Presidente do partido desde 2001, Temer foi candidato único em convenção.
À frente de seis dos 31 ministérios, PMDB vive desgaste com Planalto.
Há 15 anos à frente do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, foi reconduzido ao cargo pelos próximos dois anos em convenção realizada em Brasília neste sábado (12).
Candidato único, Temer recebeu 537 votos favoráveis de um total de 559, segundo a secretaria-executiva do PMDB. 11 votos foram contrários à chapa, 6, em branco, e 5, nulos. Ao todo, 390 convencionais votaram, mas parte deles tem direito a votar mais de uma vez.
A recondução de Temer ao cargo ocorre em meio a um momento conturbado na relação entre o Palácio do Planalto e integrantes do partido. Na Câmara, por exemplo, parte da bancada vota de forma contrária aos interesses do governo e defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na convenção do partido neste sábado, os temas que predominaram nos discursos dos peemedebistas foram a defesa do impeachment de Dilma, o rompimento com o governo e um maior protagonismo do PMDB na política nacional. Também foram ouvidos da plateia vários gritos de “Fora, Dilma” e “Temer presidente” (veja vídeo abaixo).
Embora o PMDB detenha seis ministérios atualmente, nenhum dos oradores inscritos para discursar na convenção defendeu o governo. Estavam presentes à convenção os ministros Hélder Barbalho (Portos), Marcelo Castro (Saúde), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), mas nenhum deles se manifestou em defesa do governo.
O próprio Michel Temer, desde o ano passado, se afastou ao Dilma ao enviar uma carta a ela na qual apontou desconfiança da petista em relação aos trabalhos dele. Na mensagem, ele disse sentir-se como um vice “decorativo” da presidente, o que gerou intensa repercussão política em Brasília. Neste sábado, no entanto, ao discursar, Temer mencionou a crise política “gravíssima” e disse que não é hora de “acirrar ânimos”.
“Não podemos ignorar que o país enfrenta uma gravíssima crise política e econômica. Mas não podemos deixar – e esta é a tarefa do PMDB – que os graves problemas comprometam os ganhos sociais alcançados nos últimos tempos”, disse Temer.
Na convenção, o PMDB também decidiu que não irá assumir novo ministério até que se defina, em até 30 dias, se a sigla deixará o governo e se tornará independente. Atualmente, chefiada pelo interino Guilherme Amado, a Secretaria de Aviação Civil foi oferecida à bandada de Minas Gerais do PMDB na Câmara dos Deputados durante a eleição do líder do partido na Casa, Leonardo Picciani, no início deste ano. Picciani era o nome apoiado pelo Palácio do Planalto.
Convidado para vomandar a pasta, o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) afirmou neste sábado que definirá com Temer se assume o posto.
Giro pelo país
Na tentativa de construir o apoio necessário para ser reconduzido neste sábado à presidência doPMDB, Temer deu início a uma série de viagens pelo país no fim de janeiro. Ao todo, ele visitou 15 estados, onde se reuniu com peemedebistas, representantes de entidades e empresários. Nesses encontros, ele fez discursos nos quais pregou a “unidade” ao país e reafirmou que, em 2018, a legenda terá candidato próprio ao Palácio do Planalto.
Composição
Em meio a resistências internas no PMDB em relação ao nome dele, Temer teve de buscar integrar o PMDB no Senado na composição da direção nacional do partido para evitar que houvesse uma chapa adversária patrocinada pelos caciques da legenda na Casa como Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR) – esses dois últimos aliados do presidente do Congresso.
Nos bastidores, senadores atribuíram a movimentos de Temer e Cunha destituição do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), no ano passado, e chegaram a cogitar uma candidatura adversária a Temer para que ele não fosse reconduzido à presidência do PMDB.
Por Filipe Matoso, Nathalia Passarinho e Laís Alegretti – Do G1, em Brasília