Funaro relata mais de 700 encontros com Cunha e diz que Temer sabia de esquema.
Em depoimento à Justiça Federal nesta sexta (27), o corretor de valores Lúcio Funaro afirmou que, em quase 15 anos de relação com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de 2002 a 2016, manteve encontros semanais com o ex-deputado, em um total de mais de 700, conforme seu cálculo.
Funaro disse que entregava dinheiro vivo nas mãos de Cunha e Henrique Alves (PMDB-RN) e que o presidente Michel Temer sabia do esquema de corrupção que vigorou na Caixa Econômica Federal.
O depoimento foi concedido ao juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, onde Funaro, Cunha e Alves são réus em uma ação penal sobre um esquema de desvios do fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa.
O processo derivou da Operação Sépsis. Segundo a denúncia, empresas pagavam propina em troca de liberação de recursos do FI-FGTS.
“Entreguei [dinheiro] nas mãos dele [Henrique Alves] em um hotel em São Paulo, emprestei avião meu para funcionário dele levar dinheiro”, disse Funaro, que assinou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
“Foi pago propina do Porto Maravilha [projeto no Rio envolvendo Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia], BRVias, Aquapolo, Haztec e Eldorado [do grupo J&F, que controla a JBS]”, afirmou.
“Noventa e cinco por cento do que eu paguei foi dinheiro vivo. Eu mesmo entreguei na mão dele [Cunha] quando eram quantias menores.”
Questionado pelo juiz, Funaro disse que, além de Alves e Cunha, os políticos que sabiam do esquema eram Temer, o ministro Moreira Franco –que já foi vice-presidente da Caixa– e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Os três têm negado conhecimento.
“[Cunha] Repassava [a propina] para pessoas que ele escolhia. Às vezes para o partido também. [No caso do Porto Maravilha] Eu tenho certeza de que ele repassou dinheiro para o Henrique Alves”, disse o operador.
Funaro e Cunha sentaram-se frente a frente na audiência. De terno e gravata, o ex-presidente da Câmara, atualmente preso na Papuda, levou à Justiça uma mala com documentos e anotava com calma detalhes do depoimento de Funaro.
Cunha manifestou disposição de conceder entrevista aos jornalistas, de quem disse “sentir saudades”, mas foi orientado pelo juiz a só falar após prestar depoimento, previsto para o próximo dia 6. “No meu interrogatório eu vou fazer o que precisa e mostrar as mentiras que estão sendo faladas”, limitou-se a dizer ao final da audiência.
CHORO E ELOGIOS
Funaro, que está preso na Papuda desde julho do ano passado, chorou ao falar de sua família. “Passou a fase de querer poder. Faz um ano e meio que minha filha está vindo aqui nas audiências. Eu não quero mais passar por isso. Faz um ano e meio que não vejo meu pai, não tenho coragem de chamar ele para me visitar”, disse.
A mulher do operador, Raquel, que também assistia ao depoimento, chorou junto com ele. Pela manhã, a bebê do casal acompanhou a audiência judicial.
No início de sua oitiva, que durou quase três horas, Funaro teceu elogios a Cunha. “O Eduardo sempre foi um cara muito correto. Se o Joesley [Batista, da JBS] quisesse fazer uma operação e falasse diretamente com ele, ele diria: ‘Olha, você vai ter que falar com o Lúcio'”.
“Eu almoçava constantemente com ele, ele me dava conselho, ele dizia ‘Você é sem pavio, tem que ter pavio’. Sempre respeitei muito a opinião dele. Se ele falasse alguma coisa para mim eu ia respeitar”, disse.
De manhã, foram ouvidos outros dois réus, Fábio Cleto e Alexandre Margotto, ambos delatores. Cleto foi vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa de 2011 a 2015, período investigado, e disse que cumpria ordens de Cunha ao votar pela liberação ou não de recursos no banco.
Margotto era amigo de Cleto e Funaro e afirmou que foi convidado a participar dos negócios do operador, mas que não recebeu sua parte das propinas. Folha de S.Paulo – Reynaldo Turollo JR e Camila Mattoso
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