretudo aquelas que veiculam novas despesas ou renúncia de receita”.

Zanin afirmou ainda que cabe ao STF ter “um controle ainda mais rígido para que as leis editadas respeitem o novo regime fiscal”. Hoje, no país vigora o chamado arcabouço fiscal.

A desoneração da folha foi criada em 2011, na gestão Dilma Rousseff (PT), e prorrogada sucessivas vezes. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência.

A desoneração vale para 17 setores da economia. Entre eles está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

A prorrogação do benefício até o fim de 2027 foi aprovada pelo Congresso no ano passado e o benefício foi estendido às prefeituras, mas o texto foi integralmente vetado por Lula. Em dezembro, o Legislativo decidiu derrubar o veto.

Em reação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enviou uma MP ao Congresso, propondo a reoneração gradual da folha de pagamentos e a consequente revogação da lei promulgada após a derrubada do veto.

A medida, anunciada em 28 de dezembro do ano passado, valeria a partir de 1º de abril.

O novo texto sofreu resistências do Congresso, e o governo precisou revogar o trecho da reoneração das empresas na tentativa de buscar um acordo político. Ao mesmo tempo, o Executivo enviou um projeto de lei tratando da redução gradual do benefício.

No início de abril, Pacheco desidratou ainda mais a MP e decidiu derrubar do texto o trecho que reonerava as prefeituras.

A decisão do governo de judicializar o tema vem depois da constatação de que não foi possível chegar a um acordo político com os congressistas. A iniciativa já provocou protestos.

TERCEIRO TURNO

Pacheco, em nota, disse que o governo “erra ao judicializar a política e impor suas próprias razões, num aparente terceiro turno de discussão sobre o tema da desoneração da folha de pagamento”.

Ele disse que respeita a decisão de Zanin e que buscará apontar os argumentos do Congresso.

“Mas também cuidarei das providências políticas que façam ser respeitada a opção do parlamento pela manutenção de empregos e sobrevivência de pequenos e médios municípios”, afirmou Pacheco, que vai se reunir nesta sexta (26) com o setor jurídico do Senado e convocará uma reunião de líderes.

Relator da proposta no Senado, Ângelo Coronel (PSD-BA) disse que o governo “prega a paz e a harmonia e age com beligerância”.

“Esperamos que a maioria do STF derrube essa ADI [ação direta de inconstitucionalidade] proposta pelo governo federal que não acatou a decisão da maioria esmagadora da Casa das leis”, disse.

Já o deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA), presidente da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo), afirmou que o movimento do Executivo em buscar o Judiciário “contribuirá para prolongar o tensionamento nas relações com o Legislativo”.

Em nota, a presidente da Feninfra (Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática), Vivien Melo Suruagy, disse a decisão “vai estimular a quebra de empresas e causar demissões”, afirmou Suruagy.

A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) lamentou a decisão. “Isso impactará na competitividade das cadeias produtivas, com possíveis efeitos negativos sobre a manutenção dos empregos e potenciais efeitos inflacionários”, afirmou a entidade.

Fonte:FOLHAPRESS

 

 

           

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Política

Lira pede que Felipe Neto seja investigado por injúria após ser chamado de ‘excrementíssimo’

O influenciador nega que tenha tido a intenção de ofender a honra do parlamentar.

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Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), acionou a Polícia Legislativa após o influenciador e youtuber Felipe Neto chamá-lo de “excrementíssimo” durante uma sessão da Casa realizada nesta terça-feira, 23. No ofício, enviado no mesmo dia, o alagoano determinou que Neto seja investigado por injúria. O influenciador nega que tenha tido a intenção de ofender a honra do parlamentar.

O influenciador participou virtualmente do simpósio “Regulação de Plataformas Digitais e a urgência de uma agenda”. A reunião discutiu uma posição mais efetiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao PL 2630/2020, mais conhecido como PL das Fake News.

Em discurso, Felipe Neto defendeu que a regulação das redes sociais deve ser feita após uma discussão popular. Em seguida, ele atacou Lira, chamando-o de “excrementíssimo”.

“É preciso, fundamentalmente, que a gente altere a percepção em relação ao que é um projeto de lei como era o 2.630. Que foi, infelizmente, triturado pelo excrementíssimo Arthur Lira. Se não tivermos o povo do nosso lado, os deputados não vão votar, a gente já sabe como funciona”, afirmou o influenciador.

A “trituração” citada por Felipe Neto faz referência à decisão de Lira de criar um grupo de trabalho para discutir fake news e regulação das redes sociais, mas sem a relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que está à frente do texto do PL 2630/2020. O alagoano declarou, no último dia 9, que a proposta relatada por Orlando está “contaminada” e “não ia a canto nenhum”.

No ofício enviado por Lira à Polícia Legislativa, o presidente da Câmara afirma que Felipe Neto “proferiu expressões injuriosas” contra ele e pede que a corporação adote “providências cabíveis”.

“Nesse contexto, considerando que os fatos acima relatados podem configurar a prática de crimes contra a honra, ocorridos nas Dependências da Câmara dos Deputados, determino a adoção das providências cabíveis, no que tange à competência dessa Polícia Legislativa”, completou o presidente da Câmara.

Felipe Neto disse que não teve a intenção de ofender Lira

Felipe Neto usou as redes sociais nesta quinta-feira, 25, para responder à abertura do inquérito pela Polícia Legislativa. O influenciador disse que não conhece o presidente da Câmara pessoalmente, mas que considera que as “suas ações e inações são, em grande parte, nocivas e extremamente reprováveis”.

“Minha intenção, ao citar ‘excrementíssimo’, foi claramente fazer piada com a palavra “excelentíssimo”, uma opinião satírica, jocosa, evidentemente sem intenção de ofensa à honra”, afirmou o influenciador.

Foto Getty

Por Estadão

           

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Política

Zanin será relator de ação do governo contra desoneração

A escolha de Zanin para relatar o caso foi feita por prevenção, já que ministro já atua como relator em uma outra ação sobre a questão.

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin será o relator da ação na qual o governo federal pretende derrubar a desoneração de impostos sobre a folha de pagamento de 17 setores da economia e de determinados municípios. Mais cedo, a ação foi protocolada  pela Advocacia-Geral da União (AGU).

A escolha de Zanin para relatar o caso foi feita por prevenção. O ministro já atua como relator em uma outra ação sobre a questão. Não há previsão para a decisão do ministro.

No entendimento da AGU, a desoneração foi prorrogada até 2027 pelo Congresso Nacional, sem estabelecer o impacto financeiro da renúncia fiscal. A petição foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo advogado-geral da União Jorge Messias.

A ação também contesta a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que invalidou trecho da Medida Provisória (MP) 1.202/2023. A MP derrubou a desoneração previdenciária para pequenas e médias prefeituras.

Foto Getty

Por Agência Brasil

           

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