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Uma das áreas da economia mais prejudicadas por causa da pandemia, o setor de eventos culturais se vê, mais uma vez, em um momento delicado por causa dos crescentes casos de Covid-19 e gripe H3N2 nas últimas semanas. Com a possibilidade de um novo pico de internações, com duas epidemias circulando a nível nacional, o governo de Pernambuco recuou e fez novos protocolos em adaptação à situação sanitária. Os anúncios não forem bem vistos pelos produtores de eventos, tendo em vista que afirmam a falta de consulta ou anúncio prévio para adaptar shows, festas e espetáculos que estavam marcados anteriormente à decisão do Estado.
Parados durante quase toda a pandemia de Covid-19, desde março de 2020, os eventos tinham retornado aos poucos no segundo semestre de 2021. O momento marcou um avanço na vacinação contra a doença que, por sua vez, teve o número de casos graves e internações em leitos diminuindo. Menos de seis meses depois, o Estado fez um recuo na segunda-feira (09), ao anunciar que os eventos terão capacidade máxima de 3 mil pessoas. Além disso, só terão acesso a eles pessoas com passaporte vacinal com as duas doses, além da testagem com resultado negativo para a covid-19. A regra vale para qualquer concerto ou espetáculo cultural que envolva público acima de 300 pessoas.
O sócio-diretor da Tampa Entretenimento, Henrique Figueira, explica que o setor não foi consultado para o desenvolvimento dos novos protocolos sanitários. “Ninguém foi consultado no setor. Nós temos duas festas no final do mês, menores para 2 mil pessoas. Vamos manter normalmente, temos uma com Academia da Berlinda no Armazém 14 e outra em Tamandaré. Tem o nosso Carnaval do Parador e a gente vai se adequar ao protocolo do governo, para 3 mil pessoas”, explica o promotor de eventos. Normalmente, o Parador tem uma capacidade 5 mil pessoas.
“A conversa que eu tenho com o setor é a falta de diálogo com o governo, que não chamou ninguém para conversar. Nós passamos dois anos parados, com a quantidade de mortes por causa pandemia, e nunca fizemos questão de nada. Ficamos calados o tempo todo”, enfatiza Henrique, esclarecendo que o momento atual da crise sanitária é melhor do que no pico da doença.
Já de acordo com Waldner Barreto, que é diretor regional da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), o governo tem conversado com o setor, porém, desta vez, foi pego de surpresa com o anúncio feito nesta semana. “Não posso dizer que não houve diálogo. Participamos de todas as conversas na elaboração de protocolos com o governo, tivemos uma receptividade com o secretário de Turismo. Mas desta vez não tivemos conhecimento da decisão”, conta o diretor.
Atuando junto ao governo estadual nos últimos protocolos, o setor cultural foi pego desprevenido com as novas autorizações. Alguns dos espetáculos, que estavam previstos para os dois próximos finais de semana, já tinham excedido a capacidade estipulada com o novo plano de convivência com as doenças respiratórias. Com isso, produtoras decidiram cancelar ou adiar datas para a realização de shows no território estadual.
“De acordo com o novo decreto do governo do Estado de Pernambuco, se tornou inviável a realização do festival Verão Maria Farinha. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. Os valores dos ingressos serão válidos como crédito para os próximos eventos”, disse o comunicado do festival Verão Maria Farinha, que estava realizando shows nos últimos finais de semana. Para o dia 16 de janeiro, a produtora havia confirmado shows de Jorge e Mateus, Dennis e Matheus Fernandes na estrutura localizada em Paulista, no Litoral Norte.
Marcada para acontecer apenas em 20 de fevereiro, a prévia carnavalesca Olinda Beer também decidiu suspender a próxima edição. “De acordo com o novo decreto do governo do Estado de Pernambuco, a realização do festival Olinda Beer se tornou inviável. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. Os valores dos ingressos serão válidos para a nova data que será divulgada em breve”, diz o comunicado do evento, que tinha como atrações Ivete Sangalo, Claudia Leite, Thiaguinho, Barões da Pisadinha, Leo Santana, Bell Marques, Wesley Safadão e Priscila Senna.
A Ceroula, que completou 60 anos em 2022, também decidiu cancelar suas comemorações. Uma das agremiações mais tradicionais de Olinda, a troça realizaria uma festa com Diogo Nogueira, Art Popular e Fundo de Quintal. “De acordo com o novo decreto do governo do Estado de Pernambuco, se tornou inviável a realização da prévia de Carnaval Ceroula. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. O reembolso deverá ser unicamente solicitado através do e-mail: atendimento @bilheteriadigital.com”, frisa a organização.
Algumas produtoras decidiram reduzir o público e esgotar os ingressos à venda, como o We Do na Praia. “Fomos pegos de surpresa, mas em respeito ao nosso público a We DO na Praia está confirmada e os ingressos, a partir de agora, estão esgotados. Mesmo amargando um enorme prejuízo financeiro, estamos confirmados em capacidade reduzida atendendo ao novo protocolo do governo do Estado de Pernambuco”, afirma o comunicado do evento, que vai acontecer no sábado (15), em Maracaípe, Litoral Sul de Pernambuco.
Mais medidas
A presidente da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (ABEOC) seção Pernambuco, Tatiana Marques, diz que o setor é a favor das normas sanitárias e que a atividade tem cumprido bem os protocolos, mas discorda que os eventos estejam associados ao aumento do número de casos e seja constantemente penalizado.
“Falta diálogo com quem tem conhecimento sobre o que é um evento. Exigir a vacinação, álcool, lavar as mãos e usar máscara é inquestionável, sobretudo com o H2N3 virando o Recife e o Brasil todo de cabeça pra baixo, mas faltam outras medidas. Por que não pensamos em disponibilizar teste de RT-PCR para a população aliado à vacina? Os eventos corporativos, científicos e técnicos cumpriram e cumprem bem os protocolos. Não é justo a atividade correr o risco de parar tudo. O setor não aguenta. Quem foi o gênio da epidemiologia que descobriu essa preferência do coronavírus por eventos?”, ironiza.
A presidente da ABEOC diz que faltam informações sobre os prejuízos sofridos pelo setor, mas um dos maiores impactos foi o desfazimento de equipes inteiras de profissionais. “As pessoas tiveram que correr para sobreviver indo fazer outra coisa e este não é um ativo que ser reconstrói de uma hora para outra. Saúde e lazer são direitos constitucionais e o setor está disposto a contribuir com os protocolos, mas não merece ser penalizado”, defende.
Prejuízo
O momento é delicado para o setor cultural. Segundo uma pesquisa do IBGE, o número de trabalhadores da cultura caiu 11,2% em 2020, justamente no ano em que festas e eventos foram paralisados. Ao todo, a arte perdeu 600 mil trabalhadores, que envolvem técnicos, músicos, artistas e outras pessoas que ficam nos bastidores de eventos. O prejuízo chega, também, em meio à queda de investimentos por parte do governo federal com o setor. Em 2020, de tudo o que foi gasto pelo governo federal, apenas 0,08% foi destinado à cultura.
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