[responsivevoice_button voice=”Brazilian Portuguese Female”]
Entre os absurdos cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro em seu governo, o maior e mais grave é a indução do uso da cloroquina e de seu derivado, a hidroxicloroquina, no combate ao coronavírus. Dos males que causou em 18 meses, nenhum se revela tão irresponsável e insensato. O que vê hoje é um presidente que vilipendia diariamente a ciência e a medicina e dá sucessivos exemplos de ignorância. A essa altura, em outras partes do mundo, ele já poderia estar sendo acusado de charlatanismo por incentivar o uso de substâncias farmacêuticas sem ser médico e afrontando um protocolo técnico de maneira despótica. Não há qualquer comprovação de que a droga que ele promove funcione. Pelo contrário, todos os ensaios preliminares com alguma credibilidade mostram que causa mais malefícios do que benefícios, aumentando o risco de arritmias e ataques cardíacos nos contaminados. Mesmo assim, agora que diz estar doente, que seu teste deu positivo para a Covid-19, ele intensifica seus esforços para alardear os milagres da cloroquina. Começou a tomá-la assim que se sentiu mal, domingo (05). E adotou o tratamento desde então. Como bom garoto-propaganda, caso se cure, vai dizer que foi graças à ela.
Dois dias depois, Bolsonaro reforçou seu intento de politizar a doença e propagandear um tratamento duvidoso. Contente com a melhora no seu quadro clínico, declarou pelas redes sociais que o tratamento com a substância estava dando certo. “Eu confio na hidroxicloroquina, e você?”, perguntava para seu público com uma pílula na mão. Em seguida, tomou o remédio ao vivo e comentou que, graças a ele, estava “mais ou menos do domingo, mal na segunda-feira e hoje, terça-feira, muito melhor”. “Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coronavírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas (sou) mais uma pessoa em que está dando certo”, concluiu. Inspirado no americano Donald Trump, outro presidente a defender de maneira irresponsável remédios não provados, Bolsonaro vem fazendo propaganda da cloroquina desde abril e, nesse período, derrubou dois ministros, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por causa de divergências relacionadas ao uso indiscriminado da substância. Colocou no lugar o general Eduardo Pazuello, que só faz criar facilidades para estimular o consumo do remédio, como mudar seu protocolo de utilização e permitir seu uso, inclusive, para crianças e gestantes. A principal função de Pazuello, neste momento, é distribuir comprimidos pelo Brasil.
O comportamento de Bolsonaro encobre uma grande preocupação e não é mais do que uma tentativa de tentar salvar seu governo, desacreditado pela reação atabalhoada no combate ao coronavírus. Bolsonaro age, neste momento, quando as mortes pela Covid-19 no Brasil se aproximam de 70 mil, pensando na sua reeleição, em 2022. Como destaca Mandetta, que sofreu nas mãos do Bolsonaro por causa de suas restrições à cloroquina, o objetivo do presidente é encontrar uma solução política para uma crise de saúde, algo que é típico de sua maneira de pensar. Ele só pensa politicamente e sem base científica, afirma. Agora que confirmou a própria contaminação, Bolsonaro vai intensificar a publicidade do remédio. Nem que para isso tenha que contribuir para aumentar os índices de letalidade da doença, cuja média mundial, é de 3% e, no Brasil, chega a 4%. “O médium João de Deus tem o mesmo índice de cura que a cloroquina”, diz o ex-ministro. “Como, em média, 97% das pessoas que pegam a doença se curam com ou sem remédios ou apesar deles, o presidente aproveita esse espaço de incerteza para promovê-la”. Para Mandetta, Bolsonaro criou uma narrativa para a economia, para que as pessoas voltem a trabalhar. “Seu raciocínio é político, ele não tem compromisso com a saúde e quer simplesmente que as pessoas retomem a vida normal o quanto antes, prescrevendo um medicamento sobre o qual não há nenhum estudo conclusivo”, diz. O ex-ministro acredita que a atitude do presidente deveria motivar a abertura de processos judiciais contra o Estado, por incentivo ao uso de uma substância sem comprovação científica.
Diariamente, Bolsonaro vem descrevendo a evolução positiva de seu quadro. No domingo sentiu-se febril e com dor no corpo. Passou por uma tomografia que não apresentou lesões em seus pulmões. Continua se comportando normalmente, encontrou centenas de pessoas ao longo da semana e foi visto sem máscara várias vezes. Circulou sem se preocupar com seus semelhantes e fez novas afirmações estapafúrdias: “Vírus é como chuva, vai atingir você”, declarou. Agora que pegou o coronavírus, acredita que tenha mais autoridade para tratar do assunto. Como um curandeiro de feira, oferece a substância para o povo como uma prevenção ou uma cura mágica e busca a legitimidade dos enfermos para falar da doença. Com a cloroquina, quer causar um efeito de segurança da população, vender uma solução populista e mostrar que existe uma saída para uma doença letal. O problema é que se trata de uma mentira. (Da IstoÉ).
![](https://blogdosilvalima.com.br/wp-content/uploads/2020/06/parceiros_TRES300X250_30Jun20_.gif)
![](http://penoticias.com.br/blog/wp-content/uploads/2020/07/aa-23.jpg)