A aliança rebelde síria liderada por grupos islamistas anunciou, neste domingo (8), que tomou o controle de Damasco em uma ofensiva relâmpago, que derrubou o regime de Bashar al-Assad, cuja família governou o país com mão de ferro durante meio século, mergulhando o país em um período de incerteza.
Dezenas de pessoas invadiram a residência luxuosa de Assad em Damasco depois que o presidente fugiu do país ao perder o apoio da Rússia. A casa foi saqueada.
Uma sala de recepção do palácio presidencial, em outro bairro, foi incendiada, segundo correspondentes da AFP. Dezenas de pessoas saíram às ruas, segundo imagens da AFPTV, para celebrar a queda do regime.
As imagens mostram várias pessoas pisoteando uma estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar.
“Esperávamos por este dia há muito tempo”, disse Amer Batha por telefone à AFP de uma praça na capital síria, onde o barulho dos tiros em sinal de alegria se misturava com os gritos de “Allahu Akbar” (“Deus é grande”).
Na televisão pública, os rebeldes anunciaram a queda do “tirano” Bashar al-Assad e a “libertação” de Damasco. Também afirmaram que libertaram todos os prisioneiros “detidos injustamente”.
O canal no Telegram da aliança anunciou algumas horas depois a chegada de seu líder, Abu Mohamad al Jolani, a Damasco. Em um vídeo, ele aparece ajoelhado e aproximando a cabeça do chão.
O enviado das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen, chamou a tomada de Damasco de “momento decisivo”, mas pediu “esperanças prudentes” após a queda do regime.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que Assad renunciou e deixou o país, sem revelar o destino.
Israel celebra “dia histórico”
A Casa Branca afirmou que o presidente em fim de mandato, Joe Biden, acompanha “com atenção os acontecimentos extraordinários” na Síria.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que a queda do governo é “positiva” e mostra “a fragilidade” de alguns de seus apoios, Rússia e Irã.
A televisão estatal iraniana informou que a embaixada do país em Damasco foi saqueada. Os diplomatas iranianos deixaram a representação antes do ataque, informou o jornal Tehran Times.
A saída de Assad representa um “dia histórico no Oriente Médio”, reagiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Israel descreveu o presidente deposto como um “elo central do eixo do mal” dirigido por Teerã.
O país não permitirá que “nenhuma força hostil” se estabeleça na fronteira, acrescentou Netanyahu, que ordenou a seu exército que assuma o controle da zona síria do Golã.
A Síria é cenário de uma guerra civil desde a violenta repressão em 2011 pelo regime de Assad das manifestações pró-democracia no país, no contexto das denominadas “primaveras árabes”.
Após anos de estagnação, em 27 de novembro uma aliança rebelde liderada por islamistas iniciou uma ofensiva relâmpago no noroeste do país. Os insurgentes conquistaram rapidamente várias cidades, com o objetivo de chegar a Damasco e derrubar o presidente.
“Milhões de sírios que foram obrigados a abandonar suas casas podem retornar para sua terra”, afirmou em Doha o ministro das Relações da Turquia, Hakan Fidan. Ancara apoiou os rebeldes sírios.
A Turquia está disposta a ajudar a Síria a “garantir sua unidade e segurança”, escreveu na rede social X.
A guerra na Síria deixou meio milhão de mortos e dividiu o país em zonas de influência, com forças beligerantes apoiadas por potências estrangeiras.
Ofensiva rebelde relâmpago
“Depois de 50 anos de opressão sob o governo do partido Baath e 13 anos de crimes, tirania e deslocamento (desde o início da revolta em 2011), anunciamos hoje o fim da era obscura e o início de uma nova era para a Síria”, afirmaram os rebeldes.
O líder do grupo islamista radical Hayat Tahrir al Sham (HTS), Abu Mohammad al Jolani, que lidera a coalizão rebelde, pediu a seus combatentes que não se aproximem das instituições, que permanecem sob a autoridade do primeiro-ministro até a “transferência oficial” do poder.
O grupo libanês Hezbollah, um apoio crucial de Assad, retirou suas forças das imediações de Damasco e da região de Homs, no oeste do país, informou uma fonte próxima do movimento.
A coalizão rebelde liderada pelo HTS, um grupo foi vinculado à Al Qaeda, conseguiu um avanço espetacular em apenas 10 dias, tomando as cidades de Aleppo, Hama e Homs até sua entrada em Damasco.
As tropas do governo também perderam o controle da cidade de Daraa, berço da revolta de 2011 e localizada ao sul da capital, perto da fronteira com a Jordânia.
Fonte: AFP
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