Dono do negócio investiu até mesmo na criação de cartão fidelidade para o lava a jato (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Desde 2014, o termo “Lava Jato” ganhou uma nova conotação no país e passou a ser associado não somente à limpeza de carros, mas também à operação da Polícia Federal (PF) que investiga, entre outros crimes, a lavagem de dinheiro na Petrobras. Num estabelecimento em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, “Operação Lava Jato” ainda tem sentido literal e dá nome a um negócio aberto há cerca de três meses, que chama atenção por ter “José Dirceu”, “Lula” e “Petrobras” como nomes dos serviços de lavagem de veículos.
“José Dirceu” passou a ser a o codinome para lavar o carro apenas por fora. “Petrobras” é o serviço para quem quer a lavagem do veículo e a aspiração do interior do carro. “Lula”, por outro lado, é o nome do serviço completo: lavagem, aspiração e polimento do carro.
A ideia surgiu há cerca de três meses, depois de o técnico em eletrônica Bruno Bacelar ser demitido de uma empresa de instalação de TV, internet e linhas telefônicas devido ao corte de gastos na companhia. Sem emprego, ele se uniu à esposa, Poliany Barros, numa única missão: encontrar o segmento ideal para ganhar dinheiro e superar a perda da renda fixa e finalmente realizar o sonho antigo de abrir o próprio negócio.
Depois de listar várias opções, o casal viu na lavagem de carros uma oportunidade de aliar um hobby de Bruno à necessidade de pagar as contas e, de quebra, usar uma das operações mais conhecidas da Polícia Federal como a principal propaganda do serviço.
“Se ele [Bruno] pudesse, lavava o carro todos os dias. Levamos isso em conta na hora em que pensamos no que fazer e terminamos escolhendo esse segmento, porque também tínhamos dinheiro suficiente para montar o lava a jato”, conta Poliany. Depois de escolhido o negócio, chegou a hora de usar a criatividade e escolher uma forma diferente de divulgar a empresa, localizada no bairro de Piedade.
Negócio foi montado há cerca de três meses e chama a atenção dos clientes pelo nome dos serviços (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
“Sempre assisti aos noticiários e estive muito atento à política no país. Por isso, achei que a Operação Lava Jato seria uma boa forma para chamar a atenção dos clientes”, revela o empresário.
Além da tradicional pesquisa de mercado que um empreendedor costuma fazer antes de abrir o negócio, o casal também fez um levantamento dos envolvidos na operação para escolher quais deles dariam nome aos serviços. “Já temos um cartão fidelidade e estamos estudando outros nomes para acrescentar nos nossos serviços”, conta o empreendedor.
Diferencial
Para Bruno, a forma descontraída de chamar os serviços é uma forma de se destacar em meio à concorrência acirrada no bairro. “Existem quatro outros lugares que lavam carros aqui perto e, por isso, fizemos uma pesquisa de preços e também tivemos cuidado para escolher as pessoas que dariam nome aos serviços. Hoje em dia, 90% da minha clientela vem aqui só por causa desses nomes”, comemora Bruno.
Também desempregada na época da inauguração do lava a jato, Poliany trabalhou com o marido até conseguir um emprego de secretária, há um mês. “Hoje em dia, só trabalho com ele aos fins de semana. O movimento tem aumentado e, se continuar desse jeito, vamos ter que contratar um ajudante. Espero que continue assim”, declara.
Com o lava a jato, Bruno conseguiu unir um hobby à necessidade de ganhar dinheiro (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Entenda as referências
Deflagrada em 17 de março de 2014 pela PF, a Operação Lava Jato investiga um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. Em balanço divulgado em abril de 2015, a empresa admitiu perdas de R$ 6,2 bilhões com a corrupção no ano anterior. A Polícia estima em R$ 19 bilhões o prejuízo na estatal.
No início de junho de 2016, o ex-ministro José Dirceu foi considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa e foi condenado 20 anos e 10 meses de prisão, mas recorreu da decisão. No fim do mesmo mês, o ex-ministro se tornou réu pela segunda vez na operação pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Apesar do pedido de habeas corpus, a decisão foi negada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e Dirceu continua preso.
De acordo com as investigações da operação da PF, o ex-ministro teria simulado contratos com empresas para receber R$ 1,7 milhão desviado da Petrobras. Entretanto, a defesa nega as acusações e diz que ele efetivamente prestou serviços de consultoria para construtoras e outras firmas.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado por três vezes pela PF dentro da mesma operação, por crimes como corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, entre os meses de julho e outubro de 2016. No mês de julho, ele e outros quatro réus foram acusados de tentar obstruir a Justiça comprando o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores do esquema de corrupção que atuava na estatal.
Na época, os advogados de Lula afirmaram que ele havia esclarecido, num depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), que “jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato”.
No mês de agosto, o ex-presidente foi acusado de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A PF passou a investigar supostas irregularidades na aquisição e na reforma de um apartamento triplex do Edifício Solaris, no Guarujá, no litoral de São Paulo, e no depósito de bens do ex-presidente. Por meio do Instituto Lula, as acusações foram negadas.
O ex-presidente virou réu pela terceira vez no mês de outubro, acusado de receber vantagens indevidas da OAS, como reforma no triplex do Guarujá e armazenamento do acervo pessoal. À época, as acusações foram novamente negadas e o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, afirmou que Lula é “vítima” de uma “guerra travada por meio da manipulação das leis para atingir alguém que foi eleito como inimigo político”.
(Do G1 PE)