Ao todo, 32 jogadores foram convocados por Fernando Diniz nas primeiras duas Datas Fifa, com seis sendo cortados por lesão, além de Antony, que perdeu o posto em meio a uma investigação por violência doméstica. Contando ambas as listas, foram chamados 14 dos 26 jogadores que estavam na Copa do Mundo do Catar com Tite. Em termos de reformulação, dez jogadores que ainda não haviam trabalhado na seleção ganharam chance com o treinador do Fluminense.
CELSO UNZELTE
“Acredito mais em uma reformulação do ponto de vista tático do que de elenco. Em campo, o time já mostrou algumas das ideias do técnico, ainda que apenas contra a fraca Bolívia. Mas fora dele o treinador tem repetido demais as escolhas do Tite, tanto nas convocações (e reconvocações, por conta dos seguidos cortes) quanto na maioria dos nomes chamados. Pesa contra ele, também, a lenta renovação do futebol brasileiro em algumas posições nas quais não há gente que seja ao mesmo tempo nova e fora de série para se chamar, como as duas laterais e o comando do ataque”, diz Celso Unzelte, comentarista da ESPN.
MÁRIO MARRA
“É preciso ser mais flexível. A seleção brasileira não conquistou a Copa, mas vinha jogando bem, com números fantásticos. Alguns jogadores, como Casemiro, Marquinhos, Danilo e Neymar são jogadores muito bons, experientes e referência para os jovens que estão chegando. Ter esses caras ao lado do Diniz pode ajudar a tocar um processo de mudança na seleção. É um passo de inteligência. A mudança tática vai acontecer, e não é porque o Tite era retranqueiro. É uma mudança de conceitos que o Diniz está fazendo”, ressalta o comentarista Mário Marra, da ESPN.
CHEGADA DE ANCELOTTI
A CBF garante que Ancelotti assumirá o comando da seleção em 2024, visando a disputa da Copa América. O treinador, no Real Madrid, desconversa e defende que são apenas boatos – seu contrato com o clube espanhol se encerrará em junho. Ele não poderia assumir publicamente essa condição agora porque tem contrato. Uma eventual continuidade de Fernando Diniz ou um novo trabalho do italiano, com foco para a Copa do Mundo de 2026, pode significar mudanças drásticas nas filosofias da seleção e do projeto da entidade. Ambos não estão conectados.
“Não consigo ver Fernando Diniz como um ‘trabalho-consequência’ – que entregaria um projeto para a chegada de Ancelotti. Cada um tem sua maneira de ver futebol, cada um tem suas ideias. Não consigo enxergar como se o Diniz estivesse construindo algo para que o Ancelotti dê sequência”, aponta Bertozzi.
DINIZ PAVIMENTARÁ CAMINHO PARA ANCELOTTI?
“A ideia de Diniz pavimentar um caminho para o Ancelotti, para mim, não faz sentido. O Diniz é um técnico bastante autoral. Tem técnico fora do País que respeita o Diniz especialmente porque o trabalho dele não é fácil. Você bate o olho e vê que tem algo diferente acontecendo. Se fosse alguém para pavimentar esse caminho seria o Dorival Júnior, porque ele consegue fazer trabalhos diferentes com muita facilidade, até pela experiência. O Diniz é muito particular e se a ideia é pavimentar o caminho para o Ancelotti, é um erro. Mas eu acredito que ele pode, sim, fazer um bom trabalho, e aí ele complica a cúpula da CBF”, destaca Marra.
“Acho que faria mais sentido avaliar até onde o Diniz pode ir, sem a sombra do Ancelotti. Até porque Diniz e Ancelotti pensam o futebol de formas diferentes. Não vejo a estada do Diniz como uma transição de trabalho, mas como uma mera ocupação política do cargo antes do Ancelotti aceitar ou não. O que é péssimo para todo mundo”, diz Unzelte.