A moda das mulheres cortarem os cabelos custou muito para pegar em Belmonte. As primeiras que cortaram os seus cabelos com o consentimento dos pais ou a aquiescência dos maridos foram seriamente criticadas.
A primeira cabeleireira de senhoras que surgiu em Belmonte foi dona Eulália que era esposa do telegrafista Mariano Celecínio Bezerra de Aguiar, que publicou o seguinte anúncio no jornal “A Voz do Sertão” de Triunfo, datado em 22 de novembro de 1925: Belmonte: A senhora Eulália de Aguiar desta cidade, tendo chegado da Capital do Estado, onde esteve estudando, cuidadosamente, os modernos métodos de corte de cabelos femininos “a la garçone”, demí-garçone a Rodolfo Valentino e o “ultrachic”, atualmente, bem como adquirindo aparelhos necessários para a perfeição dos aludidos cortes, oferece os seus serviços pelos seguintes preços: Primeiro corte – 5$000; os demais 3$000 cada. Dona Eulália atendia em sua residência à Rua Grande, onde hoje é casa dos herdeiros de Seu Quinca Donato. Contíguo a casa ficava um salão onde funcionava a sede da estação telegráfica do município de Belmonte.
“A la garçonne” (à maneira do menino) foi um estilo que nasceu na França em 1911, quando o cabeleireiro Antoine de Paris precisou criar uma imagem jovial para a atriz Eve Lavallière. Mas o termo “à La garçonne” só aparece na década de 1920, no romance La Garçonne, de Victor Margueritte, em que a heroína usava cabelos curtos e roupas em estilo masculino, tornando-se símbolo da mulher liberada, ativa e moderna daquela época de guerra na Europa, quando as mulheres foram trabalhar em fábricas e indústrias e houve a necessidade de cortar os cabelos bem curtos. Com franja acima das sobrancelhas, batido na nuca e comprimento na altura das orelhas em linhas retas, foi uma solução que não tirou o charme da mulher. Imortalizado por Louise Brooks, estrela máxima do cinema mudo conhecida por seus romances, sendo o mais famoso com Charles Chaplin, foi usado pelas melindrosas para dançar o Charleston, com vestidos esvoaçantes. Os fios molhados terminando em vírgulas laterais o diferenciava do clássico Chanel 1920.
Palmira Leite Viana (foto acima), filha do farmacêutico e ex prefeito de Belmonte Fausto Ribeiro Viana, foi a primeira jovem belmontense que cortou o cabelo “a la garçonne” em Belmonte. Foi criticada.
Valdir José Nogueira de Moura
Colunista de cultura do Blog do Silva Lima