O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse em entrevista à Folha de S.Paulo que Jair Bolsonaro é perseguido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e insinua que Alexandre de Moraes, presidente da corte, provoca os apoiadores do ex-presidente com suas decisões.
“Aí vão julgar o Bolsonaro, tem tantos dias para escolher do mês, ele escolhe o dia 22 [número do PL]. Isso, o cara do PL, da direita, que fez isso com ele [agrediu Moraes] lá na Itália, acompanha. Esse é o problema. Não somos nós que fazemos campanha contra ele. Ele [o apoiador de Bolsonaro] vê um negócio desse e não se conforma.”
Valdemar ainda afirma que Bolsonaro não tem esperanças de conseguir ser candidato até 2030, mas que o PL estuda recorrer a tribunais internacionais para reaver esse direito.
Avalia também que caberá a Bolsonaro escolher quem disputará a Presidência pela direita em 2026 e que ele mantém boa relação com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
PERGUNTA – Alguns aliados dizem que o Bolsonaro é o maior cabo eleitoral do país. O sr. prefere ele inelegível, como cabo eleitoral?
VALDEMAR COSTA NETO – Queria que fosse candidato de novo. A presidente. Fiquei triste com essa decisão do TSE. Nunca aconteceu isso no planeta de deixar um cidadão inelegível, que não tinha nem mandato. Nunca.
P – Mas ele tem rejeição.
VCN – É Ele teve um comportamento, na minha opinião, difícil com o Supremo, mas nunca fez nada errado.
P – Comportamento difícil ou golpista?
VCN – Não, não golpista. Pelo contrário, ele nunca fez nada fora da lei.
P – Ele exortou a não obediência de decisões judiciais.
VCN – E o pessoal ficou um tempo assustado. Ele estava muito agitado antes e todo mundo achava que iria fazer alguma coisa no 7 de setembro retrasado. Eu, inclusive, achava que ele ia fazer.
P – E mesmo assim o sr. continuou a apoiá-lo.
VCN – Sim, mas ele não fez nada. Ele não falou que ia fazer alguma coisa, a gente entendia que ia fazer. E o Supremo deve ter ficado numa situação difícil, [com medo] do que ele iria fazer. Mas [ele] não fez nada errado.
P – No ano passado, o sr. defendeu o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e falou que todo mundo tinha minuta de golpe.
VCN – Todo mundo me parava no aeroporto e falava: vão deixar esse presidente assumir? Cada voo, umas oito pessoas, dez pessoas. E eu dizia: acabou a eleição, não temos mais o que discutir.
P – Até chegar a 8 de janeiro, Bolsonaro colocou em xeque a lisura das urnas eletrônicas e o PL não só endossou, como reforçou esse discurso. Vocês fizeram uma auditoria questionando as urnas. O sr. se arrepende?
VCN – Não. Contratei [a auditoria] porque o próprio tribunal incentivava a gente a fiscalizar. Consegui encontrar aquele pessoal do ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica], que tinha uma fundação. E eles chegaram com essa novidade para mim, do primeiro para o segundo turno. Aí eu questionei o TSE.
O Alexandre de Moraes não me respondeu nada e me deu uma multa de R$ 22,9 milhões. É isso que o pessoal da direita não se conforma. Por isso que atacam ele [Alexandre]. Um partido levar uma multa dessa? E R$ 22,9 milhões, que são dois mais dois, mais nove, que é o número 13, do PT. Que engraçadinho. Eles devem achar muito gozado isso aqui.
Aí vão julgar o Bolsonaro, tem tantos dias para escolher do mês, ele escolhe o dia 22 [número do PL]. Isso, o cara do PL, da direita, que fez isso com ele [agrediu Moraes] lá na Itália, acompanha. Esse é o problema. Não somos nós que fazemos campanha contra ele. Ele [o apoiador de Bolsonaro] vê um negócio desse e não se conforma.
P – O sr. quer dizer que Moraes toma medidas autoritárias?
VCN – Isso não é [medida] autoritária, é uma brincadeira. Dois mais dois, mais nove é igual a 13. Número do PT.
P – Acha que ele pensou nisso?
VCN – E o 22, você acha o quê? Você não acha que ele pensou nisso? Julgou Bolsonaro dia 22 no TSE. Você acha que foi ao acaso?
P – O sr. vê Bolsonaro perseguido pelo Moraes?
VCN – Bolsonaro é perseguido, lógico. Foi perseguido pelo TSE, foi injustiçado. Ele jamais podia ficar inelegível. Isso o camarada da direita vê. Eles são esclarecidos, gente de opinião.
P – O sr. chama de gente de opinião, mas o ministro Alexandre Moraes foi agredido e hostilizado, na Itália.
VCN – Acho errado isso. Tem que ter educação e respeito pelos outros, ainda mais por autoridade. Porque, se você não tiver respeito pela autoridade, acaba o país.
P – Quem está errado então?
VCN – Eu acho que o TSE está agindo mal com o Bolsonaro por ter deixado ele inelegível. O pessoal da direita acompanha isso. E daí reage.
P- O 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe?
VCN – Ali não, porque ninguém dá golpe com um pedaço de pau na mão. Golpe é com metralhadora, com tanque de guerra. Chamam de golpista o pessoal do 8 de janeiro e a maioria ficou gritando ‘não quebra’. O PT que tinha que ter posto policiamento lá. Gente ruim tem em todo lugar e essa gente tem que pagar.
P – Mas o comportamento do Bolsonaro não influenciou?
VCN – Não.
P – Vai ser possível retomar o direito de Bolsonaro se candidatar a presidente?
VCN – Não sei. Estamos estudando agora outra forma para ver se tem algum órgão internacional. Para o Bolsonaro, está liquidado o assunto. Ele falou ‘Não adianta, do jeito que estão as coisas, esse pessoal vai me deixar impedido de ser candidato’.
Eu pedi para uma pessoa amiga fazer um estudo na área internacional, sem consultar o Bolsonaro e sem gastar dinheiro também. Eu acho que se a gente tivesse um lugar [fora] para recorrer, conseguiria reverter.
P – Sem Bolsonaro, qual é a chapa ideal?
VCN – Não tem hoje. É muito longe. O Tarcísio é um cara bom, lógico. Você tem também o [Romeu] Zema [governador de Minas Gerais, do Novo]. É muito bom. Agora precisa ver o que o Bolsonaro vai decidir.
P – E a Michelle?
VCN – Na minha opinião, sai de senadora, iria bem em Brasília. A Michelle é uma surpresa. Ela está indo muito bem. Onde ela vai, bomba. Eu brinco com o Bolsonaro, ‘essa acertou sem querer. Não foi escolha tua’. Porque ela é completamente diferente dele. Bolsonaro não liga para roupa, para nada. Se deixar, ele come Miojo todo dia.
P – O presidente vai operar [o intestino]?
VCN – Acho que não. Ele precisa se alimentar direito. Nós temos que preservar o Bolsonaro, porque ele é uma máquina de votos e o partido vive disso.
P – O sr. apontou perspectivas positivas para o governo Lula. Nesse cenário, qual é a chance de uma outra candidatura ser competitiva?
VCN – Bolsonaro teve metade dos votos. Com o que estão [Judiciário] fazendo com ele, pode crescer. Por exemplo, vamos dizer que ele vai apoiar o Tarcísio. Eu te garanto que muita mulher que não votou no Bolsonaro em São Paulo votará no Tarcísio para presidente, porque ele não carrega a rejeição.
P – Como está a relação entre Tarcísio e Bolsonaro hoje?
VCN – Está boa. Bolsonaro vai dormir na semana que vem no Palácio dos Bandeirantes. Ele adora o Tarcísio, descobriu no próprio governo.
P – Ele pode ir para o PL?
VCN – Nunca conversamos sobre isso, e nem é o momento.
P – Tem o desejo de filiá-lo?
VCN – Quem que não queria ter o Tarcísio? Eu só não tive o Tarcísio antes porque eu não tive condições de assumir a campanha dele [em 2022], não tínhamos dinheiro.
RAIO-X | VALDEMAR COSTA NETO, 73
É presidente do PL há 23 anos. Natural de Mogi das Cruzes (SP), é formado em administração pela Universidade Braz Cubas (UBC). Filho de Waldemar Costa Filho, ex-prefeito de Mogi das Cruzes, ocupou cargos públicos no município. Posteriormente, foi eleito seis vezes para uma vaga na Câmara dos Deputados. Em 2013, renunciou ao mandato de deputado após a Justiça determinar sua prisão, depois de ele ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do mensalão. Recebeu o perdão da pena em 2016.
Foto Agência Brasil
Por Folhapress