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Itália se divide sobre chance de ouro para aprovar projeto anti-homofobia

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Se o Vaticano e a megainfluencer Chiara Ferragni se posicionam, declaradamente, em lados opostos de um mesmo debate, junto com todo o espectro político e grande parte da opinião pública, é sinal de que o assunto é quente na Itália. E, na próxima semana, a temperatura tem tudo para subir ainda mais.

Depois de 25 anos de tentativas, o país tem a sua chance mais concreta de aprovar uma lei que criminaliza atos violentos e discriminatórios contra pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais).

Entre os 27 integrantes da União Europeia, os italianos estão entre as cinco nações que não possuem nenhum tipo de censura contra crimes e discursos de ódio contra a minoria, ao lado de Letônia, Polônia, República Tcheca e Bulgária. No Brasil, na ausência de uma lei anti-homotransfobia, o STF permitiu, em 2019, a criminalização de atos preconceituosos desse tipo.

A situação da Itália pode mudar a partir de terça (13), quando o Senado inicia o processo de apreciação e votação de um projeto que reúne medidas de combate e prevenção da discriminação e da violência por motivo de sexo, gênero, orientação sexual, identidade de gênero e deficiência.

“É a primeira vez que uma lei do tipo consegue chegar para ser discutida nas duas Casas do Parlamento”, diz a advogada Francesca Rupalti, vice-presidente da Rede Lenford, especializada em direitos LGBTI. Em 2013, uma outra proposta de lei foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas, nos anos seguintes, ficou travada no Senado, sem jamais entrar na pauta.

O atual projeto nasceu há cerca de um ano, a partir da junção de cinco propostas –durante a qual foram incluídas mulheres e portadores de deficiência–, e foi aprovado em novembro de 2020 na Câmara, por 265 votos a favor e 193 contrários. Na imprensa italiana, ele é chamado de “DDL Zan”, abreviação de “disegno di legge” (projeto de lei) e leva o sobrenome de seu relator, o deputado de centro-esquerda Alessandro Zan (Partido Democrático).

Depois de tramitar por sete meses na Comissão de Justiça do Senado, em meio a ações de obstrução das legendas de centro-direita, chega de forma inédita ao plenário. São dez artigos que atualizam o Código Penal e a Lei Mancino, de 1993, contra crimes de ódio e incitação ao ódio por motivos raciais, étnicos, religiosos ou por nacionalidade.

As penas vão de prisão de até 18 meses e multa de 6.000 euros (R$ 37,4 mil) para quem incita ou comete atos de discriminação e de até quatro anos para atos de violência.

O texto também cria mecanismos educativos pró-tolerância e institui a realização de pesquisas estatísticas sobre violência e discriminação que incluam os grupos LGBTI. São apenas nove páginas, mas que ocuparam, nas últimas semanas, o centro do debate político e cultural na Itália.

O projeto de lei tem sido duramente criticado pelos partidos de centro-direita e pela Igreja Católica, historicamente contrários a certos aspectos da proposta. O alvo são três trechos, especialmente.

O artigo 1, por incluir a expressão “identidade de gênero” entre as definições de pessoas que passariam a ser protegidas pela lei. Segundo o texto, o termo se refere à “identificação percebida e manifestada de si próprio em relação ao gênero, mesmo se não correspondente ao sexo, independemente de haver concluído o percurso de transição”.

O artigo 4, entendido como um salva-conduto impreciso sobre liberdade de expressão, aquilo que poderia ser punido ou não. E o sétimo, que prevê a criação do Dia Nacional contra a Homofobia, Lesbofobia, Bifobia e Transfobia, em 17 de maio, com atividades que promovem a “cultura do respeito e da inclusão” e o combate à discriminação e à violência, inclusive nas escolas.

Embora o tema tenha sempre frequentado o noticiário nos últimos meses, o clima esquentou de vez no dia 22 de junho, quando o Corriere della Sera publicou um pedido do Vaticano, feito por vias diplomáticas, para que houvesse uma revisão de trechos do projeto. Segundo especialistas, trata-se de algo sem precedentes nas relações entre a Itália e a Santa Sé.

Segundo o documento, o projeto deixa brechas para que a liberdade da igreja seja reduzida. Há o temor de que sacerdotes possam ser punidos caso se manifestem contra o casamento gay, por exemplo, e de que escolas católicas sejam obrigadas a incluir no calendário o dia contra a discriminação.

O governo italiano respondeu de forma incisiva. “Não quero entrar no mérito da questão, mas a Itália é um Estado laico. O Parlamento é livre para discutir”, afirmou o primeiro-ministro Mario Draghi, que é católico praticante.

Já os políticos à direita aproveitaram para subir o tom. “Aceitemos o convite da Santa Sé para elaborar um texto que aumente as penas a quem discrimine dois rapazes que se amam. Mas tiremos a ideologia, o envolvimento das crianças e o ataque à liberdade de expressão”, disse o senador Matteo Salvini (Liga).

Os principais movimentos LGBTI da Itália são contra as mudanças, alegando que o debate já foi realizado na Câmara. Além disso, temem que o projeto possa nunca acabar em votação, já que, se alterado, teria que voltar à Câmara, com o risco de não mais tramitar antes do fim da atual legislatura, até 2023.

“Todas as vezes em que houve a tentativa de aprovação de uma lei desse tipo, o embate sempre esteve ligado à liberdade de opinião. E um dos protagonistas mais importantes nesse ponto é a Igreja Católica, por temer que a lei venha a significar uma mordaça”, diz Gabriele Piazzoni, secretário-geral da Arcigay, principal associação LGBTI da Itália.

“Mas isso não tem nada a ver. A lei, como está escrita, intervém exclusivamente em casos explícitos de violência ou discriminação. Um padre será sempre livre para dizer que, para ele, a família é somente aquela do casamento entre homem e mulher.”

Na última semana, o debate teve outro elemento inflamável. O senador Matteo Renzi (Itália Viva), de centro, surpreendeu ao anunciar que trabalhava com a centro-direita por mudanças na lei, a mesma que o seu partido ajudou a aprovar na Câmara.

Nos bastidores, comenta-se que a proposta é usada como moeda de troca para outros temas legislativos, como a eleição à Presidência da República, prevista para 2022. A escolha do chefe de Estado –atualmente, Sergio Mattarella– é feita pelo Parlamento.

Criado em 2019, o partido de Renzi é pequeno, mas detém 17 votos no Senado, suficientes para definir o futuro da Lei Zan –foi jogando assim que ele ajudou a afundar o governo do ex-premiê Giuseppe Conte, em janeiro. Para passar no plenário, o projeto precisa ser aprovado por maioria absoluta, com 161 votos.

Para Rupalti, da Rede Lenford, outra peculiaridade ajuda a explicar o fato de o país não ter até hoje uma lei anti-homofobia –a crise histórica que afeta a política italiana.

“Tem uma fraqueza da política, na qual as maiorias que apoiam os governos, nos últimos anos, sustentam-se sobre números muito pequenos. Poucos votos podem determinar a aprovação ou não de algo. E, assim, até forças pequenas, como o Itália Viva, têm determinado as escolhas do Parlamento.”

A atuação de Renzi, ex-premiê (2014-2016), acabou por tumultuar ainda mais o debate sobre a Lei Zan. De Milão, a empresária Chiara Ferragni, considerada uma das mulheres mais influentes do país, chamou o político de “nojento” para os seus 24 milhões de seguidores no Instagram, alimentando um bate-boca generalizado entre políticos e famosos nas redes sociais.

“A Itália é o país mais transfóbico da Europa. E o Itália Viva, junto com Salvini, acha que pode brincar com isso”, escreveu Ferragni.

Segundo o instituto Piepoli, no fim de maio 75% dos italianos eram favoráveis às medidas da Lei Zan –20%, contra; 5%, indecisos/não sabiam. Nova sondagem realizada na semana passada, porém, detectou perda de 10 pontos percentuais entre apoiadores da lei, especialmente entre eleitores de centro-direita.

Fato é que na Itália 40% das pessoas LGBTI afirmam sofrer discriminação em seus cotidianos, e 8% já sofreram violência por motivo de ódio, segundo dados de 2020 da Agência para Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA).

De acordo com levantamento da Arcigay publicado em maio, baseado apenas em casos revelados pelos jornais italianos, aconteceram 120 episódios de agressão causada por homotransfobia em 12 meses, um a cada três dias.

“A adoção da Lei Zan daria à Itália a capacidade de reconhecer preconceitos sexistas, homofóbicos e transfóbicos como causas de um crime de ódio. E emitiria uma mensagem poderosa aos agressores de que a sociedade italiana não tolerará tais crimes”, afirmou Katrin Hugendubel, diretora jurídica da Ilga-Europa, Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais.

Além disso, afirma, a lei também contribui para evitar que agentes policiais ignorem a motivação preconceituosa de crimes de ódio, o que acaba por resultar em penas mais altas para os agressores.

Diante da intensidade do debate, analistas evitam dar prognósticos sobre o desfecho da votação. Espera-se, no entanto, que a discussão avance ao menos até quinta (15), para depois ser aberta a fase de apresentação de emendas e, em seguida, começar a votação, que, a depender de pedidos que venham a ser feitos pelos senadores, pode acontecer de forma secreta, facilitando traições de todos os lados.

“Uma coisa é certa, de derrota em derrota, estamos vencendo a guerra. A Itália é um país que mudou muito, as novas gerações nem entendem por que há essa resistência em aprovar uma lei desse tipo. Se não passar agora, seria o enésimo tapa na cara de um pedaço grande deste país”, afirma Piazzoni, da Arcigay.

Por Folhapress

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EUA pede retirada de Israel do Corredor de Filadélfia em Gaza

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O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para que retire as tropas do exército do Corredor de Filadélfia, que fica na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. A medida, segundo publicado pelo site Axios, faz parte de uma fase inicial de um acordo de cessar-fogo para que as negociações possam continuar entre o Hamas e Tel Aviv. 
Netanyahu aceitou parcialmente o apelo de Biden e concordou em desistir de ter uma posição das tropas israelenses ao longo dessa zona da fronteira. 
De acordo também com o jornal do Catar Al-Araby Al Jadeed, a delegação israelense que está no Cairo para negociar um acordo de trégua em Gaza apresentou uma nova proposta para o Corredor de Filadélfia, que prevê uma missão da ONU permanentemente posicionada em vários pontos fixos ao longo da fronteira entre Gaza e Egito para monitorar a região. Além disso, propuseram ainda uma missão da União Europeia (UE) no corredor de passagem que liga Rafah à fronteira do Egito, em conjunto com a Autoridade Palestina.
O Al-Araby Al Jadeed diz que o acordo estabelece também a retirada gradual das Forças de Defesa de Israel (IDF) naquela fronteira.
Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, declarou hoje que o Hamas deve participar de uma nova rodada de conversações, uma vez que a última contou com a participação somente de representantes de Israel e dos países mediadores, Estados Unidos, Egito e Catar.
“Eles estão no Cairo. Precisamos que o Hamas participe e precisamos acertar os pormenores. E é nisso que estamos concentrados aqui nos próximos dias. As negociações têm sido construtivas e contam com algum progresso”, avançou Kirby.
A ocupação militar pelas IDF do Corredor da Filadélfia, que liga a Faixa de Gaza ao Egito, foi um dos impasses junto ao Hamas na última proposta apresentada e que foi recusada pelo grupo.
Foto: ROBYN BECK / AFP
Por: Isabel Alvarez

           

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Bill Clinton convida Lula para evento sobre mudanças climáticas em NY

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton para um evento evento organizado pela Fundação Clinton sobre mudança do clima, que ocorrerá nos dias 23 e 24 de setembro, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.

O convite ocorreu durante ligação telefônica entre os líderes, na tarde desta quinta-feira (22). A conversa durou cerca de 35 minutos, informou o Palácio no Planalto.

Na ligação, Lula estava acompanhado do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, e pela secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha. O presidente reiterou a Clinton o compromisso do governo com a transição energética e com a proteção das florestas, afirmando que pretende apresentar resultados ambiciosos para as COP 29, em Baku, no Azerbaijão, no fim deste ano, e a COP 30, em Belém, no ano que vem. A COP é a Conferência Anual das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Foto Shutterstock

Por Agência Brasil

           

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Base da Otan na Alemanha eleva nível de alerta para “ameaça potencial”

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A base aérea da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na cidade alemã de Geilenkirchen elevou seu alerta de segurança “com base em informações de inteligência indicando uma potencial ameaça”, afirmou o órgão nesta quinta-feira.

“Todos os funcionários essenciais que não estão em missão foram mandados para casa por precaução”, informou a base em comunicado publicado na plataforma de redes sociais X, sem mais detalhes.

“A segurança de nosso pessoal é nossa principal prioridade. As operações continuam conforme planejado.”

Um porta-voz da base em Geilenkirchen afirmou que o nível de ameaça foi elevado para Charlie, o segundo mais alto entre os quatro existentes, definido como: “um incidente ocorrido ou informações de inteligência recebidas, indicando que alguma forma de ação terrorista contra organizações ou pessoal da Otan é altamente provável”.

Colônia

Foi a segunda vez que a base, que abriga a frota de aeronaves de vigilância AWACS, elevou seu nível de segurança, após a ocorrência de um incidente na semana passada, quando uma base militar em Colônia foi temporariamente fechada, com autoridades investigando uma possível sabotagem no fornecimento de água.

No mesmo dia, a base em Geilenkirchen reportou uma tentativa de invasão, causando uma varredura completa de suas instalações.

Sobre a suposta sabotagem em Colônia, o setor militar alemão informou posteriormente que segundo os resultados, a água não havia sido contaminada.

No passado, a Otan alertou sobre possíveis atividades hostis da Rússia, inclusive com atos de sabotagem e ataques cibernéticos. Os russos também acusam frequentemente a organização de ameaçar a sua segurança.

Fonte: Agência Brasil

           

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