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A fala, a escuta, a humanização e a adoção

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Djamila Ribeiro é uma filósofa, mulher negra, que de modo didático nos fez compreender um conceito denominado de “lugar de fala”. Para a autora, os discursos que construímos são feitos a partir de nosso lugar social. Nesse sentido, algumas “falas” são suprimidas em detrimento de outras. Djamila, igualmente, nos conta a respeito da importância da “escuta” do outro, mesmo que discordemos do que se diz, pois no exercício de ouvir das demandas do outro, humanizamos o outro, tornamos legítimas as suas dores e anseios.

E afinal? O que tudo isso tem a ver com o tema da adoção? Qual a relação desse conceito teórico com o ato de adotar? Absolutamente tudo, em especial porque algumas vozes são ouvidas e outras não, de modo que sujeitos envolvidos no processo de adoção são desumanizados, tornando-se invisíveis.

Então Michelle, qual seria o seu lugar de fala? Meu lugar é de “pretendente à adoção”, é daqui que eu falo e adoraria que minha voz fosse escutada, para que assim eu me tornasse humana. Deixe-me então que eu me humanize para você. Para isso, preciso te contar um pouco da minha história, dos caminhos que me levaram à adoção.

Como a maioria das mulheres, criadas num modelo de sociedade patriarcal, eu cresci em meio a bonecas e panelas. Quando me casei, logo pensei em ter filhos para que a minha família se fizesse “completa”. Foram sete anos tentando engravidar. Sete dolorosos anos. Fiz todos os exames que você pudesse imaginar, revirada do avesso, tratada como uma cifra em clínicas de reprodução. Passei por um luto muito grande quando finalmente compreendi que eu não poderia gestar, precisei superar minha biologia, meu desejo de ver um filho com minhas feições e depois de muito sofrer finalmente me abri para adoção.

A adoção parecia ser a minha esperança em consumar o desejo de ser mãe, mas o cenário em que me deparei foi desastroso. A primeira grande dificuldade para que deseja adota é conseguir entrar na fila. O processo de habilitação é extremamente burocrático, exaustivo e adoecedor. A ausência de informações deixa até a pessoa mais serena extremamente angustiada. Os prazos estabelecidos em lei não são respeitados, faltam equipes técnicas, tudo é meio obscuro. Eu levei 9 meses para entrar na fila, porque em minha comarca temos servidores super dedicados, pessoas muito empenhadas mesmo, mas que ficam sufocadas de tanto trabalho para poucas mãos.

No dia que entrei na fila eu só conseguia chorar de emoção! Era como se finalmente eu tivesse recebido o tão sonhado “positivo”! Mas a alegria durou pouco, afinal meu perfil é de uma criança de 0 a 3 anos e 11 meses. Então vi cercada de matérias, postagens, programas de TV etc. hostilizando pessoas como eu: que desejavam um bebê. Eu não entendia como eu poderia estar sendo criminalizada por querer um bebê?! Como poderia haver tanta falta de empatia?! Foi aí que eu entendi, que essa conversa toda de “culpabilização do perfil do pretendente” estava inserida num “local de fala”, especificamente de nossas autoridades, que são covardes demais para admitir suas próprias deficiências.

Ora no Brasil existem quase 50 mil crianças em abrigos e apenas pouco mais de 5000 estão disponíveis para adoção, ou seja, 1 em cada 10 crianças acolhidas tiveram seus processos resolvidos. Como então o meu perfil seria o problema? Foi refletindo sobre isso que eu percebi que alguns discursos são legitimados pela sociedade, enquanto outros são suprimidos. Desse modo, também notei que minha voz precisava ser escutada, assim como de outros pretendentes à adoção.

Então me envolvi em um Grupo de Apoio à Adoção, chamado Acalanto Fortaleza e, com outros pretendentes formamos um coletivo que revolucionou a adoção em nossa cidade! Fizemos inúmeros atos, protestos, audiências públicas, debates com as autoridades e hoje Fortaleza é um dos melhores lugares do Brasil para se adotar uma criança.

Eu teria muitas histórias para contar para vocês sobre o meu caminho da adoção, mas nesta data tão especial: o Dia Nacional da Adoção, minha mensagem para você é: torne-se humano! Faça ouvir a sua voz! Não se acomode com o que está dito e lembre-se: Estamos em trabalho de parto e há que se ter muita força para parir! Lute como uma mãe! Feliz Dia da Adoção!

Por Michelle Pascoa

Michelle Pascoa é mestranda em História Social pela Universidade Federal do Ceará. Professora de História há 10 anos, atualmente tem desenvolvido um trabalho de militância pela causa da adoção. Por meio de um instagram chamado @caminhosdaadocao, a autora busca dar visibilidade aos pretendentes à adoção via Cadastro Nacional de Adoção. Fundou o Coletivo de Pais Adotivos e Pretendentes à Adoção (COPPA) onde, com este grupo, fez inúmeros atos e manifestações em favor do respeito aos prazos estabelecidos na Lei 13509/2017, chamada de “Nova Lei da Adoção”. Em reconhecimento ao seu trabalho atuante, foi convidada diversas vezes a compor mesas em Audiências Públicas e a palestrar nos cursos de adoção desenvolvidos pela Promotoria de Justiça do Estado do Ceará. Enquanto espera por seu filho amado, ela luta para que este encontro seja breve.

Referência:

Ribeiro, Djamila. O que é lugar de fala. Coleção Feminismos Plurais. Belo Horizonte: Letramento 2017.

Classificados

Descrição: São 5,5×20 metros de área construída na melhor localização da Cidade, situado na Av. Primo Lopes, 81 – Centro de São José do Belmonte, antigo prédio usado pela Honda – Aliança Moto.

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1 Comentário

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  1. PLIMA

    24 de maio de 2019 às 14:16

    A gente precisa acabar com o discurso moral e legal da adoção e humanizar.
    O Estado quer o controle absoluto sobre isso, mas não pode.
    O CNA é muito bacana, mas a adoção fora do CNA precisa ser validada com menos dificuldade e tirando esse legalizamos e mania de se tornar autoridade para decidir sobre a vida de todos.

    Adoção é o maior ato de generosidade, eu como pai adotivo, amo demais isso.

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Brasil

Mansão levou PF a empresas ligadas a fornecedor de cartéis mexicanos suspeitas de lavar R$ 5,4 bi

Roland, que foi preso na última terça (2) pela Operação Terra Fértil, há tempos estava na mira dos investigadores. Ele é um antigo conhecido do setor de repressão a entorpecentes da Polícia Federal, mas nunca tinha visto sua rede de lavagem de valores atingida por uma investigação.

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A Polícia Federal chegou a uma rede de empresas suspeitas de lavar R$ 5,4 bilhões do tráfico de drogas após Ronald Roland comprar uma mansão de R$ 2,5 milhões em Uberlândia (MG).

Roland, que foi preso na última terça (2) pela Operação Terra Fértil, há tempos estava na mira dos investigadores. Ele é um antigo conhecido do setor de repressão a entorpecentes da Polícia Federal, mas nunca tinha visto sua rede de lavagem de valores atingida por uma investigação.

A compra do imóvel na cidade mineira, feita por uma empresa registrada em nome de pessoas apontadas pela PF como laranjas, chamou a atenção porque Roland tem inúmeros registros policiais por tráfico. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele.

Nas palavras da PF, Roland é “internacionalmente conhecido como grande traficante de drogas que se utiliza de aeronaves, sendo suspeito do envio de enormes quantidades de cocaína para as Américas do Sul e Central, inclusive cocaína oriunda das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para violentos cartéis mexicanos”.

A relação com os cartéis foi descoberta em outra investigação da PF, de 2015. Os cartéis apontados à época eram o de Sinaloa e Los Zetas.
Após receber informações sobre a mudança dele para o condomínio em Uberlândia, a PF passou a levantar informações sobre o imóvel e descobriu que ele foi adquirido em nome da empresa Kaupan Exportação e Importação de Alimentícios.

Os investigadores então pediram informações ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre possíveis transações suspeitas da empresa.

A resposta do órgão embasou o mapeamento de dezenas de empresas com transações entre si, sem lastro em atuação lícita.
Somente a Kaupan, mostram os dados coletados pela PF, recebeu R$ 1,6 milhão em depósitos em espécie em suas contas entre maio de 2019 e janeiro de 2022.

Os investigadores descobriram também que o mesmo contador responsável pela Kaupan possuía uma série de pessoas ligadas a ele que eram responsáveis no papel por dezenas de empresas que se relacionavam entre si.
No total, apenas focando nas principais empresas, foram mapeados 48 CNPJs em nome de laranjas cuja movimentação suspeita foi de R$ 5,4 bilhões nos últimos cinco anos.

A PF afirma, no entanto, que o valor movimentado deve ser ainda maior, uma vez que foram computadas pelo Coaf apenas transações classificadas como suspeitas.

Uma das empresas, a LS Comércio, diz a PF, está em nome de Leonardo Santos, preso pela Interpol em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos). Santos é apontado como líder da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) em Portugal e principal articulador de logística no transporte dos entorpecentes para a Europa.

A ligação de Roland com o PCC também foi apontada após a análise das movimentações financeiras das empresas. Os documentos indicam transações com ladrões de banco e outros criminosos ligados à facção, segundo a PF.

A PF cita alguns exemplos dessas transações suspeitas mapeadas pelo Coaf. Em uma delas, o banco notificou o Coaf porque três homens foram até uma agência em São Paulo para depositar dinheiro em espécie na conta de uma das empresas. Os valores estavam em um saco de lixo e foram realizados 20 depósitos de R$ 3.000 cada.

Além do fracionamento nos depósitos em espécie, a comunicação ao Coaf ocorreu porque, quando o banco foi questionar os depositantes sobre a origem do dinheiro, eles saíram correndo da agência. O grupo tentou o depósito em outra agência.

“[Quando eles] chegaram com o mesmo saco de lixo cheio de dinheiro, os colaboradores [do banco] acharam estranho e foram até a sala do caixa eletrônico”, diz a PF. “Percebendo que estavam sendo observados, os mesmos 03 homens juntaram o saco de dinheiro e mais alguns envelopes e saíram andando pela rua.”

Além das movimentações, a PF aponta para o poder financeiro do grupo ao listar os bens registrados em nome das empresas e pessoas investigadas. São mais de 90 automóveis, 11 aeronaves e dezenas de imóveis.

“Até mesmo para o mais experiente operador do direito da área criminal são assustadores os valores suspeitos envolvidos, a quantidade de criminosos interconectados, dezenas deles com registro policiais/judiciais por tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico, latrocínio, roubo, sequestro entre outros, alguns inclusive com envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC”, afirma a PF.

Foto  Reuters

Por Folhapress

           

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Brasil

Falta de saneamento afeta 75% dos que ganham até um salário mínimo

Segundo o Panorama da Participação Privada no Saneamento, 75,3% das pessoas que não estão conectadas à rede de água vivem com até um salário mínimo.

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A Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon-Sindcon) divulgou, nesta quinta-feira (4), um levantamento que mostra que os mais pobres são os mais afetados pela falta de saneamento básico no país.

Segundo o Panorama da Participação Privada no Saneamento, 75,3% das pessoas que não estão conectadas à rede de água vivem com até um salário mínimo. O levantamento mostra que 74,5% das pessoas que não estão conectadas à rede de coleta de esgoto também têm rendimento mensal abaixo de um salário mínimo.

Tanto a coleta de esgoto quanto o fornecimento de água atingem níveis superiores a 90% para as pessoas que recebem mais de cinco salários mínimos. Já a universalização do saneamento no país é prevista para 2033, segundo o marco legal do setor. 

“Após quatro anos em vigor, o Marco Legal do Saneamento já conseguiu incrementar investimentos e promover avanços importantes, mas ainda temos grandes desafios pela frente até a universalização dos serviços de água e esgoto até 2033. O saneamento precisa ser considerado uma prioridade nacional, inclusive no âmbito da reforma tributária”, disse a diretora executiva da Abcon Sindcon, Christianne Dias.

Foto  iStock

Por Agência Brasil

           

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Brasil

Lula inaugura universidade inacabada em Osasco e é cobrado por aluna para concluir obra

A obra, no entanto, que já consumiu investimentos de mais de R$ 900 milhões, não está concluída e o presidente foi cobrado por uma aluna do terceiro ano de direito, Jamile Fernandes, pela conclusão da obra.

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Em uma tenda improvisada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participa nesta sexta-feira, 5, da inauguração do novo campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na cidade de Osasco. A obra, no entanto, que já consumiu investimentos de mais de R$ 900 milhões, não está concluída e o presidente foi cobrado por uma aluna do terceiro ano de direito, Jamile Fernandes, pela conclusão da obra.

De acordo com a aluna, hoje está sendo inaugurada apenas metade do projeto. “A obra não está concluída. O que está sendo inaugurada hoje é apenas metade da obra. Faltam moradias estudantis, restaurante e auditórios. A universidade não é verdadeiramente nossa, do corpo discente apenas 8% são de alunos negros. Temos que trabalhar com a realidade”, disse Jamile.

Em sua breve fala durante o evento, o ex-ministro da Educação e atual titular da Fazenda, Fernando Haddad, rebateu a cobrança da aluna da Unifesp, alegando que a construção de universidades não tem fim.

“A USP [Universidade de São Paulo] até hoje está sendo construída, prédios estão sendo construídos e professores sendo contratados”, disse Haddad se dirigindo à aluna.

Haddad lembrou que desde que o governo Lula iniciou em 2007 “o maior plano de universidades públicas do Brasil”, 126 prédios de universidades foram entregues. Na ocasião, continuou o ministro, as pessoas perguntavam sobre o porquê de o governo implantar universidades federais em São Paulo, Estado que já era bem servido por universidades e faculdades.

“O presidente Lula me disse que era importante a presença de universidades federais em São Paulo porque São Paulo não tinha o sentimento de pertencimento”, disse Haddad.

Foi a partir de então que, segundo Haddad, que o governo federal resolveu criar o anel universitário em São Paulo, onde só se falava em rodoanel. “Aqui só se falava em rodoanel, que até hoje não está concluído apesar dos recursos enviados pelo governo federal”, disse Haddad.

Foto Getty

Por Estadão

           

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