O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) criticou desfile da escola de samba Vai-Vai, que levou para o Sambódromo do Anhembi uma ala de integrantes vestidos como policiais com chifres e asas de demônio. “Se eu fosse jurado, daria nota zero no quesito fantasia”, disse o governador nesta quinta-feira (15).
Com um samba-enredo que homenageou os 40 anos de hip-hop em São Paulo, a agremiação criou a ala “Sobrevivendo no inferno” como uma crítica à violência policial contra a população negra na cidade. “Achei de péssimo gosto porque a polícia é uma instituição a que se deve respeito”, disse o governador durante cerimônia de entrega de escola em São Sebastião, no litoral norte. “Esse tipo de deboche não é legal, é ruim, é agressivo, de péssimo gosto. Nota zero para eles”, continuou.
A ala foi batizada com o nome de uma música do grupo Racionais MC’s, que também participou do desfile.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) citou ter recebido um ofício de deputados federais do Partido Liberal (PL), Capitão Augusto e Dani Alonso, ligados às forças de segurança, para pedir punição e corte de verbas públicas à escola. “Até quando, no nosso país, as pessoas continuarão a aplaudir e proteger criminosos, enquanto as vidas de pessoas inocentes são interrompidas e prejudicadas?”, escreveu Capitão Augusto em uma rede social.
Em nota, a gestão Nunes afirmou que a prefeitura tem contrato com a Liga das Escolas de Samba, não com as agremiações. “As escolas seguem o regimento definido pela associação”, informou.
O ofício será encaminhado para a Liga, a qual cabe verificar eventual descumprimento do regulamento interno, segundo a prefeitura.
O Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), representado pela presidente, Jacqueline Valadares, divulgou um manifesto de repúdio ao desfile. Segundo o comunicado divulgado à imprensa, a escola teria tratado “com escárnio a figura de agentes da lei”.
Em nota à reportagem, a escola enfatizou o nome do enredo deste ano: “Capítulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip Hop – Um manifesto paulistano”, destacando que se tratou “de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip-hop e seus quatro elementos -breaking, graffiti, MCs e DJs. Além disso, o desfile buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos”.
Segundo a escola, a ala faz “uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MC’s, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”.
Ainda segundo a agremiação, no recorte histórico da década de 1990, “a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica”.
“O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, afirmou a Vai-Vai na nota.
Foto Getty Images
Por Folhapress
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