
José Fernando, de 54 anos, tem o sonho de aprender a ler e escrever (Foto: Kamylla Lima/G1)
José Fernando Gonçalves da Silva, de 54 anos, trabalha como auxiliar de serviços gerais e abandonou os estudos no 2º ano do Ensino Fundamental para trabalhar. Desde que deixou a escola – há 37 anos – não aprendeu a ler nem escrever. Ele sabe apenas escrever o próprio nome. Após contar para a assistente administrativa Maria Aparecida Ataíde Silva, 45 anos, que tinha o sonho de ler e escrever, a colega de trabalho ministra aulas para ele todos os dias no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) em Caruaru, no Agreste.
As aulas começaram em dezembro de 2015 e são realizadas na sala da servidora, sempre após o expediente de trabalho dele – no final da tarde. Os dois ficam pelo menos uma hora por dia debruçados sobre atividades de escrita e de leitura. José Fernando só fez até a 1ª Série do Ensino Fundamental e conseguiu “decorar o alfabeto”.
Nascido em Taquara de São Pedro, na zona rural de Altinho, no Agreste de Pernambuco, a vida de José Fernando foi marcada pela morte da mãe quando ele tinha nove anos de idade e do pai, quando completou dezesseis anos. “Passei a viver de casa em casa”, contou ao G1. “Era um tempo atrasado, não tinha quem incentivasse para estudar”, relembrou.
Ele entrou na escola aos 12 anos e abandonou os estudos para trabalhar em uma padaria, aos 17. Lá, ficou por dezenove anos. Saiu para fabricar tijolos e logo depois foi para o IFPE, onde conheceu Maria Aparecida. Mesmo após seis anos de convivência, ela só descobriu que ele não sabia ler durante uma conversa sobre “sonhos”.
Enquanto ela dizia que tinha o sonho de ir para um cruzeiro, José Fernando contou que sonhava aprender a ler e escrever para tirar a Carteira Nacional de Habilitação. “Perguntei se ele não sabia mesmo, porque a maioria dos empregos exige pelo menos o [Ensino] Fundamental. Pensei que era brincadeira. Então disse: ‘se for assim eu tenho a condição de realizar o seu sonho'”, disse Maria Aparecida.
Ela pegou emprestada uma cartilha de alfabetização do filho de uma vizinha. “Comecei ensinando as sílabas simples. Hoje, as palavras mais simples ele já lê, mas com o tempo ele vai melhorar”, explicou a assistente administrativa. Após os meses de estudo, José Fernando contou que já avança no aprendizado.
“Têm umas plaquinhas que eu já leio, como ‘saída’, ‘entrada’ e os nomes dos ônibus. Antes eu sempre perguntava às pessoas antes de pegar a condução. Escrevo também os nomes ‘Caruaru’ e ‘Altinho’. Devagarzinho estou desenrolando”, disse José Fernando. Divorciado após um casamento de 28 anos, pai de dois filhos – que estudaram até o Ensino Médio – ele se disse “feliz” com o aprendizado e afirmou que pretende “dar continuidade às aulas”.
“Para mim, é uma satisfação [ajudar José Fernando] porque as pessoas passam pelas outras com tanta indiferença e ali do nosso lado tem um ser humano que está precisando de tão pouco. Podemos fazer um favor, uma delicadeza e isso é tão raro hoje. Devemos olhar para as pessoas que estão ao redor”, disse Maria Aparecida.
(Do G1 Caruaru)