No dia 24 de abril, quando o ex-ministro da Justiça Sergio Moro pediu demissão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou a procurar o apoio de uma nova base no Congresso, prevendo o início de uma crise política. Dessa forma, decidiu selar seu novo “casamento” com partidos do Centrão, entregando cargos do governo em troca do apoio dos parlamentares. Até esta terça-feira (26), sete cargos importantes já foram trocados.
Confira as nomeações de nomes do Centrão:
No dia 6 de maio, Fernando Marcondes de Araújo Leão (foto), foi nomeado o novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Em 2020, o orçamento atualizado do Dnocs é de cerca de R$ 1 bilhão. O órgão é responsável por construir barragens e represas nas regiões de seca do país. Leão terá salário de R$ 16.944,90.
A indicação foi vista como uma estratégia para conquistar o apoio de partidos menores, como o Avante. A troca foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto, e não pelo ministro do Desenvolvimento Regional.
Leão era gerente-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) em Pernambuco e foi número dois da Secretaria de Transportes no governo de Paulo Câmara. Também ocupou cargo comissionado no Departamento de Estradas de Rodagem estadual e foi sócio de diversas construtoras.
Ele é de uma família de políticos, filiados a siglas do Centrão e foi apadrinhado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), um dos líderes do bloco na Câmara. Leão filiou-se ao Avante este ano, mas antes foi filiado por 32 anos ao PTB.
Um dia depois, 7 de maio, o advogado Tiago Pontes Queiroz (foto), foi nomeado o novo secretário nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional, também órgão do Ministério do Desenvolvimento Regional.
O ministério prevê orçamento atualizado para este ano de R$ 33,22 bilhões, dos quais Pontes será responsável pela parte da secretaria do orçamento.
Ele foi indicado pelo Republicanos e também tinha o apoio do PP. À troca também foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto.
O advogado responde a um processo de improbidade administrativa por perda de recursos financeiros à União e é acusado pelo Ministério Público Federal por “favorecimento de empresas, inobservância da legislação administrativa, de licitações e sanitária, prejuízo ao patrimônio público, descumprimento de centenas de decisões judiciais”.
Pontes já ocupou cargos na área de licitação e logística do Ministério da Saúde, no governo de Michel Temer (MDB), e na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Regional , no governo de Dilma Rousseff (PT). Em março deste ano ele havia sido indicado para Superintendência de Trens Urbanos do Recife indicado pelo Republicanos.
Para substituir Pontes na superintendência de Recife, o Partido Social Cristão (PSC) indicou Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho (foto).
O orçamento do CBTU em 2020 para todos os estados é de mais de R$ 1 bilhão. Silva Filho fica responsável apenas pela parcela de dinheiro referente à superintendência de Recife do órgão.
A nomeação ocorreu em 29 de abril e também teve o apoio do PL, PSD, Republicanos e MDB. O objetivo era trazer o PSC, que tem nove deputados, para a base de Bolsonaro.
Silva Filho já secretário de Habitação do Recife e de Saúde na cidade de Jaboatão dos Guararapes. Seu irmão é deputado federal pelo PSC.
Bolsonaro indicou Carlos Marun (foto), ex-ministro da Secretaria de Governo no governo de Temer (MDB), para o Conselho da Itaipu Nacional – da usina hidrelétrica de Itaipu. Marun receberá salário de R$ 27.000 e seu mandato vai até 2024.
A indicação veio do MDB e teria partido do próprio ex-presidente, já que Marun é aliado fiel de Temer.
Temer havia o indicado para o Conselho de Itaipu em 31 de dezembro de 2018, com mandato até 16 de maio de 2020, e Bolsonaro decidiu mantê-lo, mas em março de 2019 sua nomeação foi suspensa pelo TRF-4. Marun foi reconduzido ao cargo no dia 15 de maio desse mês.
O ex-ministro foi um dos principais aliados de Eduardo Cunha, que além de ter presidido a Câmara dos Deputados de 2015 a 2016, foi um dos principais articuladores do Centrão.
Também em 15 de maio, o ex-deputado José Carlos Aleluia (foto) foi reconduzido para o Conselho da Itaipu Nacional com salário de R$ 27.000.
Aleluia já foi cacique do DEM. Ele teria sido indicado pelo presidente do partido ACM Neto (BA). Ele foi fiel aliado do avô de ACM Neto – Antônio Carlos Magalhães.
Além disso, o filho do ex-deputado, o vereador Salvador Alexandre Aleluia (DEM), é um dos articuladores na Bahia do partido que Bolsonaro deseja criar, o Aliança Pelo Brasil.
Indicado pelo PL, Garigham Amarante Pinto foi nomeado em 18 de maio para diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O orçamento atualizado do FNDE para 2020 é de R$ 53,99 bilhões, do qual Garigham será responsável pela parte do dinheiro relativo à diretoria de Ações Educacionais.
A diretoria que Garigham fica responsável é uma das mais importantes do FNDE. Ela é responsável por livros didáticos, transporte escolar e transferências diretas para as escolas.
Garigham é formado em direito e atuava há 10 anos como assessor técnico de partidos, ele é tido como pessoa de confiança de Valdemar Costa Neto, presidente do PL que foi condenado no mensalão. Ele receberá salário de R$ 13.623,39.
Na segunda-feira (25), mais um nome do PL foi indicado ao FNDS, dessa vez como diretor de Tecnologia e Inovação. Paulo Roberto Aragão Ramalho será responsável por licitações para compra de computadores.
Como já mencionado, o fundo tem um orçamento de R$ 53,99 bilhões para este ano. Ramalho será responsável pela parte do dinheiro que diz respeito à Tecnologia e Inovação.
O indicado do PL participou do governo de Ibaneis Rocha (MDB) no Distrito Federal, entre fevereiro de 2019 e abril de 2020. Ele fez parte da secretaria de Desenvolvimento Social, sendo responsável por coordenar parceria. Ele também é sócio de uma microempresa de alimentos.
Ramalho foi a nomeação mais recente do Centrão.
Durante sua campanha eleitoral e no começo de seu governo, Bolsonaro foi grande crítico dessa dinâmica de troca de cargos por apoio, mas agora a realiza com o Centrão. Até o momento sete cargos com grandes orçamentos de recursos públicos já foram entregues ao bloco e novas nomeações ainda devem ocorrer.