No ar como o frei Severo de “Amor Perfeito”, Babu Santana, 43, diz que interpretar um personagem religioso com profundidade na novela das 18h da Globo tem sido um ponto alto em sua carreira. “Novela era um segmento em que eu ainda não tinha me realizado plenamente”, afirma o ator à Folha de S.Paulo. “Eu sempre fiz personagens menores, com muitos estereótipos, mas eu aceitava porque tinha que pagar as contas. Fazer o Severo tem sido ótimo.”
A trama criada por Duca Rachid e Júlio Fischer, livremente inspirada em “Marcelino Pão e Vinho”, tem metade do elenco formado por atores negros. Além do Babu, estão em cena nomes como Diogo Almeida, Antônio Pitanga, Bukassa Kabengele, Isabel Fillardis, Juliana Alves e Tony Tornado. Para o ator, isso representa um avanço.
“A Globo não é uma emissora feita por pretos para pretos”, reflete. “Mas está sofrendo uma ação do tempo e se renovando, percebendo que precisa fazer algo em relação ao racismo. Você vê uma presença maior de atores, apresentadores e âncoras pretos. Poderia ser mais contundente, mas já é uma mudança considerável.”
Nesta segunda-feira (15), Babu terá ainda mais motivos para comemorar. Ele receberá a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A indicação foi feita pela deputada estadual Dani Monteiro (Psol) e se deu por sua trajetória artística e pela atuação na direção do grupo teatral Nós do Morro.
“É uma emoção muito grande. Trabalho no Nós do Morro desde os 17 anos. Fui aluno, professor e, agora, sou diretor. É uma luta, parece que a gente está enxugando gelo, limpando carvão. Receber uma premiação dessas, um reconhecimento de uma parlamentar tão importante, dá um gás, um oxigênio”, diz.
O Nós do Morro é uma associação cultural sem fins lucrativos, que há mais de 30 anos proporciona acesso à arte e à cultura a crianças e adolescentes que moram na região do Vidigal (zona sul do Rio de Janeiro), com atividades formativas nas áreas de teatro e cinema. “Mudou a realidade de uma comunidade inteira”, conta o ator.
No caso de Babu, a mudança não foi exatamente tranquila. Ele lembra que foi muito criticado pela mãe por deixar o trabalho como animador de festas infantis para se dedicar ao teatro. Porém, depois ela voltou atrás. “Um dia, em um dos mutirões que a gente fazia para limpar o teatro, ela fez um belo panelão de macarrão e levou para a gente almoçar lá. Foi um grande incentivo”, conta. “E para mim essa Medalha de Tiradentes é como se fosse esse panelão de comida que minha mãe fez.”
“Para mim, um preto, pobre e periférico, entrar pela porta da frente da Alerj para receber uma honraria, demonstra que eu consigo ser um exemplo positivo dentro dessa sociedade violenta”, afirma o ator, ciente de que o Rio de Janeiro é o estado mais letal para os jovens negros do país. “Espero que ajude a polícia e os políticos a, quando verem um jovem preto na rua, enxergarem o potencial de ser uma grande pessoa na sociedade.”
Além de por suas atuações em filmes como “Tim Maia” e “Estômago”, Babu também é conhecido por participar do BBB 20 (também da Globo), uma das edições com maior audiência do programa. O ex-BBB diz que se vê como um vencedor pela repercussão de sua trajetória na casa.
“Quando eu entrei no BBB, eu já tinha 40 anos e parecia que nada mais ia acontecer na minha vida, que nada mais ia dar certo”, afirma. “Foi lá que consegui enxergar a minha realidade e como eu era feliz. Eu consegui criar meus filhos, fazer trabalhos contundentes, e me orgulho disso.”
No programa, Babu se envolveu em algumas discussões raciais, como quando, por exemplo, explicou porque preferia ser chamado de “preto” em vez de “negro”. Ou quando explicou o pente que usava no cabelo após a participante Ivy Moraes debochar do acessório.
“Eu tinha um tio que sempre foi uma referência para mim. Ele que me deu essa consciência de que eu era um homem preto”, conta. “Ele abordava esse assunto de uma forma muito natural e me fazia entender que eu não era inferior por isso.”
Para o futuro, além da novela, Babu adianta que também poderá ser visto em um novo trabalho de ação na Globoplay, com produção de José Júnior. Nele, o ator viverá um personagem que até pode ser enquadrado em alguns estereótipos, mas que também é muito complexo. “Para mim também não adianta fazer um médico que vai ser um figurante na cena”, pontua.
Fonte:FOLHAPRESS
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